Cidades

Jovens brasilienses concordam parcialmente com a aplicação da lei seca

É o que revela uma pesquisa do Dentran, que mostra, ainda, o pouco uso do equipamento de segurança no banco de trás

Adriana Bernardes
postado em 25/03/2010 08:48
Marcela e Thiago confirmam resultado da pesquisa: sem cintoO jovem raramente usa o cinto de segurança no banco traseiro. E, apesar de 88,5% concordarem com a proibição de dirigir alcoolizado, mais da metade deles, 55%, não se importam de pegar carona com o amigo que bebeu antes de pegar o volante. Os dados são da pesquisa A balada, o carona e a lei seca, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), feita com jovens de seis capitais brasileiras, entre elas Brasília.

De acordo com o estudo, a contradição entre o que os futuros motoristas pensam da lei seca e o que fazem na prática revela a incapacidade dos jovens de intervir em uma situação com a qual não concordam. Os pesquisadores ouviram 868 adolescentes de Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Recife e Porto Alegre. Os questionários foram aplicados durante o ciclo de palestras do projeto Trânsito Consciente, do Denatran, de 8 de outubro a 13 de novembro de 2009, em escolas das redes pública e privada de ensino.

Entre os jovens, 84,9% afirmam conhecer a lei seca ; Lei n; 11.705/2008 ; e a maioria concorda totalmente com a sua aplicação. Entre todas as capitais, Brasília teve o menor percentual de aprovação total da lei (51%). Em Curitiba, o índice de concordância é de 72,5% e, entre os mineiros, o percentual é de 68,7%.

A reportagem conversou sobre o tema com um grupo de sete amigas, em um shopping da cidade. Quatro delas concordam plenamente com a proibição de beber e pegar o volante em seguida. Outras três aprovam com ressalvas. ;A lei seca foi importante porque reduziu os acidentes de trânsito e aumentou a fiscalização;, ressalta Ludmila Lima, 19 anos. Apesar disso, a jovem diz que voltaria de carona com alguém que tivesse bebido ;só um pouquinho;.

É o que revela uma pesquisa do Dentran, que mostra, ainda, o pouco uso do equipamento de segurança no banco de trásO estudo também confirma o que alguns especialistas já suspeitavam: os órgão de trânsito têm falhado nas ações educativas. Seis em cada 10 jovens não se lembram de nenhuma campanha recente. Resultado: a maioria, 53,3% dos entrevistados, não mudou nenhuma atitude no trânsito por conta de campanhas educativas. ;Eu não acredito que propaganda faz alguém mudar de comportamento. Sem falar que quase nunca tem campanha de trânsito;, criticou a estudante Fernanda Costa, 17 anos.

O resultado da pesquisa revela parte do desafio que os órgãos de trânsito têm pela frente. A coordenadora de Educação do Denatran, Juciara Rodrigues, diz que no ano passado o Ministério das Cidades, por meio do Denatran, investiu R$ 120 milhões em campanhas. ;Devemos nos questionar se esse recurso foi bem utilizado no sentido de expressar um conteúdo significativo para o jovem;, diz. Além disso, Juciara defende que os pais precisam rever os conceitos de segurança. ;Buscar na balada e não orientar o filho a usar o cinto no banco de trás é incoerente;, alerta. Além disso, ela destaca que o tema precisa ser tratado com mais frequência nas escolas.

Perigosa falta de hábito
O uso do cinto de segurança no banco traseiro é raro entre os futuros condutores. Apenas dois em cada 10 jovens sempre usam o equipamento quando estão no banco de trás do veículo. Já 30,7% dos entrevistados admitem que nunca atam o cinto quando estão na condição de carona. Quase metade deles, 47,7%, às vezes colocam o equipamento.

Os estudantes Marcela Leal e Thiago Ribeiro, ambos de 18 anos, confirmam a falta de hábito revelada na pesquisa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). ;No banco de trás, eu acabo esquecendo e nunca uso. É desconfortável. Na frente, sempre coloco porque acho mais perigoso;, argumenta Thiago. ;Sei que tem de usar, mas dificilmente lembro. Acho que é falta de hábito;, avalia Marcela.

Apesar de muitos ainda ignorarem o uso do equipamento, os jovens de Brasília são mais cuidadosos. Aqui, 39,4% dos ouvidos na pesquisa asseguraram que sempre usam o cinto no banco de trás. Florianópolis registrou o índice mais preocupante: 48% nunca utilizam o item de segurança obrigatório. Os jovens também foram ouvidos sobre o comportamento dos amigos em relação ao cinto. O resultado apontou que apenas 6,4% dos colegas sempre fazem uso do dispositivo.

Apesar de aprovar a lei, Ludmila (primeira à direita) diz que pegaria carona com amigo que bebeu O percentual, bem abaixo do obtido quando os adolescentes falavam do próprio comportamento, levou os pesquisadores a acreditar que ;é muito mais provável que o uso efetivo do cinto por todos se aproxime desse número insignificante. Várias outras pesquisas nacionais demonstram que mais de 90% dos passageiros brasileiros nunca usa o equipamento no banco traseiro;.

Das sete amigas com quem a reportagem conversou sobre os três temas abordados na pesquisa, seis admitiram usar o cinto só de vez em quando. Uma delas disse que nunca usam o equipamento quando anda atrás. Ludimila Lima, 17 anos, faz parte do grupo que só coloca o cinto de vez em quando. ;Não sei dizer por que não uso. Acho que incomoda um pouco e, talvez seja só a falta de costume;, pondera.

Coordenadora de Educação do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Juciara Rodrigues acredita que o mau hábito constatado pela pesquisa ; de ignorar o cinto de segurança no banco de trás ; revela a falta de consciência das pessoas sobre a importância do equipamento para salvar vidas. ;Há décadas se fala sobre o cinto. Mas o ser humano acha que nunca vai acontecer com ele. E ainda existe a cultura equivocada de que, se acontecer alguma coisa, ele ficará preso dentro do carro;, destaca.

No entanto, Juciara Rodrigues lembra que além de perder a vida, o passageiro que não usa o cinto ainda pode matar quem está na frente e usa o dispositivo de segurança. O assunto é tão sério que a Coordenação de Educação encaminhou uma nota técnica ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran) pedindo que a Semana Nacional do Trânsito de 2010 tenha como tema o uso do cinto de segurança. ;Será uma oportunidade para focarmos o trabalho, durante todo o ano, em projetos e em campanhas para mostrar a importância de se mudar esse comportamento;, completa.

"Há décadas se fala sobre o cinto. Mas o ser humano acha que nunca vai acontecer com ele"
Juciara Rodrigues, coordenadora de Educação do Denatran

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