Cidades

Reviravolta na investigação do crime da 113 Sul

A filha do casal Villela presta depoimento na condição de suspeita de envolvimento no homicídio dos pais e da governanta da família

Guilherme Goulart
postado em 18/04/2010 07:23
A Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) cumpriu ontem mandado de busca e apreensão na casa de Adriana Villela, filha do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69. Ela ainda prestou depoimento no Departamento de Polícia Especializada (DPE), pela primeira vez na condição de suspeita de envolvimento no triplo homicídio ocorrido em 28 de agosto do ano passado na 113 Sul. Os Villela e a governanta da família, Francisca Nascimento da Silva, 58, foram assassinados a facadas no apartamento 601/602 do Bloco C.

Segundo fontes policiais ouvidas pelo Correio, a participação de familiares no crime aparece como uma das linhas de apuração seguidas pelos investigadores desde que o caso chegou às mãos da Corvida ; o inquérito ficou sob responsabilidade da 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, por três meses até que a Justiça determinasse a mudança para a unidade especializada em apuração de homicídios. Não se revelou o que a polícia recolheu na casa de Adriana, no Lago Sul. Mas é possível que documentos e computadores tenham sido retirados do local para análise.

A filha do casal de advogados esteve na Corvida ao longo da tarde de ontem, quando prestou esclarecimentos acompanhada de um advogado. Responsável pelas investigações, a delegada Mabel Faria tomou formalmente o depoimento. Enquanto isso, alguns familiares dos Villela esperaram Adriana em frente ao complexo da Polícia Civil do Distrito Federal. Mas deixaram o lugar sem falar com a imprensa. O mesmo fez Adriana, que não saiu da DPE pela porta principal.

Sigilo
Nem o coordenador da Corvida, delegado Luiz Julião Ribeiro, nem a delegada Mabel conversaram com o Correio. O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, atendeu a um telefonema da reportagem, mas se limitou a dizer que o caso segue em segredo de Justiça. A análise e os despachos para o mandado de busca e apreensão pedido pela delegacia especializada, por exemplo, foram encaminhados em um envelope lacrado. O Correio levantou ainda que a conclusão de laudos técnicos são esperados para esta semana.

O fato de Adriana Villela ter ido depor na Corvida acompanhada de um advogado causou estranheza ao advogado Aristóteles Ateniense, amigo do casal assassinado. ;Até porque eles ; Adriana e Augusto, filhos do casal ; sempre prestaram depoimento na condição de testemunhas;, explicou ele, em entrevista por telefone celular. O advogado também se surpreendeu com a condição de suspeito de um dos familiares mais próximos das vítimas.

O único tipo de acompanhamento jurídico que os familiares recebem, segundo Ateniense, é a orientação de outro advogado amigo dos Villela, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Pedro Gordilho. Ontem à noite, o Correio telefonou cinco vezes para Gordilho, mas ele não retornou as ligações.

Joias
Ateniense colaborou com as investigações do caso Villela em novembro passado. Compareceu à delegacia da Asa Sul na condição de amigo da família. Na época, ele avaliou se algumas joias e bijuterias apreendidas pela polícia pertenciam ao casal. Segundo ele, os objetos analisados eram de valor inferior aos roubados do apartamento das vítimas. Mas admitiu que um colar poderia ser de Maria Carvalho.

O caso completa oito meses de mistério no fim deste mês. Desde então, o que se sabe do triplo homicídio não vai muito além da dinâmica descrita pelos peritos do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil do Distrito Federal e das conclusões do Instituto de Medicina Legal (IML). Sabe-se que pelo menos dois homens invadiram, provavelmente pela porta dos fundos, o apartamento dos Villela no início da noite daquele 28 de agosto. O advogado e ex-ministro do TSE José Guilherme e a governanta Francisca acabaram surpreendidos na área de serviço. Os dois receberam, ao todo, 61 facadas. A advogada Maria Carvalho levou 12 golpes no corredor principal.

Cronologia
Confira os principais momentos do caso:

Agosto de 2009
; Dia 28 ; O casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e a principal empregada deles, Francisca Nascimento da Silva, 58, são assassinados a facadas no apartamento 601/602 do Bloco C da 113 Sul.

