; Diego Amorim
Enviado especial
Goiânia (GO) ; A morte de Ademar de Jesus Silva, assassino confesso de seis adolescentes em Luziânia (GO), no domingo último, ;aniquila; as investigações sobre os crimes que chocaram o país. É o que pensam os promotores de Goiás que acompanham as investigações do caso. Durante coletiva na tarde de ontem, em Goiânia, eles criticaram a exposição do preso pela polícia, antes da conclusão do inquérito, e classificaram como ;inadmíssivel; a morte dele. Para o procurador-geral de Justiça, Eduardo Abdon Moura, independentemente de ter sido suicídio ou não, o Estado tem responsabilidade pelo ocorrido.
Por ora, o MP não abrirá investigação própria, mas acompanhará de perto o trabalho da Corregedoria da Polícia Civil. Ademar foi encontrado morto em uma cela de 6m; ; onde ficava sozinho ; da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), na capital goiana, no último domingo. Presos de uma cela vizinha à de Ademar serão ouvidos. Os dois agentes plantonistas também. O MP ainda quer ter acesso às imagens do circuito interno da delegacia, que registra apenas a movimentação na entrada e nos corredores da unidade policial.
O procurador-geral evitou dizer claramente que a polícia errou, mas deixou claro que o Estado poderá responder civil e criminalmente, caso seja comprovado algum tipo de negligência. ;É muito prematuro fazer qualquer julgamento, mas a questão é que qualquer pessoa sob a custódia do Estado precisa ter a sua integridade física preservada;, afirmou. ;A morte de Ademar foi inadmissível e inaceitável. A responsabilidade civil do Estado existe. A criminal será apurada;, completou Rodrigo Rangel, promotor de Justiça de Luziânia.
Durante a coletiva, Rangel estava visivelmente irritado com a reviravolta no caso. ;Ele (Ademar) saiu de Luziânia e veio para cá (Goiânia) porque era imprescindível às investigações e aí acontece esse tipo de ocorrência que, de certa forma, aniquila o trabalho. É lamentável. A morte dele traz consequências irreversíveis ;, comentou. Segundo o promotor, o arquivamento do processo não será imediato, mas reconheceu que será difícil avançar em alguns pontos e que o caso chegará ao fim sem todas as dúvidas respondidas.
Rangel acusou a polícia de ter quebrado o sigilo do inquérito ao permitir que Ademar desse entrevistas e prestasse depoimento à CPI da Pedofilia, do Senado. ;A polícia errou, se precipitou. Tinha que ter preservado as investigações e resguardado o sigilo;, disse. ;E se, por acaso, os laudos apontarem que algum dos corpos achados não é de um dos adolescentes desaparecidos? E aí, o que vamos fazer?;, completou, antes de reforçar que, ao permitir a exposição de Ademar, a polícia deu espaço para que ele ;manchasse a imagem; dos garotos assassinados.
Sem dúvidas
Sobre a versão de suicídio apresentada pela polícia e confirmada pelo médico-legista responsável pela necrópsia do corpo (leia reportagem na página seguinte), o promotor de Luziânia afirmou que não duvida, porém, chegou a questionar: ;Como uma pessoa tão exposta arranjou tempo, espaço e instrumento para se matar?;. ;O Estado, em tese, terá que pagar indenizações à família das vítimas, e agora poderá, quem sabe, ter que indenizar a de Ademar. Olha que absurdo! Não tem o mínimo cabimento;, argumentou.
A pedido do Ministério Público de Goiás, o corpo de Ademar Jesus da Silva só será liberado pelo Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia após a divulgação do resultado dos exames já realizados e a confirmação de que nenhum outro será necessário. ;Vamos ter que contar com a compreensão da família;, disse o procurador-geral, Eduardo Abdon Moura. Até o fim da tarde de ontem, nenhum parente de Ademar esteve no IML. No domingo, um irmão dele disse ao Correio que a intenção era realizar o enterro em Serra Dourada, no oeste baiano, onde o pedreiro nasceu e onde vive a mãe, Rosa Amélia de Jesus Silva, 69 anos.
Para hoje, estão agendados cinco depoimentos, segundo o corregedor da Polícia Civil de Goiás, Sidney Costa e Souza. Serão ouvidos mais três presos da cela vizinha à de Ademar e os dois agentes que estavam de plantão no último domingo. Quatro detentos foram ouvidos no mesmo dia da morte do pedreiro. De acordo com o corregedor, não será necessário pegar os depoimentos de todos os 11 da cela vizinha. Ao Correio, o agente Carlos Augusto Dias, na polícia há 13 anos, contou que nunca havia presenciado uma cena de suicídio.
A delegada titular da Denarc, Renata Cheim, ainda será ouvida formalmente. No domingo último, o corregedor elogiou o trabalho dela e disse acreditar na versão do suicídio. Até o fim desta semana, ele espera ter acesso às imagens do circuito interno. O promotor do grupo de repressão ao crime organizado do MP de Goiás, Carlos Luiz Wolff de Pina, está responsável por acompanhar as investigações. ;Por enquanto, não há divergência nos depoimentos, mas vamos esperar o resultado da perícia;, disse.
Trechos da coletiva de três representantes do Ministério Público de Goiás