Cidades

Operação Shaolin vai ampliar lista de suspeitos de participação no suposto esquema de corrupção

Polícia encontra indícios da existência de novos focos de desvio de verbas do Programa Segundo Tempo

postado em 03/04/2010 08:22
Organizada para deter o desvio de dinheiro enviado pela União com a função de bancar no Distrito Federal o Programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte, a Operação Shaolin, da Polícia Civil e do Ministério Público do DF, vai ampliar a lista de suspeitos de participação no suposto esquema de corrupção. Até agora cinco pessoas vinculadas a duas entidades não governamentais ligadas ao Kung Fu estão presas na Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco). Os primeiros depoimentos prestados pelos supostos envolvidos aumentaram a desconfiança dos policiais sobre a existência de outros focos do esquema na capital.

Quatro das cinco pessoas presas na manhã da última quinta-feira já foram ouvidas. A direção da Polícia Civil organizou uma força-tarefa para que elas prestassem depoimento no mesmo dia da detenção. Cinco delegados aplicaram uma espécie de questionário, com perguntas padronizadas, aos acusados. A partir das respostas, a polícia encontrou indícios de que mais entidades parceiras do governo federal possam agir de má-fé no DF. A dúvida deve motivar novos mandados de busca e apreensão nos próximos dias. E, muito provavelmente, resultar na prisão de outras pessoas.

Um dos depoimentos mais importantes, no entanto, o do policial militar João Dias Ferreira de Faria, ficou marcado para a próxima segunda-feira. Ele é apontado como o líder do esquema de desvio de dinheiro. Segundo as investigações, o PM teria utilizado 49 notas frias para justificar o gasto de R$ 1,99 milhão. Os documentos emitidos pelas empresas Infinita Serviços Gerais Ltda. e JG Comércio de Alimentos Preparados e Serviços Gerais Ltda. estavam em favor das duas entidades lideradas por João Dias. Na qualidade de administrador das empresas, Miguel Santos Souza também está preso. Além dele, Demis Demétrios Dias de Abreu, Flávio Lima Carmos e Eduardo Pereira Tomaz estão encarcerados na Deco.

Escutas telefônicas

Para os policiais e promotores de Justiça, entre as evidências do envolvimento de João Dias na farra com o dinheiro do Segundo Tempo está o enriquecimento ostentado pelo PM. Ele mora numa mansão do Condomínio Bela Vista, no Grande Colorado, em Sobradinho. Um luxo, que segundo os investigadores, é incompatível com o soldo de R$ 4 mil que recebe da Polícia Militar. Além da casa, ele é dono de duas academias de ginástica de alto padrão na cidade. João Dias está detido temporariamente e poderá ser solto depois de contar o que sabe aos investigadores. Caso os delegados não se sintam satisfeitos com o depoimento do suspeito, a polícia poderá pedir a prisão preventiva dele.

Um dos elementos que subsidiam a investigação da Shaolin são escutas telefônicas autorizadas pela Justiça e que são mantidas em sigilo. Conversas gravadas entre os acusados aumentaram a convicção da polícia sobre a existência de uma rotina de desvios de dinheiro do Segundo Tempo. A análise dos grampos também é usada para investigar a extensão da rede de corrupção montada a partir do convênio entre o governo federal e ONGs do DF.

Além de apurar a dimensão do esquema instalado na capital da República, a polícia também quer saber se existe a participação de políticos no esquema. A desconfiança ocorre porque João Dias é filiado ao PCdoB e, em 2006, concorreu a uma vaga de distrital na Câmara Legislativa. Ficou em 65; lugar com 4.676. Ele estava na mesma chapa de Agnelo Queiroz, hoje candidato ao GDF pelo PT. Mas, na época, Agnelo também estava filiado ao PCdoB e era ministro do Esporte. O político não retornou aos pedidos de entrevista, mas tem dito a pessoas próximas que não teme a vinculação de seu nome com a Operação Shaolin, já que ao tomar conhecimento das irregularidades teria determinado a apuração dos fatos e a suspensão dos pagamentos às entidades.

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