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Circuito promovido pela Fundação Athos Bulcão leva crianças para conhecer obras do artista

Entre as atividades programadas, exposições itinerantes mostram a genialidade do mestre

postado em 09/04/2010 10:05
Alunos atentos à explicação da professora sobre algumas obras de Bulcão que ajudaram a compor o perfil de Brasília. Para muitos, este foi o primeiro contato com o artistaApenas 20km separam o Riacho Fundo II do Plano Piloto. A distância, porém, parece tomar a proporção de um oceano a ser transposto quando se trata do conhecimento que a maioria das crianças nascidas nessa região tem sobre Brasília, a cidade considerada uma galeria de arte a céu aberto. Pouco a pouco, isso pode começar a mudar. Na tarde de ontem, 700 meninos e meninas da Escola Classe 1 do Riacho Fundo II experimentaram o gosto de ter contato pela primeira vez com obras de um dos artistas que mais bem representam a capital. Durante um mês, a Fundação Athos Bulcão promove o Circuito Athos Bulcão(1) por meio do qual duas exposições itinerantes, cada uma com 11 serigrafias de estampas de azulejos e pinturas do artista, vão passar por 10 escolas públicas do DF.

As atividades começaram em Ceilândia (confira a programação). Os painéis ficam durante 15 dias em cada cidade e as escolas decidem se abrem ou não a visitação para a comunidade. Nas próximas semanas, a atração estará também em Santa Maria. A mostra é diversificada. Traz criações famosas, como o painel da Igrejinha, na Asa Sul, chamado Natividade e confeccionado em 1958. Há também pinturas ; forma de expressão que o artista considerava ser a música silenciosa ; com formas coloridas de máscaras, peixes e desenhos abstratos.

Tudo lembra o esforço de Athos Bulcão de misturar a arte à paisagem urbana, para dar vida e cor ao concreto e trazer beleza a cotidiano dos brasilienses. Antes de visitar a exposição, os alunos ouvem uma palestra com o professor de artes Glauber Coradesqui. O ensinamento sobre a vida e o legado artístico de Bulcão é repassado de maneira didática. O artista é apresentado como se fosse alguém próximo e disponível. Ontem, muitos na plateia soltaram um suspiro de decepção ao saber que ele morreu em 2008, aos 90 anos.

Curiosidade
Perguntas não faltaram. Algumas eram inspiradas e difíceis de responder, como: ;Por que ele era artista?;. Outras soavam inusitadas: ;Athos Bulcão sabia desenhar macacos?;. O objetivo do encontro é promover a identificação das crianças com a arte e o artista. ;Eles acreditam que arte só existe em museu e que é algo inatingível, pois não faz parte do dia a dia. Se a escola não a trouxer, acabam não conhecendo. Assim, eles se sentem mais parte de Brasília;, explicou o diretor da EC 1, Thiago Ferreira. ;O ponto principal é sensibilizar, criar uma boa expectativa, percepção visual e inteligência abstrata;, emendou Glauber.

Ao perguntar quem já esteve no Plano Piloto e conhece os monumentos, poucos levantaram a mão. ;Deve ser um lugar colorido, cheio de arte e desenhos em vários lugares;, opinou Pedro Henrique Rodrigues, 9 anos. E quem já viu uma obra de arte? Ninguém se arriscou a responder. Ao fim do passeio pela galeria improvisada em uma sala, tudo mudou. A maioria se mostrou ansiosa para esboçar opiniões.

Ali, gente muito pequena aprendeu o poder de transformação da arte e a importância de preservá-la. Carlos Eduardo dos Santos, 7 anos, ao observar a pintura O portal, feita em 1990, parecia viajar entre as esferas pintadas em tons de rosa e azul: ;Achei ótimo. É um portal para o futuro;. A capacidade de expressar a própria ideia em releituras sobre formas encantou. ;Ele gosta de cores e eu também. As máscaras são lindas, parecem peixinhos, mas são máscaras;, afirmou Isabela Nascimento, 8. ;Uma lula pode ser de muitos jeitos. Eu não sabia. Essa aqui parece um tubarão. Ser artista é legal;, constatou André Lopes, 7.

