Adriana Bernardes
postado em 11/04/2010 08:45
No Brasil não existe lei que proíba o envio de torpedos ao volante. Nem por isso o condutor está livre de punição. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não permite que o motorista dirija com apenas uma das mãos e também fale ao celular com o carro em movimento. (Leia O que diz a lei) Mas, nos Estados Unidos, várias localidades, incluindo Califórnia, Oregon e Connecticut, já aprovaram leis para proibir o condutor de enviar mensagem de texto ou falar ao telefone enquanto estiver dirigindo. Além disso, o Senado analisa um projeto de lei que permitiria o financiamento federal para os estados que decretarem leis similares.
[SAIBAMAIS]Perguntado sobre a necessidade de o Brasil seguir o mesmo caminho, o diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) Fábio Racy descarta tal necessidade. Para ele, enviar SMS ao volante é um comportamento tão absurdo que seria contestar o óbvio. Ele lembra que o simples ato de falar ao celular já foi reprovado em pelo menos duas pesquisas das quais a Abramet participou.
Um dos estudos citados por ele foi feito em parceria com o Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Universidade de São Paulo (USP). Cinco voluntários foram conectados a um simulador de direção enquanto falavam diretamente ao celular ou por meio do viva voz. Nos dois casos foi observado o aumento do tempo gasto no percurso. O tempo de reação do condutor diante do imprevisto também foi maior assim como as transgressões às leis de trânsitos e a quantidade de acidentes.
Os estudos demonstraram que o problema não é como a pessoa fala ao celular, mas a desatenção que esse comportamento provoca. "Ao dirigir, 95% dos estímulos que o cérebro recebe vêm da visão. Além da desatenção, quem digita mensagem tem que desviar o olhar da via para as teclas do telefone. É fácil imaginar o que pode acontecer. Em pouco tempo, as desatenções vão ocupar senão a primeira, a segunda causa de acidentes de trânsito no mundo", acredita Racy.
Riscos
Na pesquisa da Pew Research Center, 58% dos adolescentes responderam que foram caronas de motoristas que enviavam mensagens enquanto dirigiam. E um em cada 10 jovens sentiu que estava sob risco nessas ocasiões. Outro fator que chamou a atenção foi o fato de os jovens terem relatado que dirigir e falar ou enviar torpedos também é um hábito bastante comum entre os pais, irmãos ou outros parentes. De forma que, para a maioria, não há problema algum nisso.
Vez ou outra, a bombeira civil Junara Dantas de Sousa, 25 anos, envia texto do celular enquanto está ao volante. "Digito uma letra e olho para frente. Digito outra letra e olho de novo para frente", detalha. Mas ela não aconselha ninguém a fazer o mesmo e evita o quanto pode a prática. "Escrever o texto tira completamente a atenção do motorista. Se atender o telefone já é arriscado, mandar mensagem é pior porque para escrever o seu olhar é direcionado para o teclado do celular e não para a via", justifica.
A primeira vez que Junara escreveu uma mensagem do celular enquanto dirigia foi em dezembro, em resposta a um amigo a quem dera carona minutos antes. Chovia muito e ele mandou um texto recomendando a ela que tivesse cuidado. Ela respondeu: "Pode deixar, estou indo devagar". "Ele ligou imediatamente para saber se eu estava parada ou dirigindo. Respondi que estava dirigindo e levei uma bronca. Mandou eu desligar o telefone e ligar de volta quando estivesse em casa", relembra.
Para o diretor do Instituto de Medicina Legal (IML), Malthus Galvão, por mais cuidado que o condutor tenha, é humanamente impossível enviar mensagens ao celular e prestar, ao mesmo tempo, atenção a todos os fatores do trânsito, como outros veículos, pedestres e sinais.
Segundo Galvão, pior do que ler é enviar uma mensagem, pois o tempo de desatenção é muito maior. Segundo Galvão, o hábito aumenta a possibilidade de acidentes, pois o trânsito é imprevisível. É um motorista que freia, outro que muda de faixa ou um sinal que se fecha sem que o motorista tenha tempo suficiente para tomar a atitude necessária. "Aqui no IML, na sala de necropsia, fico imaginando a quantidade de mortes no trânsito que poderia ser evitada com uma atenção maior, sem celulares e sem álcool. Recebemos diariamente vítimas da combinação de volante e álcool e, mais recentemente, da dobradinha direção e telefones celulares", citou.
O que diz a lei
O artigo 252 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) classifica como infração média o ato de dirigir com apenas uma das mãos, exceto quando vai fazer sinais regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo, ou acionar equipamentos e acessórios do veículo. Também proíbe o condutor de usar fones de ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou de telefone celular. O infrator perde 4 pontos na Carteira de Habilitação e paga multa de R$ 85,13.