Cidades

Mães de desaparecidos em Luziânia temem que greve de delegados de Goiás atrapalhe a apuração do caso

Senado cobra respostas das polícias Civil e Federal

Naira Trindade
postado em 25/03/2010 08:45
As mães foram ontem à Comissão dos Direitos Humanos do SenadoDepois de 85 dias sem dar respostas às mães dos adolescentes desaparecidos em Luziânia, os delegados da Polícia Civil de Goiás entram em greve(1) e podem comprometer as investigações sobre o mistério que envolve o sumiço dos jovens. Ontem, cansadas de conviver com a ausência de notícias dos filhos, as seis mães participaram de uma audiência pública com policiais civis e federais, senadores e deputados na Comissão dos Direitos Humanos (CDH) do Senado. Elas cobraram mais emprenho dos investigadores. Convidados, o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e o secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, não compareceram à audiência agendada desde a semana passada.

Choros e cobranças marcaram o início do encontro, que começou às 10h30. A pedido do senador Cristovam Buarque ( PDT-DF), as mães relataram as dificuldades, tristezas e perdas sofridas após o desaparecimento dos filhos. A servidora pública Sônia Vieira Azevedo Lima, 45 anos, mãe de Paulo Victor, 16, desaparecido desde 4 de janeiro, não conteve as lágrimas. ;É muito triste pensar no que estão fazendo com nossos filhos, se estão sendo maltratados e se estão passando por necessidades;, lamentou. ;Tive que voltar a trabalhar, mas minha produção caiu 50%;, completou a contadora Valdirene Fernandes da Cunha, 36, que não vê o filho Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14, desde a manhã de 18 de janeiro.

As indagações levantadas pelos integrantes da comissão permaneceram sem respostas. Justificando que a investigação corre em segredo de Justiça, os delegados Josuemar Vaz de Oliveira, do Departamento Judiciário de Goiás, e Hellan Wesley de Almeida, da Superintendência da Polícia Federal, alegaram não poder esclarecer as dúvidas. Mais uma vez, nenhuma hipótese foi descartada. A polícia trabalha com suspeita de trabalho escravo, tráfico de pessoas e órgãos, ritual de magia, homicídio e ação de grupos de extermínio.

Hellan Wesley ressaltou que a PF entrou no caso após 58 dias do primeiro desaparecimento. ;Leva-se tempo para recompor o trajeto, refazer os últimos passos. Adiantar as linhas de investigação é inviável, pois comprometeria todo o trabalho realizado até agora. Não se pode falar em extermínio ou tráfico de órgãos sem apresentar os indícios.; Josuemar Vaz acrescentou que os desaparecimentos estão envoltos a um grande mistério. ;Até hoje não tivermos nenhuma informação segura. Não podemos trabalhar com especulações.;

Apelo
Com medo de a greve afetar o trabalho dos investigadores e perdurar ainda mais o sofrimento das mães, Cristovam Buarque apelou para que os delegados de Luziânia não cruzem os braços e continuem na luta para desvendar os sumiços. ;Não estou satisfeito com as investigações das polícias Civil e Federal. Peço que os delegados não parem as investigações em razões da greve. Seria uma maldade com essas mães.; O secretário Ernesto Roller não retornou as ligações do Correio. Já o ministro da Justiça disse que não foi à reunião porque receberia a visita da rainha da Suécia, Silvia Renata de Toledo Sommerlath.

1 -
Reivindicações
Os delegados de Goiás cruzam os braços por tempo indeterminado. Sem aumento nos últimos cinco anos, eles pedem que o governo volte, pelo menos, a dialogar sobre uma futura reposição salarial. O percentual necessário para recompor os anos sem reajuste seria de 30%, segundo o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de Goiás (Sindepol), Wilson Luís Vieira. Um delegado em início de carreira recebe R$ 8,5 mil. Com o aumento, a remuneração inicial subiria para aproximadamente R$ 11 mil.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação