postado em 26/03/2010 09:20
Na mão, uma lata de spray. Na cabeça, um mundo de ideias próprias dos adolescentes. O vandalismo deu lugar à arte do grafite no Centro de Ensino Fundamental n; 4 do Gama. Por meio da técnica, os alunos encontraram uma maneira de acabar com as pichações e melhorar a aparência da escola. Em parceria com dois grupos de grafiteiros ; o Ideia Forte Crew e o Força Tarefa ; 45 meninos e meninas cobriram o muro de entrada do colégio com desenhos que falam de música, amor, paz, meio ambiente e do aniversário de 50 anos de Brasília.A ideia de levar o mundo do grafite para o ambiente escolar surgiu a partir da observação do comportamento de alguns estudantes da instituição. Os orientadores educacionais Neilan Costa e Rosemary Cavalcante encontraram na iniciativa uma forma de resolver alguns conflitos existentes no CEF 4 do Gama. ;Nós detectamos que alguns alunos estavam pichando as paredes e o teto do colégio;, diz Neilan. Do total de envolvidos no projeto, 15 adolescentes foram chamados porque estavam envolvidos com grupos de pichadores fora da escola. A partir daí, eles participaram de conversas e palestras sobre o tema e assistiram a alguns vídeos para entender o que é o grafite.
Para poder colocar em prática a iniciativa dos orientadores educacionais do CEF 4, o colégio recebeu neste ano uma verba do Plano de Desenvolvimento Escolar para reformar a escola. Na oportunidade, eles incluíram na lista de material a compra de tintas para realizar o projeto. Antes de partir para os desenhos, os 45 alunos preparam o muro para receber o grafite. Eles pintaram toda a extensão de tinta branca e tamparam as antigas pichações. Os estudantes fizeram o que na gíria dos grafiteiros é conhecido como a ;lavagem do muro;. Mas, no dia seguinte, ao chegar na escola, se depararam com novas pichações por cima da tinta. ;Essa situação causou uma revolta muito grande nos alunos e despertou neles o mesmo sentimento de alguém que tem a casa pichada;, acredita Neilan.
O vandalismo atrasou o trabalho dos alunos, mas não tirou a vontade de aprender dos adolescentes. A estudante da 5; série do ensino fundamental Raquel Pereira Soares, 12 anos, viu na atividade uma oportunidade para fazer o que gosta: desenhar. ;Eu costumava olhar os cadernos dos meninos da minha sala e copiava os desenhos;, conta a menina. Ela aprendeu algumas técnicas com os grafiteiros e se lembra, com orgulho, da sua contribuição. ;Toda vez que eu passar pela escola vou lembrar que eu ajudei a fazer. Tinha vergonha de ver o colégio daquele jeito;, ressalta a menina, ao olhar para o muro colorido.
Interesse
Diego Roberto Pereira Sagas, 15 anos, faz parte do Programa de Aceleração de Aprendizagem do CEF 4 e começou a se interessar pelo grafite no ano passado, quando assistiu a vídeos sobre a atividade na instituição. ;Desenhava no caderno durante as aulas e comecei a me interessar. Vi que eu tinha jeito para isso;, anima-se o menino, que pretende seguir carreira e ganhar a vida com o grafite.
O também estudante da Turma de Aceleração do CEF 4 do Gama Flaynesson das Mercedes Lima Castelo Branco, 15 anos, usou a parede do quarto para mostrar o talento a quem entrasse no cômodo. Ele conta que a mãe apoiou a ideia e o incentivou a procurar alguns cursos sobre a atividade. ;Desenho desde pequeno. Acho que o grafite é uma arte;, conta o menino, que encontrou na arte uma forma de se expressar. Ele conta que aprendeu algumas técnicas com os grafiteiros como, por exemplo, esboçar os desenhos e não deixar o traço de tinta escorrer.
Alain Oliveira da Silva, 25 anos, trocou as pichações nas ruas da cidade pela arte do grafite. Hoje, desenha por diversão. Mas a habilidade não vem desde a infância. ;Não tinha nenhuma noção de desenho até ver a primeira edição da revista Rap Brasil, quando comecei a copiar os primeiros desenhos;, lembra. Logo ele começou a desenvolver criações próprias. O grupo de grafiteiros do qual faz parte, Ideia Forte Crew, resolveu se juntar por acaso. Hoje, os amigos trabalham para tirar os jovens do mundo das pichações. ;A gente acaba conseguindo a confiança deles;, orgulha-se.
Para saber mais
Onde tudo começou
A palavra grafite tem origem na Itália e significa escritas feitas com carvão. Na Roma antiga, os habitantes protestavam, divulgavam leis e acontecimentos públicos nas paredes das construções da cidade. Em meados do século passado, alguns jovens de Nova York recuperaram essa forma de se expressar, mas trocaram o carvão pelas tintas em spray. Até hoje há quem confunda a arte urbana com vandalismo.