Cidades

Rotina de medo continua em Luziânia

Mesmo com a prisão do assassino confesso dos seis jovens, a comunidade do Parque Estrela Dalva se mantém apreensiva. Os pais levam os filhos à escola e não deixam que eles brinquem nas ruas

postado em 15/04/2010 08:53
No Parque Estrela Dalva, as crianças não andam mais desacompanhadas e só ficam na porta de casa: moradores creem na participação de mais pessoas nos assassinatos dos seis adolescentesA prisão do pedreiro Ademar de Jesus Silva, 40 anos, acusado de assassinar com requintes de crueldade seis jovens moradores de Luziânia (GO), não modificou a rotina de medo da cidade, principalmente no Bairro Parque Estrela Dalva, onde o autor e as vítimas residiam. Na rua onde o assassino confesso morava, no Parque Estrela Dalva 4, o movimento de crianças diminuiu bastante. As mães argumentam que o cárcere de Ademar(1) não trouxe tranquilidade. ;Muito pelo contrário. Fiquei mais apavorada quando soube que ele morava perto de mim. Acho que ele não fez isso sozinho e vou continuar proibindo meus filhos de saírem de casa sem a minha presença;, diz a dona de casa Nice Alves da Silva, 33 anos.

Para amenizar a ansiedade dos filhos de procurarem diversão na rua, ela investiu em brinquedos e estimulou mais o estudo dos dois garotos. ;Eu comprei vários brinquedos para evitar que eles saiam de casa. Também cobro mais estudo deles, que façam o dever de casa. Isso faz com que não tenham tempo de querer ficar batendo perna por aí e acabar dando de cara com outro maníaco;, completa Nice.

Nas escolas da cidade, o clima de insegurança também impera. Muitos jovens de 10 a 17 anos que tinham por hábito ir e voltar do colégio sozinhos, agora são acompanhados pelos pais. Alguns, como o porteiro Joaquim da Costa, 41 anos, e as donas de casa Wanderli Gonçalves Silva, 40, e Cleonice Caetano da Silva, 36, deixam os filhos dentro da sala de aula e só se ausentam quando o professor chega. ;Antes meu filho vinha sozinho, mas agora não dá para confiar. Vai que tem outro criminoso como esse monstro (Ademar) solto por aí;, justifica Joaquim.

Medida drástica
Já Wanderli, mãe de um aluno de 12 anos da 5; série do Colégio Professor Antônio Marco de Araújo (Cepema), abandonou o emprego de doméstica para poder levar seus dois filhos à escola. ;Um tem 17 anos e estuda de manhã. Outro estuda à tarde. Quando o terceiro garoto desapareceu, decidi largar o serviço. Meu marido é que está segurando sozinho as contas da casa. É melhor ser um pouco mais pobre do que ver um filho morto;, conta.

Cleonice é outra mãe que não confia mais em deixar o filho de 13 anos pegar o caminho da escola sem sua vigilância. Assim como a maioria dos moradores de Luziânia, ela não acredita que Ademar agia só, e cobra mais segurança para o Parque Estrela Dalva. ;Aqui perto da escola você até vê polícia, mas nas ruas do bairro é muito raro e lá é que mora o perigo;, reclama.

O sumiço dos seis jovens mudou drasticamente a rotina da escola Cepema. Os pais chegaram a fazer uma reunião com a diretoria pedindo que, em hipótese, alguma liberassem seus filhos antes de 12h30 e 17h30, horários das saídas dos alunos dos turnos matutino e vespertino. Antes, quando um professor faltava, o comum era que a direção abrisse os portões mais cedo. ;Só liberamos antes do horário da saída com a presença do responsável. Ainda está todo mundo assustado com essa tragédia. Temos que nos policiar sempre. No começo, os alunos reclamavam bastante, mas após esses acontecimentos eles têm consciência que essa medida visa preservar a integridade deles;, afirmou a diretora, Jaqueline Aparecida dos Santos Cristovam.

A presença de policiais no perímetro escolar também foi intensificada nos últimos meses. A Polícia Militar determinou que viaturas fiquem no local nos horários de entrada e saída dos estabelecimentos de ensino. Outra ordem diz respeito ao trânsito de pessoas suspeitas próximas às escolas. ;Os policiais estão atentos ao movimento de qualquer pessoa que apresente comportamento diferente nesses locais e a ordem é abordá-los;, informou um policial.

1 - Curta distância
Ademar de Jesus Silva morava no Parque Estrela Dalva 4, bem perto de suas vítimas. Diego Alves Rodrigues, 13 anos, residia a 300 metros de distância do seu algoz. Já Divino Luiz Lopes da Silva, 16, Flávio Augusto dos Santos, 14, Márcio Luiz Sousa Lopes, 19, e George Rabelo do Santos, 17, e Paulo Victor Vieira de Azevedo, 16, ou moravam ou trabalhavam em um raio de 700 a 2km de distância do assassino confesso.

O número
101
Total de dias que durou o mistério sobre o desaparecimento dos seis jovens em Luziânia

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