Luiz Calcagno
postado em 03/04/2010 08:30
As ameaças que o agente penitenciário Wilderson Carvalho Francisco Silva, 31 anos, vinha recebendo por telefone há semanas foram cumpridas. Ele morreu com três tiros, em frente à própria casa, no fim da tarde da última quinta-feira, na Avenida Descoberta, em Luziânia. Dois homens chegaram em uma moto e surpreenderam o agente, quando ele colocava as malas da esposa no carro. O casal iria viajar para Caldas Novas durante o feriado. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.Wilderson coordenava a Casa do Albergado de Luziânia desde junho de 2009, quando foi inaugurada. O órgão abriga presos em regime aberto e semiaberto do Entorno. Um vizinho e colega de trabalho, que não quis se identificar, foi quem socorreu o coordenador. Ele contou que ouviu tudo. ;Eu estava assistindo à televisão no quarto com a minha filha, quando ouvi uma moto em alta rotação. Achei estranho. Em seguida, o veículo reduziu, e eu ouvi quatro disparos;, disse.
O vizinho de Wilderson lembra que correu para frente de casa e se deparou com o agente caído, vomitando. Apesar de baleado, ele quase não sangrava. Quando o colega se aproximou, Wilderson, que ainda estava consciente, teria então contado que foi alvejado, e pediu para ser levado ao hospital. A esposa da vítima saiu de casa em seguida, em socorro do marido.
O colega do agente chegou a chamar o Corpo de Bombeiros, mas, em seguida, a pedido do próprio Wilderson, preferiu não esperar. O vizinho e a esposa levaram a vítima para o Hospital Santa Luzia. ;Coloquei ele no carro e fomos os três para o hospital. Ele foi no banco de trás, no colo da mulher. Nós só vimos as marcas dos tiros quando os médicos rasgaram a camisa;, lembrou.
O coordenador foi levado para o Hospital Santa Luzia, e foi submetido a uma cirurgia que durou cerca de quatro horas. Dois dos tiros atravessaram o corpo da vítima. Um deles perfurou vários órgãos vitais, como o rim, o baço, o intestino e o pulmão. Após a cirurgia, o agente foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não resistiu, e veio a óbito por volta de 1h10 da madrugada.
Os executores fugiram sem levar pertence algum da vítima. Apesar da rua ser tida como movimentada, a vizinhança não quis comentar o crime. Aparentemente, ninguém viu nada. O clima na região é de medo. Os parentes de Wilderson, muito abalados, também não quiseram falar com a imprensa. O corpo do coordenador da Casa do Albergado será enterrado hoje às 10h.
Crime sob investigação
A 1; Delegacia de Polícia de Luziânia investiga o caso. O delegado adjunto, Bernardo Coelho, no entanto, disse que não poderia passar informações sobre o crime para a imprensa, devido à greve dos delegados. Apesar das evidências, o coordenador dos presídios do Entorno, Marcelo Tumeleiro Scaglia, afirmou que é um mistério e ainda cedo para dizer que o assassinato foi encomendado. ;Passamos o caso para a delegacia. Está sob investigação. Ainda é cedo para informar qualquer coisa;, disse.
Tumeleiro disse que desconhece qualquer tipo de inimizade relacionada a Wilderson. ;O coordenador era visto como um funcionário competente;, afirmou. Ele contou ainda que, apesar de o colega trabalhar armado, não estava quando foi surpreendido pelos assassinos. O superintendente da Superintendência do Sistema de Execução Penal (Susepe) do Goiás, delegado Carlos Roberto Teixeira, disse acreditar que a morte do coordenador está relacionada ao bom trabalho que ele realizava. ;Ele foi um cumpridor de suas obrigações. Talvez por isso, tenha perdido a vida;, falou.
De braços cruzados
Os delegados da polícia civil do estado de Goiás entraram em greve em 25 de março. Cerca de 70% do efetivo de delegados do estado, que conta com um quadro de 362 profissionais, aderiram ao movimento. Uma das condições do movimento é que nenhum delegado poderá conceder entrevistas.
Outro mistério
No fim da tarde de 2 de dezembro, o então presidente do Aeroclube de Brasília, João da Silva Abreu, 48 anos, também foi assassinado enquanto praticava cooper na pista de pousos e decolagens do clube. Além de presidente do estabelecimento, ele era secretário de Indústria e Comércio de Luziânia e presidente da Associação Comercial da cidade. Nenhum pertence foi levado. Ele foi encontrado por funcionários do clube por acaso, já agonizando. O crime nâo
foi solucionado.