Cidades

Seis mulheres não se calaram diante do sumiço dos filhos

Buscaram ajuda, exigiram providências das autoridades e comoveram o país

postado em 12/04/2010 08:44
Em fevereiro, mães e familiares dos garotos sumidos em Luziânia fizeram protesto na Esplanada dos Ministérios, reuniram-se com políticos e pediram a entrada da PF no caso: pressãoA dona de casa Aldenira Alves de Souza, 52 anos, registrou o desaparecimento do filho Diego Alves Rodrigues, 13 anos, em 31 de dezembro do ano passado, menos de 24 horas depois de o garoto sumir. Daquele dia em diante, até 29 de janeiro, outras cinco mães traçaram uma cruzada em busca de notícias sobre seus meninos. A servidora pública Sônia Vieira Azevedo, 45 anos, mãe de Paulo Victor de Azevedo Lima, 16 anos, se tornou a líder do grupo formado por Aldenira; Cirlene Gomes de Jesus, mãe de George; Mariza Lopes, mãe de Divino; Valdirene da Cunha, mãe de Flávio; e Maria Lúcia Lopes, mãe de Márcio. Juntas, elas não descansaram e exigiram a todas as autoridades possíveis ; do prefeito ao ministro da Justiça ; que o mistério fosse resolvido.
Mobilizados pelas mães, familiares e amigos dos jovens desaparecidos começaram a chamar a atenção de quem estivesse disposto a ouvi-los em 22 de janeiro, quando cerca de 100 pessoas caminharam pelas ruas de Luziânia, pedindo a investigação do caso e o fim da violência no município. Dias depois, visitaram o secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, e em Brasília seguiram a pé da Catedral ao Ministério da Justiça e ao Congresso Nacional, onde receberam apoio da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Crianças e dos Adolescentes Desaparecidos. O vaivém continuou até Goiânia, onde as mães buscaram as autoridades de Segurança Pública. Incansáveis, elas conversaram várias vezes com representantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa.

Resultados
Devido ao forte apelo das mulheres goianas ao Ministério da Justiça, elas conseguiram que a Polícia Civil de Goiás criasse uma força-tarefa envolvendo oito delegados para cuidar do caso e também que a Polícia Federal entrasse na apuração. ;Agora, estou com fé de que vamos resolver essa história;, afirmou em 9 de fevereiro a dona de casa Cirlene, mãe de George, no dia em que a PF foi autorizada a trabalhar. ;Saber que Márcio pode voltar para casa mais rápido me anima;, disse na mesma época Maria Lúcia.

As mães também compartilharam momentos de dor e agonia quando souberam que a polícia tinha quatro linhas de investigação: tráfico de seres humanos para trabalho escravo, exploração sexual de menores, tráfico de órgãos e até mesmo morte por grupos de extermínio na região. Mesmo assim, durante todo esse tempo, o grupo lutou para manter a esperança de que os garotos estivessem vivos. As mulheres organizaram um encontro ecumênico que reuniu católicos e evangélicos na Praça Francisco de Assis Dantas, em Luziânia, em 10 de março. Nas orações, o único pedido para que as crianças voltassem para casa bem. Um mês depois, o homem que confessou ter matado os adolescentes, Admar de Jesus, foi preso.

Momentos marcantes

10 de março

Em audiência pública na Assembleia Legislativa, as mães dos adolescentes ouvem as críticas do ouvidor nacional dos Direitos Humanos da Presidência da República, Fermino Fechio, quanto à atuação da polícia goiana. O ouvidor cobra mais transparência da polícia do estado sobre a conduta dos policiais suspeitos de fazer parte de grupos de extermínio.

2 de março
Investigadores levantam a possibilidade de extermínio como nova linha de investigação. O assunto é apresentado pelo deputado Geraldo Pudim (PMDB-RJ) durante audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Desaparecimento de Crianças e Adolescentes, na Câmara dos Deputados. A possibilidade apavora as mães.

9 de fevereiro
Emoção seguida de desmaio de uma das mães diante da primeira conquista. Vinte e cinco dias após a abertura do inquérito que apura o desaparecimento dos seis jovens, a Polícia Civil de Goiás aceita a ajuda da Polícia Federal. O secretário de Segurança Pública do Estado, Ernesto Roller, atende orientação do então ministro da Justiça, Tarso Jenro.

4 de fevereiro
Mães e familiares dos adolescentes desaparecidos desembarcam em Brasília e caminham da Catedral ao Ministério da Justiça ; onde são recebidos pelo então secretário Luiz Paulo Barreto ; para pedir que a Polícia Federal apoie a Civil na investigação. Barreto explica que esse tipo de intervenção só é possível após o pedido do governador do estado.

27 de janeiro
O prefeito de Luziânia Célio Silveira (PSDB) e o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) reúnem-se com familiares dos desaparecidos para tranquilizá-los quanto às investigações. O prefeito garante mais policiamento para a cidade, mas é indagado sobre o não funcionamento das câmeras de segurança instaladas há mais de um ano em 26 pontos do município.

22 de janeiro
Cerca de 100 pessoas, entre mães, familiares e amigos dos seis jovens desaparecidos no Parque Estrela Dalva, caminham pelas ruas de Luziânia. Empunhando faixas que pediam um basta à violência e exigiam notícias sobre os filhos, as mães organizam
a primeira de uma série de manifestações para pedir informações
e agilidade à Polícia Civil.

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