postado em 08/04/2010 09:27
São dobras e encaixes, tudo sem cola ou recortes. Os desenhos e volumes diversificados foram convenientemente selecionados com o intuito de homenagear os 50 anos da capital das formas. Cerca de 200 peças de origami(1), expostas no Centro Cultural Renato Russo, na 508 Sul, celebram o cinquentenário de Brasília. A mostra, que segue até o dia 18, traz trabalhos de vários estados brasileiros e também representantes internacionais da prática.Além de admirar as criações, é possível aprender a fazer as dobraduras. São oferecidas oficinas tanto para iniciantes quanto para origamistas profissionais que queiram participar do evento. Para entrar no clima, no entanto, não é preciso muita experiência. A preocupação fica por conta da atenção às cores e formas que, bem compostas, produzem verdadeiras obras de arte, em tamanhos diversificados. As dobras exigem prática, mas nada que o treino não resolva. ;Tudo depende muito do seu humor, do estado de espírito de quem está fazendo e da energia que coloca naquele trabalho;, destaca a origamista Jaciara Grzbowski, umas das expositoras.
Trata-se de uma espécie de terapia. As formas são montadas com cuidado e podem envolver de três a 120 pequenas partes. Dali surgirão dragões, mandalas, flores e até mesmo figuras não identificadas, frutos do exercício da criatividade ; como um animal com três cabeças. Há também exemplares minúsculos, montados com riqueza de detalhes. Obras da artista Carolina Aguilera, os pequeninos exemplares vieram de Bogotá (Colômbia) e encantam pela perfeição. ;É uma diversidade;, comemora Jaciara. ;Enquanto temos peças assim, eu, por exemplo, já fiz umas de 1,70m de altura.;
A iniciativa da exposição é do grupo Origamigos de Brasília, que conta com 35 associados. Uma das grandes surpresas da mostra está reservada para hoje, quando 10 mil origamis de pássaros tsurus(2) ; ave sagrada que, segundo lenda japonesa, vive mil anos ; serão exibidos. As dobraduras foram feitas por grupos de origami do Brasil e de outros países e têm como intuito promover uma corrente de mobilização pela paz. Segundo a lenda, quem faz mil tsurus de origami tem um desejo concedido. ;Sempre tivemos essa vontade de fazer uma convenção internacional no Brasil. Essa prática já é comum no mundo todo;, avalia Lus de Pessoa, presidente dos Origamigos de Brasília e também da Associação Brasileira de Origami.
Outro destaque fica por conta da oficina ministrada hoje pela artista japonesa Tomoko Fuse. A origamista é autora de cerca de 60 livros na área e popularizou o estilo utilitário do origami, criando objetos para o uso cotidiano doméstico. Destaque também para seu trabalho com origami geométrico, que consiste e criar formas dobradas a partir de apenas uma folha de papel.
Trabalho e lazer
Entre os expositores, estão aqueles que vivem da arte de dobrar papéis e outros que, por prazer, incorporaram a prática ao seu dia a dia. Jaciara é uma das que sobrevive, há 15 anos, fazendo origamis. ;Tudo começou nos quatro anos em que morei na França, quando fazia aulas de origami e vendia as minhas produções;, conta. Ela utiliza sua arte em vitrines de grandes lojas e na fabricação de bijuterias finas, bem como em figurinos e cenários televisivos. ;No Brasil, a maioria das pessoas que querem seguir esse caminho ainda são autodidatas;, considera. A origamista Verônica Jamkojian também tira seu sustento, há 25 anos, das dobraduras. Recentemente, ela fabricou uma tolha para uma festa de casamento com 16 mil flores dobradas uma a uma. ;É um trabalho muito limpo e que tem toda uma mágica;, considera.
Já a professora primária Amália Maria de Araújo resolveu unir a criatividade do origami aos ensinamentos em sala de aula. As dobraduras são trabalhadas nas aulas de literatura, para ajudar no aprendizado de crianças de 4 a 12 anos. ;É um incentivo a mais e eles percebem isso, ficam muito mais animados, se envolvem realmente;, destaca. Os personagens dos livros apresentados em sala de aula se materializam em bonecos dobráveis e a história ganha páginas reais, em papel.
Um exemplo disso é um pequeno livro em origami, de oito páginas, que as crianças de uma escola do Rio de Janeiro fizeram especialmente para o aniversário de Brasília. A obra, que também está exposta, conta a história da capital por meio de imagens escolhidas pelos pequenos. ;É apenas um pedaço de papel que, com um jeitinho, se transforma em um livro com oito páginas;, encanta-se a professora.
1 - Do Oriente
Arte tradicional japonesa de dobrar o papel, o origami cria representações de determinados seres ou objetos, sem cortes ou cola. A técnica utiliza um pequeno número de dobras diferentes que, no entanto, podem ser combinadas de diversas maneiras, para formar desenhos complexos. Criada há mais de mil anos, essa técnica foi evoluindo com o passar do tempo e ganhou novas versões e técnicas. Umas delas é o oribana, que consiste em criar flores com as dobras de papel. Existe também o origami modular, que normalmente resulta em figuras geométricas, bastante comuns e usadas na matemática e física. Outro exemplo de criatividade é o tea bag, dobradura feita em papéis usados para confeccionar envelopes de chá.
2 - Vida alada
Para os origamistas tradicionais, a figura do tsuru é a mais perfeita possível, pois a base do pássaro serve para a criação de várias outras. Tradicionalmente, a ave está relacionada à longevidade e sua figura, por meio do origami, é bastante popular nos casamentos e festas onde simbolizam a saúde e fortuna.
Assista à videorreportagem sobre a exposição no Correio Notícias desta tarde
Conheça
Exposição Internacional de Origamis ; Brasília 50 anos
Até dia 18, das 10h às 19h, no Espaço Cultural Renato Russo, 508 Sul. Classificação livre.
Dia 9, oficina gratuita de origami para iniciantes, às 14h.
Dia 12, oficina avançada, às 14h.Custo: R$ 20. Inscrições na Diva Papelaria, no subsolo do Terraço Shopping.