Cidades

Primeiro desaparecimento completa três meses em Luziânia

Primeiro dos seis desaparecimentos de jovens do Parque Estrela Dalva ocorreu em 31 de dezembro. Polícias Civil e Federal continuam com as mesmas cinco linhas de investigação, sem novidades

postado em 31/03/2010 07:05


Eu comprei um computador para ele. Meu filho queria aprender a manuseá-lo
<i>Aldenira Alves de Sousa, ao revelar que o filho Diego concluiria hoje um curso de informática</i>Se Diego Alves Rodrigues, 13 anos, não estivesse desaparecido, teria concluído, hoje, o curso de informática em uma escola profissionalizante de Luziânia ; cidade que fica a 66km de Brasília. A duração do aprendizado era de três meses, coincidentemente o mesmo tempo em que o adolescente saiu de casa e nunca mais voltou. Depois dele, a polícia goiana admite que, pelo menos, mais cinco jovens do município sumiram de um mesmo bairro, o Parque Estrela Dalva, em menos de um mês. ;Eu comprei um computador para ele. Meu filho queria aprender a manuseá-lo;, explica a mãe, Aldenira Alves de Sousa, 51.

Desde que Diego desapareceu, em 30 de dezembro de 2009, Aldenira usa apenas duas blusas, ambas estampadas com o rosto do filho. ;Enquanto uma (camiseta) seca, visto a outra;, explica, em tom de descontração. Mas logo fecha o semblante ao se lembrar do drama vivido pelo falta de notícias do filho: ;A gente tem medo de o caso cair no esquecimento;, pondera.

Somente depois de 16 dias do sumiço de Diego é que as autoridades policiais de Luziânia abriram o primeiro inquérito policial. A demora custou à população outros três casos semelhantes: os de Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16 anos, de George Rabelo dos Santos, 17, e de Divino Luiz Lopes da Silva, 16. Mas não demorou e outros dois jovens tiveram o mesmo destino: Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14, e Márcio Luiz de Sousa Lopes, 19. Então, um novo inquérito teve de ser instaurado no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) para investigar as duas novas denúncias de desaparecimento.

Impacientes com a demora para achar os filhos, as mães dos seis desaparecidos foram para Goiânia em 26 de janeiro. Lá, encontraram o secretário de Segurança Pública do estado de Goiás, Ernesto Roller. O titular da pasta prometeu atenção total a elas e refutou a necessidade da entrada da Polícia Federal no caso. Entre as medidas anunciadas por ele, na ocasião, havia a afirmação de que haveria um delegado para cada caso. ;Isso está apenas no papel. Na prática, não funciona;, afirma o promotor de Justiça de Luziânia, Ricardo Rangel.

Apesar da fragilidade e do pouco recurso disponível, as mães não desanimaram e mudaram o trajeto da peregrinação para Brasília. Elas queriam a entrada da Polícia Federal no caso. A decisão de Goiás em aceitar a ajuda dos federais ocorreu na segunda viagem delas à capital federal: em 9 de fevereiro. Mas a PF só começou a trabalhar quatro dias depois do encontro delas com o então ministro da Justiça, Tarso Genro. Ou seja, os agentes da PF só se juntaram às investigações 44 dias depois de Diego sumir. ;Leva-se tempo para recompor o trajeto, refazer os últimos passos;, explicou o delegado da Superintendência da PF, Hellan Wesley de Almeida, durante audiência na Comissão dos Direitos Humanos do Senado, em 24 deste mês.

Depois de três meses do primeiro desaparecimento, as linhas de investigação da PF e da própria Polícia Civil de Goiás continuam as mesmas: trabalho escravo, tráfico de pessoas e órgãos, ritual de magia negra, homicídio e ação de grupos de extermínio. Diante de tamanha imprecisão nas respostas fornecidas pelas autoridades policiais, a servidora pública Sônia Vieira Azevedo Lima, 45 anos, já admite que o próximo aniversário de desaparecimento deve ser o do filho dela: Paulo Victor, que foi o segundo a sumir, em 4 de janeiro. ;Gostaria de encontrá-lo antes desse dia.;

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