postado em 10/04/2010 08:44
Os gastos que envolvem a manutenção de uma casa são altos, especialmente no Distrito Federal. Neste primeiro trimestre do ano, a inflação da moradia subiu 2,62%, quase três vezes mais do que na média nacional, que ficou em 0,91%. O levantamento tem como base o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e utilizado pelo governo federal no cálculo oficial da inflação. A oscilação dos preços da habitação engloba uma gama diversificada de itens, que vão dos custos do aluguel e condomínio aos gastos com serviços de reparo, reforma e limpeza, passando pelo preço dos combustíveis domésticos, como o gás de cozinha, e pelas tarifas públicas, como a de água e esgoto (veja quadro).No DF, o preço de quase todos os produtos e serviços avaliados registrou alta de janeiro a março, em patamares acima dos nacionais. A taxa de água e esgoto encabeçou a lista dos vilões, cravando aumento de 3,98%, contra 0,74% no país. Logo atrás veio o desinfetante, que subiu 3,90% aqui e 0,55% na média nacional. O aluguel residencial, com aumento local de 3,78% e nacional de 1,05%, e o condomínio, que subiu 3,26% no DF e 1,66% no país, fecham o rol das altas mais acentuadas.
De um total de 23 itens, apenas cinco são exceção. Registraram deflação no DF o material de pintura (-0,85%), o sabão em barra (-2,47%), a dupla amaciante/alvejante (-1,75%), a esponja de limpeza (-0,93%) e a tinta (-2,23%). A queda acompanhou movimento de recuo no país, já que os quatro primeiros produtos também diminuíram de preço na média nacional, registrando quedas pouco significativas, perto de 0,5%. Na média nacional, o preço da tinta ficou quase estável ; subiu 0,26%.
Para o economista Clóvis Scherer, diretor do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (Dieese) no Distrito Federal, os números expressam um desalinhamento com a inflação nacional. Scherer destacou que o Dieese divulgou ontem o índice de custo de vida relativo a março para São Paulo, englobando os segmentos alimentação, saúde, habitação e transporte. A alimentação foi a cesta de itens com a maior alta, de 1,54%. A habitação subiu pouco, 0,46%. ;São Paulo corresponde a 40% do mercado do país, então o que ocorre lá costuma ser reproduzido em nível nacional;, explica ele, ressaltando, entretanto, que os produtos e serviços relativos à habitação levados em conta pelo Dieese abrangem um universo menor do que o englobado pelo IBGE.
O economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB), diz que o poder aquisitivo elevado da população de Brasília pode ter criado condições favoráveis para que os reajustes de preços na capital federal aconteçam em patamares acima da média. ;O tipo de mercado de consumo que existe no DF facilita negociar aumentos e fornecimentos mais elevados para tudo;, destaca. Ele cita representações financeiras e órgãos da administração pública como usuários dos itens presentes na inflação da habitação medida pelo IBGE.
Todos os meses, o Sindicato do Comércio Varejista de Materiais de Construção do DF mede o faturamento de 37 pequenas, médias e grandes empresas do setor. Em janeiro, o montante cresceu 5,41%, em relação ao mesmo período do ano passado. Em fevereiro, o salto foi de 10,35% frente ao mesmo mês de 2009. O presidente do sindicato, Cecin Sarkis, aposta em um percentual ainda maior. ;Brasília é uma cidade atípica para esse segmento. Talvez pelo elevado poder aquisitivo da população, a quantidade de obras é muito grande e a demanda é constante;, afirma. Segundo o IBGE, o preço do cimento no DF registrou alta de 2,78% no primeiro trimestre, ante 0,62% da média nacional. No caso da areia, o aumento ficou em 1,4%, enquanto no restante do país o produto subiu 0,32%.
O peso de reformar e construir
Há 14 anos em atuação no mercado da capital federal, o engenheiro Carlos Moura, 49 anos, percebeu o aumento no preço do cimento e da areia este ano. ;São os itens que mais pesam no nosso trabalho. É o arroz com feijão da construção civil;, diz ele, que atualmente responde por quatro obras. Moura conta que os clientes têm percebido e reclamado das variações desde o fim do ano passado. ;Em dezembro, o saco de cimento custava entre R$ 12 e R$ 14. Agora, sai por R$ 18, R$ 19. O metro de areia saltou de R$ 65, R$ 70 para R$ 90;, afirma.
As variações positivas, no entanto, não interferem na demanda pelos materiais de construção. ;Brasília é um fenômeno impressionante, as obras não param, independentemente de crise, de alta de preço;, ressalta o engenheiro Moura. Gerente de uma loja do setor, Roney Felix confirma que os preços mais altos não fazem cair o movimento. Ele explica que as altas registradas pelo IBGE correspondem a reajustes aplicados nesta época do ano pelas distribuidoras e, principalmente, ao aumento no valor do frete de alguns itens. ;Todo início de ano há essa variação;, reforça.
A inflação medida pelo IPCA aponta alta de 1,61% no valor do gás de botijão no DF, no primeiro trimestre. O percentual médio do país foi um pouco menor, 1,15%. A proprietária de uma empresa do segmento Cláudia Marques conta que não há reajuste desde 2004, mas acrescenta que existe uma grande variação na tabela do mercado, o que pode explicar o aumento observado pelo IBGE. ;Não perco cliente por causa de preço, só que meu valor é R$ 45. Sei de lugares que vendem a R$ 50 e outros até a R$ 29,90, mas não sei como esses conseguem;, afirma. Na unidade do Cruzeiro, Cláudia vende entre 350 e 400 botijões por dia. Em Taguatinga, a venda diária chega a 1,5 mil unidades. (MB e DA)
O número
R$ 50
Preço máximo cobrado por um botijão de gás de cozinha