Cidades

Família na Bahia soube da notícia pela TV

postado em 19/04/2010 07:00
; Thaís Paranhos Especial para o Correio A notícia da morte de Ademar de Jesus Silva, 40 anos, abalou, mais uma vez, a família do assassino confesso de seis jovens que sumiram de Luziânia desde o fim do ano passado. O irmão do pedreiro, o motoboy Domingos Jesus da Silva, 30 anos, estava em casa na tarde de ontem, na cidade de Santana, localizada no interior da Bahia, quando soube que Ademar estava morto. Ele assistia à televisão sozinho, quando viu a notícia e correu para avisar a mãe, que estava em outro cômodo da residência. Rosa Amélia de Jesus da Silva, 69 anos, passou mal e precisou ser levada ao hospital da região. ;A gente fica muito sentido com o que aconteceu;, disse Domingos ao Correio. Por volta das 14h, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) encontrou o corpo do pedreiro na cela e confirmou a morte. Ele ficava isolado em uma área da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc) em Goiânia por questões de segurança. No interior baiano, a família de Ademar, ou Negão, como era tratado pela mãe e pelos nove irmãos, mais uma vez, soube da tragédia pela TV. ;Não esperava que isso pudesse acontecer com o meu irmão, apesar de acreditar que ele não estava seguro lá;, lamenta Domingos. Logo após saber da morte, ele procurou uma lan house para conseguir mais informações sobre o que havia ocorrido. Até o fechamento desta edição, Domingos ainda aguardava uma ligação da irmã que mora em Luziânia para saber mais detalhes. O próximo passo da família será procurar um advogado, ainda na manhã de hoje. A intenção deles é levar o corpo de Ademar para ser enterrado em Santana. ;Vamos procurar saber se a Justiça vai liberar o corpo dele para vir para cá;, ressaltou Domingos. Ele também não soube dizer se os filhos ; uma moça de 18 anos e um de adolescente de 14, que vivem com os avós maternos em Serra Dourada, também na Bahia ; estavam sabendo da morte do pai.
;Vontade de Deus; Domingos não falava com Ademar havia oito anos. Já Rosa esteve com o pedreiro no fim do ano passado, depois de ele deixar a Papuda. O pedreiro foi condenado a 15 anos de cadeia por ter abusado sexualmente de dois meninos ; um de 13 e outro de 11 ; em novembro de 2005, no Distrito Federal. Mãe e filho passaram o Natal e ano-novo juntos em Luziânia, onde Ademar morava com uma irmã, no Parque Estrela Dalva, mesmo local onde os jovens residiam. O primeiro dos adolescentes que o pedreiro confessou ter matado, Diego Alves Rodrigues, 13 anos, desapareceu em 30 de dezembro. Rosa só voltou para a cidade onde vive em 12 de janeiro. Nessa data, Ademar já tinha feito duas vítimas. Na semana passada, a mãe do pedreiro conversou com a equipe do Correio, em Santana. Com sofrimento, ela disse que não entende por que o filho confessou ter cometido crimes tão bárbaros no município goiano, localizado a 700 km de Santana. ;Tenho certeza de que eduquei bem meus filhos. Se Negão não aprendeu, é porque a cabeça dele não deu;, disse ela, durante a entrevista. Rosa já perdeu outro filho assassinado, há 18 anos. Na mesma entrevista, ela disse se solidarizar com o sofrimento das mães de Luziânia. ;Deus me perdoa, sou mãe, mas se um desses meninos tivessem matado ele, acho que ele não ia sofrer tanto. Fico contente que ele está preso, mas tenho dó, sei que não vou ver mais meu filho. E não posso fazer nada. Agora, é esperar pela vontade de Deus.; ; Memória Tragédias sucessivas Longe da Bahia, onde tinha um mandado de prisão por tentativa de homicídio que não foi informado à Justiça do DF, Ademar de Jesus Silva, 40 anos, pai de dois filhos, foi condenado em 10 de fevereiro de 2005 por ter abusado de dois meninos, de 13 e 11 anos. De acordo com o processo, o homem atraiu os garotos com a promessa de dar dinheiro em troca de serviços de pedreiro. Os crimes ocorreram em Águas Claras e no Núcleo Bandeirante. Ademar foi preso em flagrante, após uma das vítimas denunciá-lo na delegacia. Na sentença, o juiz Gilmar Tadeu Soriano teceu o seguinte comentário sobre Ademar: ;Quanto à personalidade, comprovado tratar-se de pessoa que não possui boa índole;. À época, Ademar pegou 15 anos de cadeia. Mas, em 6 de setembro de 2007, a Justiça acatou parcialmente a apelação da defesa do pedreiro e reduziu a pena para 10 anos e 10 meses de reclusão. Em 23 de dezembro do ano passado, diante do seu bom comportamento na cadeia e de um laudo psicológico que atestava que ele não era doente mental, o juiz Luiz Carlos de Miranda concedeu o benefício de progressão de pena a Ademar. Uma semana depois, ele começa a matar. A decisão de Miranda causou polêmica. Na semana passada, ele quebrou o silêncio e disse que agiu de acordo com a lei e que ;faria de tudo de novo;. Na última quinta-feira, a promotora Maria José Miranda pediu à Justiça a regressão de pena do pedreiro, para ter a garantia de que ele não seria solto. O assassino confesso dos seis jovens de Luziânia morava no Parque Estrela Dalva 4, a poucos metros de algumas de suas vítimas. Ele teria abordado no bairro pobre do município goiano pelo menos mais seis garotos. O argumento era o mesmo: o pedreiro oferecia serviço em troca de dinheiro. Ele foi preso no último dia 11. Mostrou, no dia seguinte, o local onde os corpos dos seis adolescentes estavam enterrados na Fazenda Buracão, localizada a 1,8 km da entrada de Luziânia e a 1km da casa onde o pedreiro morava com a irmã. Em um depoimento confuso em Goiânia, pediu que fosse submetido a um tratamento psicológico.

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