Cidades

Um possível sobrevivente do crime em Luziânia

Jovem diz ter sido abordado por Admar de Jesus no mesmo local onde os outros garotos sumiram. Ele ajudou a polícia no retrato falado

postado em 12/04/2010 09:00
O rapaz aceitou conversar com o Correio sob a condição de não ser identificado: ele teme que o assassino tenha um comparsaEm meio à tristeza das mães dos seis jovens, após a notícia de que os ossos encontrados numa propriedade particular de Luziânia podem ser de seus filhos, contrastava a alegria de uma moradora do mesmo bairro de onde os adolescentes desapareceram. Não era para menos. O primogênito dela pode ser o único sobrevivente do pedreiro que confessou à polícia ter assassinado as adolescentes. O Correio conversou com o garoto na tarde de ontem. Mesmo com o suposto assassino preso, estava assustado. Ele teme que tenha mais gente envolvida no crime. E explicou: ;Eu não acredito que ele tenha feito isso sozinho, pois o Divino e o Diego eram espertos;, justificou-se.

A pedido da mãe do jovem, não publicamos o nome ou qualquer dado pessoal que possa identificá-lo. O estudante do ensino fundamental conta que foi assediado por Admar de Jesus dois dias depois de Divino Lopes da Silva, 16 anos, o quarto jovem a sumir: em 13 de janeiro. O rapaz contou que estava caminhando para casa, perto do Parque Estrela Dalva 5, quando um homem em uma bicicleta teria se aproximado e perguntado quanto era a sua diária de trabalho. Confuso, ele disse que não sabia. E contou que foi novamente interpelado pelo desconhecido com uma pergunta mais específica: ;Você cobra quanto para descarregar umas telhas de um caminhão?;

O jovem morador disse que não fazia ideia de quanto valia a sua hora de trabalho. Então, transferiu a pergunta para o homem que o assediava: ;Quanto você paga?;. O estranho ofereceu R$ 30 e pediu para que o rapaz o acompanhasse. Os dois foram andando até o Parque Estrela Dalva 4. Lá, um carro de cor escura teria se aproximado deles e parado. O motorista abriu a porta e engatou um diálogo com o pedreiro. Desconfiado da cena, o rapaz aproveitou para fugir. ;Eu me escondi na casa do ex-marido da minha mãe. Quando saí, depois de algumas horas, ele já não estava mais lá, lembra.

Foi a partir daquele dia que o homem preso na tarde do último sábado passou a ser vigiado pela polícia. Com base nas descrições do rapaz assediado, os peritos do Instituto de Identificação da Polícia Civil de Brasília fez o retrato falado do suposto autor do desaparecimento de Diego, Paulo Victor, George, Divino, Flávio e Márcio. A exemplo das vítimas, ele também morava no Parque Estrela Dalva. Admar de Jesus confessou ter matado os seis jovens. Mas negou a participação de um comparsa.

Alívio e agradecimento
Emocionada, a mãe do único sobrevivente do assassino em série não esconde a alegria de ter o filho vivo. ;Agradeço a Deus, pois meu filho seria mais uma vítima desse monstro.; Em seguida, tenta consolar as mães das vítimas: ;Que Deus dê força para elas. Não queria estar no lugar delas;. Para concordar em dar a entrevista, ela foi incisiva: ;Não pode mostrar o rosto dele nem qualquer sinal que o identifique;.

O medo tem um sentido. Tanto a mãe quanto o filho acreditam que o suposto assassino tenha recebido ajuda. A hipótese não é descartada pelo chefe do Departamento de Polícia Judiciária de Goiás, Josuemar Vaz. Mas, por enquanto, não há indícios que comprovem isso. ;Ele (Admar) afirma que matou sozinho aqueles jovens;, afirma o policial.

A polícia acha que a versão do jovem entrevistado pelo Correio é fantasiosa. ;Eles agem assim porque se sentiriam envergonhados se contassem às mães que receberam dinheiro para se relacionar sexualmente com o assassino;, explicou uma fonte. O jovem, porém, refuta a tese policial. ;Ele (Admar) me ofereceu dinheiro para trabalhar. Quanto aos outros, não sei como ele os atraiu;, disse. Se a forma usada pelo assassino para fisgar as vítimas foi uma outra, isso não importa para a mãe do jovem. Ela se alegra de saber que ele continuará percorrendo as ruas de terra batida do pobre bairro do Parque Estrela Dalva.

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