postado em 19/04/2010 08:38
O cientista e agrônomo americano George Washington Carver, certa vez, disse que ;a distância que você consegue percorrer na vida depende da sua ternura para com os jovens, da compaixão pelos idosos, da solidariedade com os esforçados e da tolerância para com os fracos e os fortes, porque chegará o dia em que você terá sido todos eles.; Partindo desse princípio, Juliano Lenner tem centenas de quilômetros pela frente. Com apenas 18 anos, o jovem de Uruguaiana, extremo oeste do Rio Grande do Sul, já tem quatro de intensa experiência em trabalho voluntário e encara a ajuda que presta a idosos, usuários de drogas, crianças carentes e soropositivos como um projeto de vida.O despertar de Juliano para o voluntariado aconteceu em um universo bastante diferente da caridade. Sua altura e porte físico ; hoje ele tem 1,89m ; o puxaram para o mundo da moda. Certa vez, após um desfile, uma senhora lhe disse que ele também era responsável pelo futuro do Brasil. ;Lembro que passei muito tempo pensando nisso. Aí, um dia vi na televisão um político sendo acusado de corrupção e pensei: ;Não quero ser como ele. Tenho que fazer alguma coisa;;, conta. Ele tinha 14 anos. Juntou-se a alguns colegas na escola e montou o grupo Mãos Amigas. ;Atendíamos muitas vítimas de enchentes e famílias carentes. Distribuíamos sopa e compramos, com dinheiro do nosso bolso, barracas de lona para abrigar as pessoas.; O projeto deu tão certo que a escola abraçou a causa e toca as ações até hoje.
Só o Mãos Amigas não bastou. Juliano se juntou ao Grupo Uruguaianense de Apoio e Prevenção à Aids (Guapa). À época, o Guapa atendia cerca de 1.200 famílias de soropositivos, distribuindo cestas básicas e coquetéis de medicamentos. Como Uruguaiana faz fronteira com a Argentina, muitas parcerias foram firmadas entre ao grupo de Juliano e entidades de prevenção do HIV do país vizinho. ;Não existe nada melhor do que ver uma pessoa sentir que alguém se importa com ela e que ela pode ter uma vida normal, mesmo tendo uma doença como a Aids;, avalia.
Cachê revertido
O contato de Juliano com os hermanos ia além do trabalho contra a Aids. Pelo menos cinco vezes ao mês, ele viajava até Buenos Aires, capital argentina, para desfilar ou fotografar para campanhas de publicidade. Os cachês eram bons: o modelo conseguia ajudar em casa e aos outros. Uma vez, durante uma sessão de fotos, comentou com sua agente que doaria todo o cachê para o Guapa. A reação da empresa que o contratou foi, para ele, surpreendente: ;Eles aumentaram o meu cachê;.
A disposição do jovem deve vir de um poço sem fim. Além do trabalho não remunerado, ele assumiu o grêmio do colégio. Foi eleito por 1.200 estudantes. Os votos seriam suficientes para elegê-lo vereador de Uruguaiana, cidade de quase 130 mil habitantes. A popularidade chamou a atenção dos próprios candidatos à Câmara de Vereadores, que se aproximaram para pedir o apoio do jovem. ;Dois candidatos que conheci venceram. Mais tarde, quando precisei deles para garantir comida às famílias atendidas pelo Guapa, não hesitei. Não tenho filiação partidária, mas acho importante usar os contatos que a gente tem para fazer o bem.;
Em dezembro do ano passado, Juliano resolveu passar o ano-novo com o irmão que mora em Brasília. Nunca mais voltou para o Rio Grande do Sul. A capital brasileira lhe deu a chance de cursar administração hospitalar. Na cidade natal, ele também trabalhava na Santa Casa de Caridade, onde prestava assistência a usuários de drogas. Uma vez abriu a porta de um dos quartos e encontrou um colega dos tempos da 8; série. O discurso que tinha minguou, mas teve ali outra confirmação da importância do trabalho que desenvolve. ;Tento mostrar às pessoas, principalmente àquelas que têm mais ou menos a minha idade, que existem outras formas de levar a vida, de se divertir, de encarar os problemas, e esse caminho nunca passa pelas drogas.;
Aqui, largou a carreira de modelo. Em um mês, voluntariou-se para trabalhar em um lar de velhinhos. É o único. ;Nenhum deles pediu para estar deitado em uma cama sem conseguir se alimentar, tomar banho, ir ao banheiro sozinho. Se nós não ajudarmos, quem vai fazê-lo? Gostaria que tivesse alguém para fazer o mesmo por mim se um dia eu estiver nessa situação;, diz. Juliano rapidamente conquistou os idosos. Algumas senhoras chegam a debater quem vai se casar com o rapaz ou apresentá-lo para uma neta.
Como o leitor já sabe, Juliano não gosta de horas vagas. Deve começar em breve a colaborar com a Associação Evangélica de Assistência Social de Brasília. Ele vai na pista dos tios, com quem mora desde que chegou a Brasília, e que ajudam a Betel (Casa de Deus, como é conhecida a associação) há 25 anos. O principal objetivo da Betel é assitir crianças desamparadas pelas famílias. Juliano não poderia estar mais animado. ;Se alguém descobrir algum trabalho mais gratificante que o voluntário, me avise;, conclui.
COLABORE
A Betel sobrevive exclusivamente de doações. O telefone para contato é 3224-3843 ou 9963-0237. Doações em dinheiro também podem ser feitas no BRB, Agência 208, conta-corrente 617407-6.
O número
1.200
Número de famílias de soropositivos atendidas pelo grupo no qual Juliano trabalhava, também como voluntário, em Uruguaiana (RS)