Cidades

Resto de óleo de cozinha abastecerá frota da Caesb

O projeto quer evitar a poluição de mananciais e reduzir os gases de efeito estufa

postado em 26/03/2010 08:38
Gidalva produz sabão com o óleo coletado dos vizinhos no VarjãoDespejar óleo de fritura pelo ralo se tornou péssimo hábito de muitas pessoas na capital do país. Cerca de 12 milhões de litros de óleo são jogados todos os anos na rede de esgoto do Distrito Federal. Essa quantidade é suficiente para poluir 240 trilhões de litros de água, ou seja, um volume correspondente a 428 lagos Paranoá. Na expectativa de reduzir os impactos ambientais e os gastos com desentupimento de tubulação, a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) lançou ontem o chamado Projeto Biguá-Diesel. A ideia é promover um verdadeiro mutirão de coleta de óleo em casas, escolas, hotéis, bares e restaurantes. Todo o volume coletado será levado para uma usina de produção de biodiesel, prevista para ser construída dentro de cinco meses com recurso não reembolsável da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A obra está calculada em R$ 2,5 milhões.

A maior concentração de óleo despejado está no Plano Piloto, com um descarte de aproximadamente 25 mil litros por mês. Segundo o superintendente de Recursos Hídricos da Caesb, Fernando Starling, a obstrução da tubulação impõe gastos desnecessários. ;Ela pode comprometer o funcionamento da estação de tratamento de esgoto e aumentar em até 60% os custos operacionais da companhia com a limpeza dos canos.; Com a produção de biodiesel, o prejuízo poderá ser revertido em abastecimento de parte da frota de 600 veículos da Caesb que hoje utiliza cerca de 2 mil litros de diesel por dia, ou seja, um gasto de R$ 120 mil por mês.

Além dos efeitos econômicos e da redução da emissões de gases de efeito estufa, a expectativa é que a coleta de óleo seja ainda fonte de renda para as comunidades carentes. Há dois anos, o projeto vem sendo desenvolvido no Varjão, onde 50 mulheres aprenderam a transformar o óleo em sabão. O novo emprego trouxe ânimo para Gidalva Silva de Jesus, 47 anos. O salário que ela ganhava como doméstica não dava para sustentar os nove filhos. Em 2007, ela resolveu aprender a fazer sabão para vender e não parou mais. Deu tão certo que Gidalva conseguiu abrir uma cooperativa no Varjão e chegou a vender 100 barras em um dia ao preço entre R$ 1 e R$ 1,50. ;Antes eu jogava o óleo fora, mas agora eu guardo tudo e saio recolhendo na casa dos vizinhos;, contou.

Para que o projeto saia do papel, Caesb, Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) assinaram ontem um termo de cooperação. Nos próximos dias, a maioria dos estabelecimentos comerciais, administrações regionais, escritórios da Empresa de Assistência e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater) e shoppings receberá galões para a coleta de óleo. A pessoa que entregar óleo não receberá nada por isso. Mas a intenção é de, posteriormente, remunerar as grandes quantidades e reverter o ganho às entidades sociais.

Até agora, 14 restaurantes e bares do Plano Piloto abraçaram a ideia e estimulam seus clientes a participar do projeto. ;É uma oportunidade de provar que a consciência dos donos de bares está mudando;, acredita o presidente do Sindhobar, Clayton Machado. Os estabelecimentos receberão um certificado como reconhecimento da iniciativa socioambiental. Todos os 88 pontos de tratamento de esgoto da Caesb também receberão galões. ;É um projeto que todos deveriam participar porque vai ao encontro dos interesses econômicos, sociais e ambientais;, avaliou Fernando Starling.

O projeto quer evitar a poluição de mananciais e reduzir os gases de efeito estufa

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