Cidades

Paineiras enchem as ruas do DF de cor-de-rosa e se destacam pela farta sombra

Elas são as primeiras árvores a perderem folhas para dar lugar à floração no início do outono

postado em 06/04/2010 09:26
Maria de Nazaré caminha pela Asa Sul e se diz encantada com as árvores: De longe, ela parece dar um abraço de boas-vindas. De perto, traz uma sensação de calmaria. Em um piscar de olhos, Brasília ganhou vida e ficou ainda mais bonita. É o florir da paineiras que deu à cidade ares de bosque. Carregada de flores cor-de-rosa, ela se misturou ao verde das plantas e deixou tudo com um colorido atípico, com jeitinho de interior. O ar, de repente, parece ter ficado mais puro. Chove forte e ainda assim muitas ainda insistem em permanecer no alto. Elas gostam dessa água que tem encharcado o solo candango. Querem que Brasília fique linda ao comemorar seu meio século de existência.

Espalhadas por todos os lugares (veja quadro), as paineiras trazem inspiração até mesmo em dias de pouco entusiasmo. Mas o brasiliense não está acostumado com esse clima bucólico. Em meio à correria e ao estresse do dia a dia e do trânsito, nem todo mundo repara na transformação característica dest a época do ano. A vendedora Maria de Nazaré Santos, 22 anos, caminha quase todos os dias pela quadra comercial da 210 Sul e não reparou que no trajeto floresceram algumas árvores de flores rosadas. ;Passo com tanta pressa que às vezes nem reparo, mas, parando para olhar, realmente elas são muito bonitas;, disse a jovem.

No último fim de semana, os noivos Lara Marina Fonseca, 24 anos, e Luiz Hernane de Oliveira, 32, resolveram caminhar pelo Parque da Cidade. Quando o casal passava pelo Eixo Monumental, Lara não resistiu e pediu para o amado encostar o carro. Com máquina fotográfica na mão, a jornalista correu empolgada para debaixo do pé da paineira em frente ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). ;Ela é enorme e chama a atenção de longe. É incrível de tão linda!”, disse, admirada. Quem trabalha no prédio do TJDF tem visão privilegiada da criação da natureza. Soberana, a paineira arranca olhares de admiradores e suspiros dos apaixonados. Não há quem resista aos encantos da imponente árvore de flores delicadas e galhos tortuosos, como se tivessem sido desenhados por mãos de um artista. A paineira do TJDFT, inclusive, é tombada pelo Decreto n;14.783, de 6 de junho de 1993, como patrimônio ecológico, ou seja, não pode ser cortada ou retirada dali.

Beleza típica
Ao longo de todo Setor Policial Sul, as paineiras estão por todos os lados. Também são conhecidas como barrigudas, nome recebido em razão do tronco volumoso, que pode medir até 120 centímetros de diâmetro. As árvores fazem sombra para quem circula a pé. Na entrada do Cemitério Campo da Esperança, o chão forrado de flores leva vida e esperança àqueles que estão tristes. Da parada de ônibus do setor, a estudante de letras Juliana Brito, 32 anos, aguardava com tranquilidade o coletivo passar. Ao lado do ponto, às margens da pista, observava o vento levar para o asfalto as flores rosadas. Ela não conhecia o nome da árvore. Só sabia que gostava do que via. ;A paisagem fica muito mais bonita. O chato é quando elas estão no chão. Fico com uma dó de ver as pessoas pisando!”

O botânico João Bernardo Bringel, do Jardim Botânico de Brasília, destaca alguns detalhes que fazem a paineira chamar a atenção: ;A beleza da paineira é bem peculiar porque ela tem um alargamento do tronco e uma coloração muito diferente. No tronco também há espinhos e a flor é bastante vistosa. Ela perde as folhas na estação seca e, quando floresce, as folhas caem. É muito interessante observá-la;. Porém, mesmo sendo possível avistar as barrigudas em diversos pontos da cidade, a espécie plantada em Brasília ; Chorisia speciosa ; não é típica do cerrado e sim de florestas, de locais de Mata Atlântica.

