; Ary Filgueira
; Luiz Calcagno
; Edson Luiz
O mistério do desaparecimento dos seis jovens moradores de Luziânia começou a ser desvendado somente após agentes e delegados da Polícia Federal e da Polícia Civil de Goiás começarem a trabalhar juntos. Sem testemunhas do rapto e execução dos garotos, os investigadores recorreram a diligências na cidade goiana e trocas de dados. Buscaram informações sobre os criminosos com histórico de pedofilia do município e cidades vizinhas, até chegar ao pedreiro Admar de Jesus Santos, 40 anos, que havia deixado a cadeia em 23 de dezembro último após cumprir quatro dos 14 anos de penas por abusar sexualmente de duas crianças no Distrito Federal.
Os policiais fecharam o cerco a Admar após saberem que ele morava no Parque Estrela Dalva 4, bairro onde residiam dois dos seis adolescentes desaparecidos. O local faz divisa com o Parque Estrela Dalva 8, onde morava outra vítima. Os demais tinham residência em setores vizinhos. ;Somente após um mês de investigação é que entendemos que o caso caminhava para um único desfecho;, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, Aredes Pires.
Se for levado a julgamento e condenado pelo assassinato dos seis jovens, Admar receberá pena de até 180 anos de prisão, pois cada homicídio pode render no máximo 30 anos, juntando os agravantes, como ocultaão de cadáver. Porém, a legislação brasileira impede que o réu fique mais de 30 anos na cadeia.
Apesar de Admar ter confessado o assassinato dosmoradores de Luziânia, a PF continuará na apuração do caso, por ainda existirem dúvidas sobre como realmente os crimes foram cometidos. Investigadores que trabalham na apuração levantam a hipótese de o suposto matador ter tido ajuda de terceiros para, pelo menos, imobilizar suas vítimas. Chefe do Departamento de Polícia Jurídica de Goiás, o delegado Josuemar Vaz de Oliveira também não descarta a possibilidade de alguém ter ajudado Admar no crime. Mas, de acordo com ele, não existem evidências disso.
O pedreiro contou que levava as vítimas para as proximidades da Fazenda Buracão com a promessa de dinheiro. Elas eram convidadas a realizar pequenos serviços. ;Daquele pequeno serviço, a conversa evoluía para o contato sexual. Pensamos que, até nas proximidades, os meninos devem ter vindo de livre e espontânea vontade. Mas até o local que ele enterrou o corpo, isso não está bem claro;, contou Oliveira. A arma usada em todas as mortes era um porrete, segundo o assassino confesso. As três pessoas detidas no sábado como suspeitas de participação nos crimes foram liberadas ontem, após prestar depoimento.
Nada de celular
Josuemar de Oliveira desmentiu a versão de que a polícia chegou ao suspeito por meio do celular de uma das vítimas. Segundo ele, não havia celular com a irmã do acusado e ele não usava o aparelho. O chefe da polícia goiana disse ainda que o acusado foi interrogado apenas preliminarmente, e que ele entrou em contradição diversas vezes. ;Ele contava histórias inconsistentes. Será necessário um interrogatório com mais paciência e com mais tempo, para esclarecer tudo;, comentou o delegado.
O pedreiro disse que já tinha contato com alguns dos adolescentes mortos. A polícia, no entanto, não acredita, pois investigou toda a rede de relacionamento dos jovens e não encontrou indícios de ligações entre as vítimas e o acusado. Os agentes apostam que ele escolheu os meninos aleatoriamente e cometeu os crimes no mesmo dia em que conheceu cada um deles.
A Polícia Civil de Goiás vai abrir novas linhas de investigação. Uma delas é buscar o passado do criminoso para saber se, além de ter sido preso por pedofilia, ele teria cometido outros delitos, inclusive em Serra Dourada (BA), sua cidade natal. Os investigadores querem saber os detalhes do fim da mulher de Admar, que teria se matado com veneno. Ele veio para o Entorno do DF, após ficar viúvo.
Os investigadores voltarão ao local onde os corpos foram encontrados para saber se existe a possibilidade de haver mais cadáveres. Policiais não descartam a possibilidade de o matador ter cometido outros assassinatos. Ontem, a polícia começou a colher material genético de familiares das seis vítimas. As mães dos rapazes assassinados forneceram saliva para fazer os exames de DNA, um dos únicos que poderá confirmar a identidade de cada uma das vítimas, já que os corpos estavam em adiantado estado de decomposição.
O exame, no entanto, não deverá comprovar se alguns dos jovens tentou evitar o ataque de Admar, como acreditam os investigadores. Um deles ; Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, 16 anos, sumido desde 4 de janeiro ; teria reagido e arranhado seu algoz no pescoço. A possibilidade de haver material genético nas unhas do adolescente é praticamente nula, por causa da decomposição do corpo e da mistura com a terra.
Caso ainda sem solução
; Enquanto a polícia considera encerrado o caso das seis vítimas do pedreiro Admar, que confessou ter matado os jovens, a família de Eric dos Santos, 15 anos, outro morador de Luziânia, ainda não sabe o paradeiro do garoto. O adolescente sumiu no dia 20 de março, quando saiu de casa, no Parque Industrial Mignone, para dar aulas em uma escola do bairro. Desde então, os familiares não receberam nenhuma notícia do adolescente.
A mãe de Eric, Benilde dos Santos, afirma que o filho não levou nenhum pertence e nem mesmo documentos. Benilde destaca, no entanto, que, apesar de tímido, dias antes de desaparecer, o garoto teria revelado ao treinador de futebol que tinha vontade de sair de casa.