Cidades

Inundações fazem moradores de Vicente Pires venderem imóveis a preços baixos

Toda vez que chove é o mesmo drama: a água desce toda para a via mais baixa da cidade e inunda as casas

postado em 12/04/2010 08:29
Num só dia, havia 17 faixas de oferta de lotes e casas na Rua 3;Vendo.; Essa é a palavra mais comum na Rua 3 de Vicente Pires. Andando pela avenida, uma das principais da cidade, é possível encontrar 17 faixas ofertando imóveis. A explicação para tanta gente querendo mudar de endereço é uma só: quando chove, as casas são inundadas. Os problemas causados pela força da água são antigos em Vicente Pires, mas a situação da Rua 3 se agrava pelo fato de ela ser a mais baixa.

A água de todas as quadras desemboca justamente no local. Sem perspectivas de melhoria, os moradores anunciam suas casas por até 40% abaixo do valor de mercado e, mesmo assim, encontram dificuldades para achar interessados. O vendedor Paulo Lopes, 46 anos, há seis meses tenta vender um lote e uma residência na rua. Ele conta que recebe muitas ligações durante o dia, mas as pessoas sempre desistem do negócio quando são informadas do endereço. ;Ou desistem ou querem pagar um preço muito baixo, que não vale a pena vender. O problema com a chuva desvalorizou muito os imóveis daqui. Uma casa de quatro quartos e suíte, na Rua 3, vale a metade de uma de dois quartos e com apenas um banheiro em outro lugar de Vicente Pires;, compara Paulo.

O motorista Josian Pereira, 34 anos, está amadurecendo a ideia de sair de Vicente Pires para outro lugar. Também morador da Rua 3, ele diz que os gastos com os reparos na residência são altos. ;Nós, os moradores, é que temos que fazer alguma coisa para que a chuva não invada nossas casas. A situação está ficando insustentável. Estou pensando seriamente em anunciar minha casa e sair daqui;, afirma.

Irregular
Os transtornos não são exclusividade da Rua 3. Percorrendo as ruas do parcelamento, nota-se que quase todas possuem o solo destruído pela ação da água. Em alguns, como a Rua 10, uma cratera engoliu parte do asfalto. Com apenas metade da pista transitável, os motoristas passam devagar próximo ao buraco, pois qualquer manobra errada pode acabar em acidente. O administrador da cidade, Márcio José de Melo, visitou o lugar esta semana.

Acompanhado de três engenheiros, ele chegou à conclusão de que a primeira providência para minimizar o problema é tapar o buraco da Rua 4, pois é por ali que a água da chuva se concentra e segue com força para a Rua 3. A ideia é fazer com que essa água seja captada por manilhas e siga seu curso sem causar danos. Porém, por Vicente Pires ser um parcelamento irregular, a obra depende de autorização do Instituto Brasília Ambiental (Ibram). ;É uma obra emergencial. Já enviamos o pedido ao Ibram e, ao recebermos o aval do órgão, colocaremos as máquinas para trabalhar de imediato;, afirmou o administrador, que assumiu o cargo há uma semana.

As autoridades afirmam que esse é o preço que os moradores pagam pela ocupação desordenada do solo. O presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Gustavo Souto Maio, ressalta que as residências construídas à revelia da lei causaram um impacto ambiental muito grande na região e, enquanto a regularização não sair ; Vicente Pires é um dos parcelamentos que estão na lista de regularização do GDF ; pouca coisa pode ser feita.

;Sabemos de todos os problemas causados pela chuva em Vicente Pires, mas é uma situação delicada por se tratar de uma região irregular. Não podemos fazer muita coisa naquela região porque se não o Ministério Público nos cobra explicações. Se nós autorizarmos uma benfeitoria na Rua 4, teremos que liberar para as demais áreas de Vicente Pires, que também carecem de infraestrutura;, justifica Souto Maior, que enfatiza que qualquer melhoria em áreas carentes de regularização depende do estudo de impacto ambiental do Grupo de Análise e Aprovação de Parcelamentos do Solo e Projetos Habitacionais (Grupar). ;Estamos aguardando o parecer do Grupar para saber o que podemos fazer nessas áreas. Saber como ficarão as casas situadas em Área de Preservação Permanente.

Segundo a gerente de regularização do Grupar, Eneida Aviani,o resultado dessa análise deve ser divulgado em breve. ;O estudo em fase final de análise da elaboração do resultado e, quando estiver pronto, encaminharemos ao Ibram;, resumiu Eneida.

Enquanto a situação da cidade continua indefinida, os moradores procuram alternativas para diminuir os prejuízos causados pela chuva. Os proprietários das chácaras situadas às margens da avenida da Rua 3 reforçaram os muros de sua propriedade e discordam dos argumentos do governo. ;O mais engraçado é que falam que não podem fazer nada em Vicente Pires porque é irregular, mas há mais de três anos que eu pago IPTU, água e luz;, reclama o servidor público Leonardo Alcântara da Silva, 36 anos.

Proteção

As Áreas de Preservação Permanente são de grande importância ecológica, cobertas ou não por vegetação nativa. Elas preservam os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, protegem o solo e asseguram o bem-estar da população. Como exemplo de APP estão as áreas de mananciais, as encostas
e as matas.

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