A prisão do pedreiro Adimar Jesus da Silva, no início da tarde de sábado último, mobilizou 20 policiais civis goianos e federais. O grupo ocupou a casa em que ele vivia com a irmã, Irineia, o cunhado, Antônio, e dois sobrinhos, na Rua 29 do Parque Estrela Dalva 4. O pedreiro foi surpreendido pelos agentes ao entrar em casa, depois de ter doado sangue para um amigo internado no Hospital de Luziânia. De acordo com o chefe do Departamento de Polícia Judiciária, Josuemar Vaz, que comandou a operação, o pedreiro não tentou fugir ou reagiu à prisão. Diante das evidência teria confessado o assassinato dos seis adolescentes, desaparecidos entre dezembro e janeiro.
Mas o Correio apurou que o pedreiro somente admitiu a autoria dos crimes depois de a polícia ameaçar prender todos os seus familiares: a irmã, Irineia da Silva, o cunhado, Antonio, e dois sobrinhos, um deles morador do DF e em visita à família naquele dia. Todos acabaram sendo levados à Delegacia de Luziânia para prestar depoimento e liberados no sábado.
Na casa, os policiais reviraram todos os cômodos e armários. Foram encontradas uma bicicleta barra-circular vermelha, que seria de Márcio Luiz, uma Monark prateada, de propriedade de Flávio Augusto, e uma Ceci preta, utilizada pelo suspeito para ir ao trabalho e abordar as vítimas.
Adimar não depôs no sábado. Pernoitou na Delegacia de Luziânia, onde, extraoficiamente, indicou às autoridades policiais a localização de dois corpos. Os quatro restantes foram achados e retirados do local em que estavam enterrados no domingo. Ontem, à noite, Adimar começou a depor na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), em Goiânia, com a presença de policiais civis e federais.
Para o delegado Josuemar Vaz, à frente das investigações desde fevereiro, o pedreiro não contou com um cúmplice. ;O principal indício de que ele agiu sozinho é fato de continuar circulando sem medo nas ruas, porque não haveria testemunhas para denuncia-lo;, disse. O delegado-chefe da Divisão de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Wesley Almeida também acredita nessa hipótese. ;Acreditamos que ele não teve ajuda de terceiros nos assassinatos e na ocultação de cadáver. Ele é pedreiro e conhece o metiê;.
De acordo com Almeida, chegar ao pedreiro foi resultado do cruzamento de informações para reconstituir o núcleo familiar e o circulo de relacionamentos dos desapareidos. A esses dados se somou o levantamento sobre pessoas que teríam deixado a prisão em período coincidente com as datas dos crimes. ;Foi um trabalho de campo e cruzamento de dados;, afirmou o delegado federal. Quando os primeiros nomes de suspeitos surgiram, um adolescente de 13 anos que conseguiu escapar do assédio do pedreiro, chamado a depor na quinta-feira última, o reconheceu por meio de um retrato falado e uma foto de Adimar, na presença do promotor do caso Ricardo Rangel.
Acima de suspeitas
A vida pacata do pedreiro Adimar Jesus da Silva o excluía do rol de suspeitos óbvios. Era um homem de pouca fala e nunca sorria. Também não incomodava os colegas de trabalho. Recusava qualquer convite para ir ao bar ou outra atividade de lazer. Sexta-feira última ; na véspra da prisão ; o pedreiro faltou ao trabalho.
Gilson José Bueno, o mestre-de-obras do canteiro no Parque Estrela Dalva 3, não estranhou. É comum um operário braçal deixar de ir ao trabalho eventualmente. Mas Adimar também não foi trabalhar no sábado. E na manhã desse dia, uma pessoa trajando o uniformdos Correio e Telégrafos procurou por Adimar no canteiro.
O suposto carteiro queria saber onde o suspeito morava, em quais horários chegava e voltava para casa, com quem almoçava e quem o havia indicado para o emprego. O cunhado Antônio repassou todas as informações, sem desconfiar de coisa alguma. ;Ninguém suspeitou de nada;, disse João Rosendo, 68 anos, auxiliar de Gilson Bueno.
Havia dois meses o assassino confesso trabalhava em parceria com o cunhado na obra. Responsável por rebocar as casas em construção. Recebia R$ 1.000 por casa. Fizera o serviço de forma satisfatória em cinco delas. Na quinta-feira anterior à prisão, deixou a sexta obra incompleta. Pontual e assíduo, Adimar nunca foi visto sorrindo em serviço. Nunca fez uma pergunta aos colegas e jamais aceitou convites para ir ao bar, segundo o mestre-de-obra.
PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA
As mães dos seis jovens desaparecidos de Luziânia virão a Brasília, na quinta-feira, participar de uma audiência pública na Comissão dos Direitos Humanos (CDH) do Senado pedir que o pedreiro Adimar Jesus da Silva, 40 anos, seja transferido de Goiânia para a Superintendência da Polícia Federal, no Setor Policial Sul, e que o criminoso confesso seja julgado em um tribunal do Distrito Federal. ;Elas não acreditam que o assassino de seis jovens, por ser franzino, tenha cometido os crimes sozinho. Por isso, esperam que as investigações continuem em Brasília;, disse o presidente da CDH, senador Cristovam Buarque (PDT/DF).
Colaboraram Ary Filgueira e Saulo Araújo