Felicidade
Athos Bulcão era um desconhecido até ontem, para Moisés Alexandre Almeida, 9 anos. ;O nome dele é esquisito;, disse o menino. Em menos de uma hora, nasceu a admiração. ;Eu queria desenhar como ele, com um pincel. Quase todos os artistas são ricos;, acrescentou. Mas arte é mais que dinheiro, e Moisés sabe. ;Quero pintar quadros, fazer grafite. Vou desenhar na parede do hospital, porque lá é um lugar triste. Vou desenhar para quem estiver quase morrendo ver a minha pintura. Porque pintura deixa a gente feliz quando olha para ela.;

Além do aprendizado, uma menina da plateia pôde levar um presente para casa. A Fundação Athos Bulcão sorteou um azulejo igual ao da Sede Social do Clube do Congresso. O prêmio foi para as mãos de Keitiany dos Santos Reis, 8. Vai enfeitar o quarto dela, no Riacho Fundo II. Intrigada sobre o desenho, ela disse: ;Parece um homenzinho azul;. Não sabia o valor do que carregava. Mas ainda há de descobrir.

Os outros colegas ganharam um encarte para montar o próprio painel. No verso, estava o ensinamento de não fechar os círculos, não quebrar o movimento. A instrução para montagem trazia um conselho valioso: ;Lembre-se das orientações do Athos: deixe os desenhos voarem;. Ontem, meninos e meninas aprenderam que, assim como os traços do artista, os pensamentos também flutuam.

1 -
Escolas na mira
O Circuito Athos Bulcão existe desde 2001 e já percorreu 64 escolas. As regiões mais carentes têm prioridade. A Fundação Athos Bulcão recebeu inscrições e também entrou em contato com escolas que queriam receber a visita. Além de mostrar as obras de arte, os organizadores doam um exemplar do livro que conta a história de Bulcão para cada colégio.

Para saber mais
Talento nato

Nascido no Catete, Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1918, Athos passou a infância em uma casa ampla em Teresópolis. Antes de completar cinco anos, perdeu a mãe, Maria Antonieta da Fonseca Bulcão, de enfisema pulmonar, e foi criado pelo pai, Fortunato Bulcão ; entusiasta da siderurgia, amigo e sócio de Monteiro Lobato ; e por três irmãos.

Enquanto crescia, por ser muito tímido, misturava fantasia e realidade. A família tinha interesse em artes e o levava frequentemente ao teatro, a espetáculos de companhias estrangeiras e óperas. Já aos quatro anos, Athos ouvia Caruso no gramofone e ensaiava desenhos ; sem, no entanto, chamar a atenção da família. Chegou a estudar medicina, mas descobriu seu talento para a arte e mergulhou nela. Foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros, como Jorge Amado, Vinicius de Moraes e Manuel Bandeira.

Aos 21 anos, os amigos o apresentaram a Portinari, com quem ele trabalhou como assistente no Mural de São Francisco de Assis, na Pampulha (Belo Horizonte, MG) e aprendeu muitas lições importantes sobre desenhos e cores. Na mesma época, conheceu o arquiteto Oscar Niemeyer, com quem estabeleceu parceria profissional.

Fonte: Fundação Athos Bulcão

Programação do Circuito Athos Bulcão
Riacho Fundo II
Local: Escola Classe 1
Data: Até dia 16.
Endereço: QC 4, Conjunto 18, Lote 1/2.
Telefone: 3901-8327 e 8051-7362.
Classificação indicativa: Livre

Santa Maria
Escola Classe 215
Data: Até dia 16.
Endereço: CL 215, Lote A.
Telefone: 3901-6584

Taguatinga
Escola Classe 27
Data: De 19 a 30 deste mês.
Endereço: Sandu Norte, QNF 19, Área Especial 1.
Telefone: 3901-6737

Escola Classe 45
Data: De 19 a 30 deste mês.
Endereço: EQNM 40/42, Área Especial.
Telefone: 3901-6695

Gama
Escola Classe 14
Data: De 3 a 14 de maio.
Endereço: EQ 29/33, Área Especial, Praça 3, Setor Leste.
Telefone: 3901-8103

Escola Classe 7
Data: De 3 a 14 de maio.
Endereço: Quadra 10, Área Especial,
Setor Sul.
Telefone: 3901-8114 e 3901-8081

Octogonal
Escola Classe 8
Data: De 17 a 28 de maio.
Endereço: AOS 6/8, Lote 3, Área Especial.
Telefone: 3901-7791.

Brazlândia
Escola Classe 1 Incra 9
Data: De 17 a 28 de maio.
Endereço: Quadra 18, Lote 1, Incra.
Telefone: 3901-6635.

Plano Piloto
Jardim de Infância da 404 Norte
Data: indefinida.
Endereço: SQN 409, Área Especial.
Telefone: 3901-7582.

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