Cidades

Queda nas mortes em acidentes é atribuída principalmente à lei seca

Em 2009, 424 pessoas perderam a vida nas pistas do DF, número 7% menor que o de 2008

Adriana Bernardes
postado em 26/03/2010 11:54
Em 2009, 424 pessoas perderam a vida nas pistas do DF, número 7% menor que o de 2008A noite de 23 de maio de 2009 foi um marco para a família Martins. Invertendo a ordem natural da vida, a dona de casa Cleusa Martins, 48 anos, viu a neta Yasmin, de apenas 5 anos, dar o último suspiro após ser atropelada em Taguatinga. Inconsolável, a filha de Cleusa, e mãe da garotinha, mudou-se para Portugal com a outra filha. ;Perdi três vezes: a Yasmin morreu e agora convivo com a distância das duas;, lamenta Cleusa. Em 2009, outras famílias experimentaram dor semelhante. A violência no trânsito do Distrito Federal tirou a vida 424 pessoas. Entre tantas tragédias, uma boa notícia: o número de vítimas está em queda há três anos consecutivos, apesar de a frota(1) de veículos crescer dia a dia.

Os dados estão no Boletim Anual de Acidentes que o Departamento de Trânsito (Detran) acaba de concluir. O balanço revela que houve queda de 7% no registro de mortos ao longo de 2009 na comparação com 2008, quando 456 pessoas perderam a vida. O índice de mortos por 10 mil veículos também reforça a tendência de queda. O apurado em 2009 foi o menor da história: 3, 7 mortes para cada grupo de 10 mil carros. Em 2008, o índice ficou em 4,4 e, em 1999, o mais alto dos últimos 11 anos, 8,4 (veja quadro).

Na avaliação do diretor-geral do Detran, José Antônio de Araújo, a redução da violência no trânsito se deve especialmente à intensificação das blitzes após a Lei Federal n; 11.705/08, a lei seca. ;É como se agíssemos na ferida do problema. Quanto mais fiscalizamos o condutor alcoolizado, mais temos a redução das mortes. O DF conseguiu manter as operações e estamos vendo os reflexos agora;, analisa.

Segundo Araújo, desde que a lei seca entrou em vigor, os agentes do Detran e do Batalhão de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar (BPTran) autuaram 11.376 condutores. Desse total, 2.750, ou 24%, acabaram presos. Além do aumento da Operação Lei Seca, Araújo afirma que, no último ano, a presença dos agentes nas vias foi mais intensa. ;Também melhoramos a sinalização. Esse conjunto de ações ajudou a salvar vidas;, acredita.

Pedestres
O ano de 2009 também foi mais seguro para o pedestre. No período analisado, 115 perderam a vida. É o menor número dos últimos 11 anos e representa uma queda de 26,7% em relação a 2008. ;Os totens (semáforos para pedestres) nos locais com fluxo intenso de carros e pedestres ajudaram muito. Também começamos a lavar as faixas para torná-las mais visíveis. Vamos intensificar essas duas ações este ano;, adiantou Araújo.

Mesmo com a redução do número de vítimas, a meta do Detran é concentrar as campanhas educativas sobre os pedestres. ;É preciso fazê-los entender que o sinal de vida corresponde ao sinal amarelo no semáforo. Ao abanar a mão, eles precisam dar tempo para o motorista parar;, diz o diretor-geral do Detran.

O risco de morte entre os motociclistas também caiu. Foram 87 vítimas em 2009 contra 89 em 2008. No ano passado, 13.827 novas motos passaram a circular pelas vias do DF. Elas representam 10,6% do total da frota. A cada três acidentes fatais no DF, um envolve motociclista. Para frear o número de mortes nessa categoria, o Detran adotou as blitzes exclusivas para eles desde o fim do ano passado. ;Tiramos das ruas pessoas sem habilitação e motos em condição inadequadas de circulação. Eles (motociclistas) também se organizaram. Adotaram o uso do colete e, com isso, tornaram-se mais visíveis no trânsito;, enumera Araújo.

O alerta vai para os passageiros e demais condutores. Essas foram as duas únicas categorias de vítimas em que se constatou aumento das mortes. O número de passageiros que perderam a vida nas pistas subiu de 74, em 2008, para 94, em 2009, ou 27% a mais. A quantidade de vítimas na categoria ;demais condutores; passou de 81 para 86 no mesmo período. Uma das explicações é a falta do cinto de segurança, especialmente no banco traseiro.

O departamento de estatística do Detran apurou que, das 424 pessoas que perderam a vida, pelo menos 18 foram arremessadas para fora do veículo. Esse é um forte indício de que a vítima trafegava sem o equipamento de segurança. Estima-se que pelo menos 90% dos caronas do banco traseiro ignoram a necessidade do cinto. Pesquisa recente do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), publicada na edição de ontem do Correio, revela que, entre os jovens, 30,7% nunca usam o equipamento. O levantamento ocorreu em seis capitais brasileiras, entre elas, Brasília.

1 -
Em crescimento
Em dezembro de 2009, tinham 1.138.127 veículos registrados no DFl. O número é 8,74% maior que em 2008.

O número
14 mil

Número aproximado de motos que entraram em circulação no DF em 2009

José Antônio de Araújo, diretor do Detran: cerco ao condutor alcoolizado

Em 2009, 424 pessoas perderam a vida nas pistas do DF, número 7% menor que o de 2008

O que diz a lei
A lei seca entrou em vigor em 20 de junho de 2008. A partir dessa data, dirigir alcoolizado com índice igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões passou a ser considerado crime. O infrator flagrado nessa condição é levado para a delegacia. É liberado após pagamento de fiança, que varia entre R$ 600 e R$ 2 mil, e passa a responder a um processo criminal. Além disso, responde administrativamente perante o Detran com o pagamento de multa de R$ 957, suspensão da carteira por um ano, e com a perda de sete pontos na habilitação. As punições administrativas são aplicadas a todos os flagrados com até 0,29 miligrama de álcool por litro de ar nos pulmões. (AB)

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