A notícia da morte de Ademar de Jesus da Silva, assassino confesso dos seis garotos de Luziânia (GO) caiu como uma bomba entre as famílias das vítimas. Cada uma das mães dos garotos reflete dores e sentimentos de forma diferente, mas todas são unânimes ao afirmar que a morte de Ademar pode contribuir para que detalhes dos crimes nunca venham a ser revelados. A maioria delas também duvida que ele tenha, de fato, se suicidado. Para essas mães, o pedreiro teria sido eliminado para levar com ele algum segredo. A reportagem do Correio também procurou a família de Ademar, que acabou mudando de bairro na semana passada.
Ontem, um dos garotos mortos, Márcio Luiz Souza Lopes completaria 20 anos. Para homenageá-lo, a família organizou uma missa. Ao voltar para casa, a mãe do rapaz, Maria Lúcia do Souza Lopes, soube da morte do algoz do filho. Sentou-se na calçada e ficou observando os carros que passavam, com o olhar perdido. As palavras quase não saíam. ;Ela diz que não sentiu nada com a morte do Ademar, porque seu coração já está ocupado com a perda do filho;, afirma a irmã de Márcio, Lúcia Maria Souza Lopes. O restante da família, no entanto, ficou revoltada com a notícia. ;A morte dos meninos ficou impune. Vai ficar por isso mesmo? O Ademar não sofreu tanto quanto as pessoas que matou;, protesta Lúcia Maria.
Aldenira Alves de Souza, mãe de Diego Alves Rodrigues, soube da morte do pedreiro pela televisão. ;Isso é queima de arquivo. Ou será que alguém lá de dentro ajudou ele a fazer isso?;, questiona. Ela acredita que o homem não teria agido sozinho quando atacou os jovens, já que relatos de adolescentes que conseguiram escapar do assédio de Ademar mencionam um comparsa que acompanhava, dirigindo um carro, os passos do maníaco. Apesar da morte do assassino confesso, as mãe garantem que darão continuidade à luta para alterar a legislação e impedir que criminosos condenados pela prática de crimes hediondos tenham direito à progressão de regime. Logo que soube da notícia, a mãe de Diego recortou um coração, feito em tecido preto, e o afixou com pregos na parede externa da casa. Diz que é assim que está seu coração, negro, de luto. ;Por que ele não se matou antes de levar os nossos filhos?;, revolta-se.
Quem avista a fachada da casa de outra vítima de Ademar, o garoto Divino Luiz Lopes da Silva, também vê, de imediato, um cartaz com a foto do rapaz. A mensagem está lá desde que a mãe dele, Mariza Pinto Lopes, registrou o desaparecimento. ;Na verdade, ainda acredito que meu filho possa estar vivo. Só ficarei convencida após o DNA; afirma. O resultado do teste (1)deve ser divulgado esta semana. Segundo ela, a morte de Ademar era temida pelas famílias. ;Vai ficar mais difícil descobrir o que realmente ocorreu;, afirma.
Mudança
Cirlene Gomes, mãe de George Rabelo dos Santos, mudou-se para outro bairro, mas os pais continuam morando em uma casa na mesma rua. Apesar da notícia, a avó do garoto, Virgínia Rabelo, ainda tem esperanças de que as circunstâncias dos crimes sejam elucidadas. ;Deus sabe de tudo. Assim como mostrou as ossadas dos meninos, vai mostrar quem agiu com ele;, acredita.
;Muitas perguntas ficaram sem respostas;, lamenta Valdirene Fernandes da Cunha, mãe de Flávio Augusto dos Santos. Segundo ela, as famílias das vítimas já teriam conversado a respeito do medo de o preso sofrer algum tipo de agressão na prisão, em Goiânia, e não duvidam da possibilidade de que ele tenha sido assassinado. ;Ele não era um ser humano, era só a casca, por matar meninos que não podiam se defender;, desabafa.
;Vou morrer com a crença de que ele não agiu sozinho;, ressaltou Sônia Vieira, mãe de Paulo Victor Vieira. Segundo ela, Ademar não teria porte físico para levar garotos tão robustos a um lugar tão ermo e enterrá-los. Ela também ficou preocupada ao saber que o pedreiro ficaria preso em Goiânia. Juntas, as famílias chegaram a negociar a transferência do assassino para Brasília. ;Mas a gente não vai abaixar a cabeça. Foi lutando que chegamos a ele. Então, podemos ir adiante;, acredita. Quando soube que o pedreiro teria admitido ter matado os jovens, ela estendeu uma bandeira de luto no muro de casa.
Na manhã de hoje, os familiares dos garotos têm encontro marcado para decidir detalhes do sepultamento, cuja data ainda não foi confirmada. ;Será um enterro coletivo;, adianta Sônia Vieira. Neste dia, cada uma das mães fará uma homenagem ao filho. ;Os 23 sobrinhos de Márcio farão um ensaio para cantar a música favorita dele, Faz um milagre em mim, de Regis Danese;, afirma a irmã Lúcia Maria Lopes. Valdirene Fernandes pretende exibir imagens de Flávio em um telão. As outras mães ainda não decidiram o que farão para lembrar a memória dos filhos.
1 - Exame genético
Após ser preso, Ademar de Jesus Silva levou os policiais ao local onde teria enterrado os jovens, na Fazenda Buracão, em Luziânia (GO). Os seis corpos foram encontrados e submetidos a exame de DNA, mas o resultado ainda não foi revelado. Ontem, familiares de uma das vítimas encontraram uma nova ossada nas proximidades das covas dos rapazes. O Insituto Médico Legal (IML) da cidade examina o material.
Mariza Pinto Lopes, mãe de Divino Luiz Lopes da Silva
"A gente não vai abaixar a cabeça. Foi lutando que chegamos a ele (Ademar). Então, podemos ir adiante"
Sônia Vieira, mãe de Paulo Victor Vieira
"Muitas perguntas ficaram sem respostas. Ele não era um ser humano, era só a casca"
Valdirene Fernandes da Cunha, mãe de Flávio Augusto dos Santos