postado em 15/04/2010 08:28
Serra Dourada (BA) ; A revolta contra Ademar de Jesus Silva não é percebida apenas onde o crime ocorreu. Moradores de Serra Dourada, no oeste baiano, cidade natal do assassino, estão indignados com as notícias que chegam ao pequeno município pela televisão. Nas ruas, não se fala em outra coisa.Quando toca no assunto, a população lembra de um caso que chocou a cidade há 20 anos, quando um homem foi morto na porta da delegacia após confessar ter estuprado e matado um bebê de 11 meses. ;Se esse caso dos meninos desaparecidos fosse aqui, iam fazer a mesma coisa com ele. A história ia se repetir. Ele não ia durar nem 24 horas vivo;, acredita a agente de saúde Terezinha Perpétua dos Anjos, 47 anos.
Ademar veio ao mundo com a ajuda de uma parteira em Riachão, povoado de Serra Dourada, a menos de 20km da entrada do município. Santana, para onde a mãe dele se mudou há três anos, fica distante outros 30km. ;É uma tristeza nossa região ficar conhecida por uma coisa ruim;, comenta Terezinha. ;A cidade vai entrar numa fama que não é do agrado de ninguém;, completa Maria Joana Silva, 64 anos, secretária da escola estadual e parente do assassino. ;Descobri que a avó dele é irmã da minha mãe;, conta.
Os familiares mais próximos de Ademar estão apreensivos. Temem ser alvo de alguma reação popular. Quando a equipe do Correio esteve na casa da mãe do assassino, na manhã de terça-feira, um dos irmãos, Domingos Jesus da Silva, 30 anos, recebeu uma ligação. ;Já estavam dizendo na cidade que era a polícia atrás da gente. Estamos com medo;, disse.
Medo
Rosa Amélia de Jesus da Silva, a mãe, 69 anos, desabafou: ;Tem gente com raiva da família toda. Eu já entreguei para Deus fazer o que Ele puder. Não penso mais nele (Ademar), agora penso nos outros filhos que estão lá e na gente aqui;. No Distrito Federal, ainda vive um casal de filhos de Rosa. Um deles, além de um neto, chegou a ser detido, acusado de envolvimento no caso dos meninos desaparecidos.
Domingos, que trabalha de motoboy em Santana, já sofre as consequências da notícia do crime cometido pelo irmão. ;Agora, fica a gente como suspeito também. Ele destruiu a vida dele e a nossa;, lamenta. ;Acabou tudo, acabou com a família;, diz outro irmão, o lavrador Manoel Messias da Silva, 48, conhecido como Nequinho. ;A gente não pode sair pra rua que o povo fica falando que é irmão do cara, a gente fica sem segurança assim;, acrescenta.