; Dia 31 ; A neta dos Villela contrata um chaveiro para abrir a porta do imóvel dos avós. Está acompanhada de três amigos policiais, que encontram os corpos e chamam a polícia. A 1; Delegacia (Asa Sul) fica à frente da investigação. Os cadáveres são recolhidos pelo Instituto de Medicina Legal.

Setembro
; Dia 1; ; Relatório do IML aponta que as vítimas levaram, ao todo, 73 facadas. A empregada recebeu 23 golpes. O corpo estava em corredor próximo à cozinha, ao lado do de Villela, atacado com 38 facadas. O cadáver de Maria foi localizado na entrada do closet, com 12 perfurações no tórax.

; Dia 7 ; Quase 10 perícias são feitas nos primeiros dias de inquérito. A polícia abre as linhas de investigação. Além da possibilidade de latrocínio (roubo com morte), há a de crime encomendado.

; Dia 29 ; A polícia prende o primeiro suspeito de participação no triplo homicídio. O homem, identificado como D., é acusado de pistolagem e envolvimento com grupo de extermínio ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa de São Paulo. A polícia o prende em um Astra roubado, onde havia vestígios de sangue.

Outubro
; Dia 2 ; A Justiça concede mais 30 dias para que o inquérito seja concluído.

; A polícia prende o segundo envolvido no caso. A. acaba detido porque testemunhas o viram, acompanhado do primo D., na 513 Sul, na noite do crime.

; Dia 15 ; A polícia estima que os assassinos fugiram com US$ 700 mil em espécie e ao menos 12 joias. Parte do dinheiro e dos objetos estava em um fundo falso do closet.

; Dia 21 ; A delegada Martha Vargas, chefe da 1; DP, divulga fotos e desenhos de 12 joias roubadas do apartamento dos Villela. O item mais caro, um colar de diamantes, é avaliado em US$ 28 mil.

Novembro
; Dia 3 ; Após denúncia, a polícia prende dois homens. Eles viviam em uma casa em Vicente Pires, onde a polícia encontra uma chave do apartamento dos Villela.

; Dia 4 ; Expedidos os mandados de prisão contra os dois detidos.

; Dia 6 ; O Instituto de Criminalística divulga laudo sobre a dinâmica parcial do crime. Pelo menos dois bandidos invadiram o apartamento e usaram duas facas para matar as vítimas.

; Dia 11 ; A Justiça manda que a investigação saia da 1; DP e seja encaminhada para a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida).

; Dia 13 ; Mais um suspeito acaba detido. Agora, são três presos: Cláudio José de Azevedo Brandão, 38 anos, Alex Peterson Soares, 23, e Rami Jalau Kaloult, 28.

; Dia 21 ; Depois de 10 dias, a polícia cumpre ordem judicial e faz a primeira reunião da força-tarefa designada para resolver o mistério. Há representantes de duas delegacias especializadas, da Corregedoria da Polícia Civil e da 1; DP.

Dezembro
; Dia 3 ; O Tribunal do Júri de Taguatinga manda soltar Cláudio Brandão por falta de provas.

; Dia 5 ; Os outros dois detidos também acabam liberados. No mesmo dia, a delegada Martha Vargas, chefe da 1; DP e à frente do inquérito por mais de três meses, pede afastamento do caso.

; Dia 10 ; Implode a força-tarefa organizada para desvendar o crime. Um dos motivos seria a perda do prazo para a prorrogação das prisões de Cláudio José e Alex Peterson. A investigação, assim, fica concentrada na Corvida.

Janeiro de 2010
; Luiz Julião Ribeiro e Mabel Faria ; delegados da Corvida à frente do caso ; voltam a ouvir empregado e moradores do Bloco C da 113 Sul, além de ir à cena do crime, o apartamento 601/602 daquele prédio. Os policiais têm por característica não dar informações sobre a investigação antes de ela estar concluída.

Fevereiro
; Dia 28 ; O crime da 113 Sul completa seis meses e continua sem solução.

Abril
; Dia 17 ; Policiais da Corvida cumprem mandado de busca e apreensão na casa da filha dos Villela, Adriana. Ela depõe na delegacia especializada.

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