As barrigudas foram trazidas de viveiros do Rio de Janeiro e de São Paulo, na década de 1960, pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Naquela época, Brasília perdeu muitas árvores com sua construção e não havia produção de mudas e estudo de espécies adaptadas ao cerrado. ;Houve um arraso quando Brasília foi criada. Achavam que vegetação era pobre e tiraram tudo e recomeçaram a fazer os plantios;, explicou o chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Rômulo Ervilha. Foi então que o urbanista Lucio Costa começou a fazer o plantio de diferentes árvores em volta de cada prédio.

Urbanização
A partir disso, inúmeras mudas de todas as espécies foram plantadas pela Novacap. O plantio é feito normalmente de novembro até março, durante o período chuvoso, mas não se sabe quantas delas enfeitam os canteiros centrais e a frente dos prédios da capital do país. E as paineiras crescem rápido. ;Em torno de cinco anos, já é arvorezinha de seis metros. É mais rápida que a média, desde que seja plantada em locais apropriados;, destacou Rômulo. As últimas mudas foram plantadas no começo deste ano nas quadras 700 da Asa Sul. A ideia é cumprir o sonho de Lucio Costa. No projeto de urbanização do Plano Piloto, ele previa que cada quadra seria envolta por uma moldura de árvores que simbolizaria um prédio saindo da floresta. ;Alguns prédios ainda não tinham essa moldura. A ideia é cumprir essa determinação do Lucio Costa;, disse Rômulo.

No Plano Piloto, a Novacap já plantou outras mudas de árvores nativas, como copaíba e pau-d;óleo. Mas talvez elas não chamem tanta atenção como as paineiras. ;Não é só a beleza das flores, quando (a árvore) frutifica. Tem um caule diferente. Não é toda árvore que representa essa beleza;, resumiu Rômulo. Que venham os ipês-roxos, amarelos, brancos e os flamboyants, para celebrar a nova estação e enfeitar o cinquentenário da cidade.

Colaborou Mariana Moreira


Onde ver
- Ao longo do Eixo Rodoviário (Eixão Sul e Norte)
- Em frente ao Hospital de Base, no Setor Hospitalar Sul
- Em frente à Torre de TV
- Setor Hoteleiro Sul, ao lado do Pátio Brasil
- Setor Policial Sul
- Na entrada do Cemitério Campo da Esperança, na 916 Sul
- Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia)
- Em frente ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT)

Algumas peculiaridades

Nome popular: Paineira, Árvore-de-paina, Paineira-rosa (Chorisia speciosa)

Família: Bombacaceae

Espécie: Chorisia speciosa

Quando floresce: Normalmente, a muda começa a florir e perder suas folhas a partir de dezembro, ficando completamente desfolhada em abril e em maio, quando começa a abrir seus frutos e a dispersar, pelo vento, suas sementes envoltas em abundante paina.

Altura: Atinge entre 15m e 30m de altura, com tronco volumoso de 80-120cm de diâmetro.

Curiosidades: Pertence à família das barrigudas do Nordeste e do baobá da África. Possui variedades de flores brancas e rosas de várias intensidades, que são muito utilizadas para paisagismo de locais amplos. A paina (retirada de seus frutos) serve para encher colchões e travesseiros, tendo sido muito usada, no passado, para enchimento de boias de embarcações.

Utilidade: Sua madeira não tem grande utilidade para o homem, mas ela pode ser empregada na confecção de canoas, cochos, caixotaria e na fabricação de pasta celulósica. A paina antigamente era muito usada no enchimento de colchões e travesseiros. A árvore tem crescimento rápido, sendo recomendada para plantios de recuperação de áreas degradadas e para o paisagismo.

Onde são mais frequentes: São típicas árvores das florestas secas do interior do Brasil. A característica de estacionalidade climática mais marcante do interior, com um período de seca e frio mais acentuado, faz com que várias espécies florestais percam suas folhas na seca.

Ciclo de vida: As mais resistentes chegam a viver de 50 a 100 anos em regiões de Mata Atlântica.

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