Cidades

Vizinhos do pedreiro ficaram chocados com a revelação de que ele teria matado os seis jovens

Assassino é descrito como uma pessoa reclusa, pacata e que participava de cultos em uma igreja no Parque Estrela Dalva 4

postado em 12/04/2010 08:51
Moradores chocados e com medo. Os vizinhos de Admar de Jesus, 40 anos, o pedreiro que teria confessado à polícia ser o assassino dos seis jovens de Luziânia, viveram um domingo de expectativa. Revoltada, a população ameaçava destruir a casa onde Admar morava com a irmã, o cunhado e dois sobrinhos, desde que saiu da prisão, em dezembro de 2009, na Rua 29, da Quadra 81, Lote 15, do Parque Estrela Dalva 4. A casa é muito simples, construída nos fundos do lote.

A população que vive próxima à casa está chocada com a confissão dos assassinatos cometidos pelo pedreiro. Segundo os vizinhos, o assassino confesso era uma pessoa reclusa, que quase não saía de casa. Tanto que algumas pessoas que moravam na mesma rua nem sabiam quem ele era. É o caso da enfermeira Lucília Moreira da Silva, 32 anos, que trabalha no Hospital Regional de Luziânia. ;Moro nessa rua há 10 anos e nunca vi o Admar. Talvez tenha passado por ele uma vez ou outra, mas não saberia nem sequer descrevê-lo.;

Segundo Lucília, a Rua 29 é tranquila e na casa da família de Admar quase não se vê movimentação. Os parentes deles são pacatos e não frequentam a residência de outros vizinhos.

;Eram pessoas acima de qualquer suspeita. Se ele não tivesse confessado, não acreditaríamos;, diz a enfermeira, admitindo que todos os vizinhos estão abalados com a tragédia e a população da cidade está revoltada com a crueldade do crime. Segundo Lucília, a família do pedreiro corre risco, porque os crimes são injustificáveis e abalaram muitas outras famílias, que podem querer se vingar. ;Temos medo também porque ele já foi preso e solto. Quem garante que isso não acontecerá novamente?;, indaga Lucília.

A aposentada Rosa da Silva Amadeus, 50 anos, é vizinha e amiga da irmã de Admar há 10 anos. Segundo ela, antes de ser preso em Brasília, Admar já morava com a irmã na Rua 29 e nunca levantou qualquer suspeita. ;Jamais poderia imaginar que seria capaz de matar alguém. Era um rapaz calmo e eu nunca o vi alterado. Ia de casa para o serviço e do serviço para casa. Por algumas vezes ele nos acompanhou, eu e irmã dele, nos cultos que frequentávamos na Igreja Universal do Parque Estrela Dalva 4;, revela.

Rosa Amadeus também relata que a irmã do pedreiro jamais se queixou do comportamento de Admar em casa. ;Ele bebia pouco, sempre em casa, e nunca soube de brigas dele com a irmã, o cunhado ou os sobrinhos;, observa. Rosa afirma também que não sabe se o pedreiro já foi casado e que nunca o viu com namoradas. Ele andava sempre arrumado, cumprimentava as pessoas que conhecia e, como a irmã e a família, era realmente muito caseiro. ;Nunca os vi dando festas ou recebendo pessoas em casa. Eu não acredito até agora que ele foi capaz disso tudo;, admira Rosa.

Drogas e violênciaA casa onde o pedreiro Admar morava com a irmã e o cunhado, no Parque Estrela Dalva. Ele quase não deixava o local, segundo relato dos vizinhos
Vizinhos contam que o Parque Estrela D`Alva 4 tem problemas de violência como qualquer outro loteamento de Luziânia que é considerada uma cidade violenta. Alguns relatam movimentação em relação a tráfico de drogas e outros dizem que durante o dia, o local é pacato. Mas à noite é perigoso andar nas ruas por conta de assaltos.

O aposentado Tito Manoel Cotrim, 66 anos, conhece a família de Admar há cerca de uma década. E os tinha como trabalhadores e honestos. ;A irmã e o marido, que também é pedreiro, são pessoas batalhadoras. Pelo que sabemos ela ajudava na renda da família fazendo faxina em Brasília. Me parece que Admar estava trabalhando com o cunhado em alguma obra. Não posso falar de Admar porque quase não o via.; O aposentado sabia que o pedreiro estava preso no ano passado, mas não desconfiava do motivo. ;Depois que voltou a morar aqui quase não saía na rua.;

Análise da notícia
Solução sem fim


>> Sérgio Maggio

Ao longo de 101 dias, o país acompanhou a dor do sumiço inexplicável de seis adolescentes que viviam numa região modesta do Entorno do DF. O Brasil parou para acompanhar, a partir do desespero das mães, o caso que, inexplicavelmente, era tratado, com evidente banalidade pela polícia local, até se nacionalizar como um escândalo que continha uma terrível mensagem à sociedade brasileira: a vida em Luziânia vale pouco, quase nada. Essa letargia nas investigações não deu tempo, talvez, de poupar a vida de Márcio Luiz de Souza Lopes, o ajudante de serralheiro, que desapareceu em 29 de janeiro, quando o caso já estava estampado na mídia nacional. Houve necessidade de que as mães e moradoras do esquecido Parque Estrela Dalva ocupassem a Esplanada dos Ministérios para pedir ajuda federal, que só aconteceu 40 dias depois que Diego Alves Rodrigues, de 13 anos, sumiu sem explicações. Agora, diante da suspeita do algoz ser um maníaco sexual, a possível solução do crime surge como uma agonia. Surpreendentemente, o homem que se diz assassino foi condenado há 14 anos por abuso sexual de menores, entretanto, perambulava solto depois de cumprir apenas quatro anos de reclusão. Sem uma legislação dura, nem um sistema especial para monitorar os psicopatas, o fim deste caso infelizmente deixa no ar a sensação de insegurança, impotência e fragilidade. As mães enterrarão seus filhos e todos ficaremos com uma pergunta viva na cabeça: Quantos ;assassinos em série;, com atestado de psicopatia, saem das cadeias como se tivessem condições reais de ressocialização?

Luziânia

- Distante 60 quilômetros de Brasília, o município possui 110 mil habitantes.
- É uma das cidades mais violentas do Entorno do DF
- Registra o maior Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) da Região Centro-Oeste e o 15; em todo o país, comparado ao de 267 municípios com mais de 100 mil habitantes
- Na cidade goiana, em cada grupo de mil jovens de 12
a 18 anos, 5,4 morrem assassinados
- Apenas 10,7% dos homicídios e latrocínios registrados pela polícia do município de janeiro de 2009 a fevereiro de 2010 foram solucionados pela polícia
- Dos 94 desaparecimentos registrados, em 2009, no estado de Goiás, 56 aconteceram na cidade

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação