Cidades

Prioridade é a vida particular

Nas primeiras horas de liberdade, Arruda adota o silêncio. De acordo com os advogados, o ex-governador quer rever a família, principalmente a filha, de um ano e meio, e cuidar da saúde

postado em 12/04/2010 07:00

Ana Maria Campos,
Noelle Oliveira
e Lilian Tahan

Com a barba branca e mais magro, o ex-governador José Roberto Arruda (sem partido) deixou a Superintendência da Polícia Federal (PF) andando devagar, abraçado à mulher, Flávia Arruda, duas horas e quinze minutos depois que a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou a sua prisão. Passou exatos 61 dias preso, período em que perdeu o mandato sob a acusação de infidelidade partidária. Não quis dar entrevistas. Coube ao advogado Nélio Machado anunciar os planos do ex-governador: ;Ele só quer voltar à casa dele, rever a filha, a família, cuidar de reorganizar a sua existência;.

Machado afirmou que Arruda não cogita discutir questões políticas e não vai se envolver na eleição indireta marcada para o próximo sábado, quando os deputados distritais vão eleger o novo chefe do Executivo para o mandato-tampão. ;Ele só quer paz e cuidar da saúde, que perdeu no cárcere;, sustentou o advogado. Nélio Machado acompanhou Arruda na saída da prisão. O ex-governador entrou no banco traseiro de uma Hilux prateada, com a mulher, direto para casa, no Park Way. O carro foi acompanhado por cerca de 15 simpatizantes. Na saída da PF, havia um grupo de partidários contra Arruda, mas eles não se manifestaram.

Em casa, Arruda recebeu amigos, familiares e companheiros de governo, como o ex-secretário de Governo José Humberto Pires e o ex-chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel, ambos também investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal no Inquérito n; 650, em curso no STJ. Um dos convidados foi o aposentado José Vieira Lopes, 72 anos, que fez plantão na porta da PF durante todos os dias no período em que Arruda esteve preso. Em uma das visitas diárias ao marido, Flávia Arruda prometeu a ele que providenciaria o encontro.

Várias pessoas entraram em carros de vidro escuro e não puderam ser identificados pelos jornalistas que acompanhavam o entra e sai na entrada da casa de Arruda. Do lado de fora, era possível ouvir orações e aplausos. Quem esteve com o ex-governador comentou que ele está muito abatido, fala baixo e chora. Seu cunhado, Fábio Perez, disse que Arruda não tinha intenção de dar qualquer declaração. ;Graças a Deus, ele está em casa e tudo isso acabou;, afirmou.

Arruda deve preparar, com os advogados, a defesa nos processos que responderá. Ele já é alvo de duas ações penais protocoladas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com base em investigações da subprocuradora-geral da República Raquel Dodge. Em uma das denúncias, Arruda é acusado de falsificar recibos de compra de panetones para justificar o recebimento de dinheiro das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa. Na outra ação, responderá pelo suposto suborno ao jornalista Edson Sombra.

Repercussão
Os distritais estavam apreensivos com o resultado que determinou a soltura de Arruda. Temem que de alguma forma o ex-governador possa influenciar no processo de eleição indireta. O sentimento é de que Arruda não teria condições psicológicas e nem tempo para se movimentar politicamente até sábado, quando está marcada a votação para o mandato-tampão no Distrito Federal. Mesmo assim, os parlamentares vão tentar manter um afastamento nos próximos dias e sugerem que Arruda faça o mesmo.

Alírio Neto (PPS) desaprova qualquer manifestação de Arruda sobre a votação do próximo sábado. O distrital acha que qualquer posicionamento do ex-governador aumentaria o clima de desconfiança e instabilidade do processo. ;O ideal é que pudéssemos finalizar a eleição indireta sem nenhum tipo de interferência. O melhor que Arruda pode fazer neste momento é deixar o universo político resolver essa crise sozinho;, disse. Durante a gestão de Arruda, Alírio foi secretário de Cidadania e Justiça. Na Câmara, era tido como um aliado.

Um dos principais articuladores da manutenção de Wilson Lima na chefia do Executivo, Izalci Lucas (PR) conta com o silêncio de Arruda pelo menos até sábado. ;Ele não teria cabeça para influenciar no processo, vai estar envolvido com as questões familiares. Não acredito que vá se expor a esse ponto depois de ter saído de prisão acusado de interferir num processo de investigação;, considerou Izalci, alçado à Presidência do PR por meio de um acordo político trabalhado em meados do ano passado pelo então governador, Arruda. À época, ele era secretário de Ciência e Tecnologia do GDF.


PF PEDE MAIS TEMPO
A Polícia Federal encaminhou ontem ao ministro Fernando Gonçalves, do STJ, o relatório parcial do inquérito da Operação Caixa de Pandora, desencadeada em 27 de novembro do ano passado. No documento, a PF pede prorrogação das investigações, já que ainda faltam novos depoimentos e análise do material recolhido durante duas buscas e apreensões realizadas neste período. O delegado Alfredo Junqueira, que comandaa apuração, encaminhou também, os resultados de várias perícias realizadas. No lote de anexos encaminhados ao STJ não consta, ainda, o resultado das quebras de sigilo bancário dos principais envolvidos na Operação Caixa de Pandora, que investiga o pagamento de propinas de empresários a servidores do Governo do Distrito Federal. Além disso, os investigadores ainda não conseguiram finalizar as análises de computadores apreendidos durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão. (Edson Luiz)



"Ele só quer voltar à casa dele, rever a filha, a família, cuidar de reorganizar a sua existência. Só quer paz e cuidar da saúde, que perdeu no cárcere"
Nélio Machado, advogado de José Roberto Arruda




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