Luiz Calcagno
postado em 02/04/2010 08:30
Muros de escola, placas de trânsito e de endereços, paradas de ônibus, marquises e até obras de arte: pouca coisa escapou das pichações em Sobradinho. A cidade, onde a grafitagem e as artes plásticas serviram como forma de combate à depredação, hoje está manchada de preto. A população trava uma luta contra os vândalos, que escrevem nomes e frases nas paredes. Moradores e comerciantes pintam os muros, os pichadores estragam e não adianta pintar em cima. De acordo com a Polícia Militar, a maior parte deles é menor de idade e está envolvida com gangues.O funcionário do Hospital de Base Vilmar Gomes, 51 anos, morador da Quadra 1, já se rendeu. Desistiu de pintar o muro salmão em frente de casa e vai deixá-lo do jeito que está. Foram quatro tentativas de deixar a fachada bonita somente este ano. Ele conta que o vizinho derrubou o muro e colocou grades para fugir dos pichadores. ;Quem faz isso, em geral, é menor. Isso é falta de pai e mãe. Para coibir essa atitude, precisamos de leis mais severas;, protestou.
A frase na parede lateral da Imobiliária Brito, na Quadra 2, diz: ;Aplausos para o bom ladrão;. O local também já passou por diversas pinturas. Uma funcionária do estabelecimento, a auxiliar de escritório Raquel Vieira, 29, contou que os patrões pensam em cobrir a sujeira novamente, embora suspeitem que em pouco tempo estará tudo pichado mais uma vez. ;Isso é falta de consciência. É preciso educar ou punir quem faz isso. Mudar a mentalidade das pessoas;, analisa.
No primeiro semestre de 2009, a Administração Regional de Sobradinho cedeu as paradas de ônibus para artistas plásticos e grafiteiros do programa Picasso Não Pichava(1), da Secretaria de Segurança Pública. Paisagens e artes descoladas enfeitaram os pontos. Mas as gangues não respeitaram e assinaram em cima. A professora Adriana Santana de Morais, 43, lamenta a atitude. ;Sobradinho está horrivelmente pichada. É vandalismo e falta de educação. Quem faz esses estragos geralmente fica impune. As paradas estavam tão bonitas, mas já estragaram;, reclamou.
Combate tímido
O administrador de Sobradinho, Alexandre Yanez, garantiu que a instituição faz o possível para amenizar as pichações. Para ele, é preciso que a Polícia Militar também aperte o cerco contra as gangues que sujam as paredes e muros da cidade. ;A pichação depreda o patrimônio. E o problema é bem maior do que parece. Eles começam pichando, mas isso pode desencadear algo pior. É demarcação de território. Dá briga, dá roubo para sustentar a prática;, avaliou.
O administrador pediu que pais que acompanhem de perto os filhos e orientem para que eles não entrem na atividade. Yanez admitiu ainda: a lei é pouco aplicada. E argumentou que a administração não tem poder de polícia. ;Todo equipamento público pichado é fotografado. Em seguida, registramos ocorrência na delegacia. Revitalizamos na medida do possível, porque você pinta e, no dia seguinte, já sujaram novamente.;
Para o comandante do 13; Batalhão da Polícia Militar de Sobradinho, tenente coronel Paulo Roberto Maciel, lutar contra as pichações é dever de toda a sociedade. Ele alertou que moradores e comerciantes podem informar a polícia sobre as gangues, além de se mobilizar para educar os jovens que praticam a pichação. ;Punir nem sempre corrige. É preciso um trabalho de responsabilidade social;, disse. ;Fazemos a manutenção da ordem. Prendemos os maiores e apreendemos os adolescentes, mas, muitas vezes, os mais jovens acreditam que vão sair impunes. Além disso, a polícia não pode estar em todos os lugares;, admitiu.
1 - Resposta ao vandalismo
O programa comunitário Picasso Não Pichava foi desenvolvido pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) em 1999 e já atendeu a mais de 20 mil alunos do DF. O programa combate a pichação por meio de cursos de artes e ofícios, tais como serigrafia e informática básica. Os participantes também recebem palestras sobre prevenção de DST/Aids, uso abusivo de drogas, responsabilidade social e respeito ao meio ambiente, entre outras.
O que diz a lei
A Lei n; 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, também chamada de Lei dos Crimes Ambientais, regula penas e multas para pessoas físicas ou jurídicas que causem dano ao meio ambiente. O artigo 65 da lei define: pichação também é crime e pode até dar cadeia. O texto prevê pena de detenção de três meses a um ano para quem depredar uma edificação urbana. A pena mínima pode aumentar para seis meses caso o prédio ou objeto artístico pichado se encontre em uma área tombada ou tenha valor artístico ou arqueológico. O valor da multa pode variar de R$ 1 mil a R$ 50 mil, dependendo do patrimônio danificado.
Reconhecendo o problema em casa
A Secretaria de Segurança traçou um perfil dos pichadores para que os pais possam detectar problemas dentro de casa. A ideia? Resolver questões em família, por meio do diálogo.
Descubra alguns aspectos a observar:
Materiais escolares
Cadernos, provas, bonés e apostilas costumam ter a mesma marca de pichação usada nas ruas.
Horários
Pais devem ficar atentos aos horários dos filhos. A maioria dos pichadores age entre as 23h e as 3h.
Apelidos
Pichadores costumam utilizar apelidos exóticos. Entre amigos, chegam a substituir o nome pelo codinome.
Latas escondidas
Quem picha tende a esconder as latas de spray em casa. Os bicos das latas também são guardados como lembrança.