postado em 29/03/2010 09:09
Ontem, Ceilândia estava em festa. Afinal, no dia anterior, a cidade completou 39 anos. Cerca de 10 mil pessoas, segundo as estimativas da organização, participaram dos eventos que se desenrolaram durante toda a manhã de domingo. Os moradores se encontraram no Ceilambódramo, onde as principais atividades foram organizadas. Sem violência e com muita animação, alguns gritavam: ;Viva Ceilândia!”.A comemoração começou às 8h, com a concentração dos participantes da festa. Logo às 9h, houve a largada da Corrida do Coração, na qual cerca de 3 mil pessoas estavam inscritas. Assim que todos os pelotões já haviam iniciado a disputa, por volta das 9h30, os moradores que foram assistir ao desfile cívico se organizaram nas arquibancadas e grades que cercavam o local. ;Sempre que fazem uma festa para comemorar Ceilândia, eu participo e trago meus dois filhos para conhecer a comunidade;, revela o auxiliar de mecânico Ailton Francisco Rocha, 38, há 13 anos residente da cidade.
Eram três mil pessoas desfilando. Entre elas crianças, idosos e adultos que vieram de 40 escolas públicas e privadas de Ceilândia e de 20 entidades atuantes da comunidade local. O Corpo de Bombeiros Militar cedeu a sua banda marcial para animar quem se apresentou pela passarela. A música também ficou sob a responsabilidade de duas escolas de Ensino Médio e da Bateria Nota Show, da escola de samba local. ;Acho legal essas iniciativas porque criam atividades para as pessoas. Assim, tiram o pessoal das drogas;, argumenta a doméstica Margarida Maria da Silva, 34.
Os meninos e meninas da Associação Liukan, que ensina artes marciais gratuitamente para crianças da comunidade, estavam entre os que mais arrancaram palmas da arquibancada. Para conquistar o público, fizeram movimentos com armas típicas do caratê vestidos com quimonos brancos. ;Há dez anos participamos do desfile, é o momento para a gente mostrar para a comunidade o trabalho que fazemos com as crianças de Ceilândia;, argumenta o professor, Severino da Silva.
A festa custou R$ 15 mil. ;O povo de Ceilândia é muito ativo na comunidade e, por isso, resolvemos fazer uma festa para celebrar os moradores;, contou o administrador regional, Renato Santana. Ele acrescentou que optou por fazer uma comemoração pequena, sem grande atrações culturais, porque o dinheiro que seria gasto com grandes nomes da música seria melhor empregado na revitalização do asfalto da cidade.
Algumas autoridades resolveram participar da festa, como a ex-deputada distrital Luzia de Paula e o senador Adelmir Santana. ;Ceilândia é uma das cidades mais importantes de Brasília. Tem um número importante de comerciantes e líderes comunitários. Tinha que vir comemorar com os moradores;, justificou Santana.
Em meio aos políticos e moradores, tudo acabou em bolo. Por volta das 11h, serviram o doce com glacê branco e azul e 1 metro de comprimento. Além disso, foram distribuídos mais de 3 mil pedaços para quem ainda estava por lá. A festa foi finalizada com um ;parabéns pra você; que se ecoou por todos os cantos do Ceilambódramo.
Eu fui;
;Me considero a primeira criança nascida em Ceilândia. Meu pai é pastor Avelino, pioneiro de Brasília e foi quem ajudou a criar a cidade. Eu tinha que vir participar da festa porque eu faço parte da história daqui. Vi as casas e prédios nascerem do zero, vi as pessoas se desenvolverem. Fico feliz de ver que os moradores da comunidade não usam suas residências apenas como dormitório, Ceilândia tem vida própria: comércio, escolas e emprego;
Amauri Coelho, 39 anos
Amauri Coelho, 39 anos
Saiba mais;
Eleitorado de peso
Ceilânda surgiu em consequência de um problema social. Nove anos após a fundação de Brasília, havia um grave problema de favelização na nova capital. O então governador, Hélio Prates, incomodado com a condição de quase 80 mil brasilienses, criou a Campanha de Erradicação das Invasões ; CEI. Em 1971, foram demarcados 17.619 lotes de 10x28m. O Secretário Otomar Lopes Cardoso deu à nova localidade o nome de Ceilândia, inspirado na sigla CEI. Foi em 27 de março de 1971 que Hélio Prates lançou a pedra fundamental criando a nova cidade. O projeto urbanístico é de autoria do arquiteto Ney Gabriel de Souza: dois eixos cruzados em ângulo de 90 graus, formando a figura de um barril. Aos poucos a cidade foi se desenvolvendo. Transporte, luz e asfalto demoraram a chegar. Mas, em nove meses, a transferência das famílias estava concluída. Em 1975, um decreto criava a Administração de Ceilândia, mas ainda vinculada a Taguatinga. Foi apenas em 25 de outubro de 1989 que a Lei n; 11.921 criou a nova Região Administrativa do Distrito Federal. Hoje, a cidade tem cerca de 600 mil moradores e é o maior colégio eleitoral do Distrito Federal. É um importante reduto econômico e político para Brasília.