Parte da história de Brasília está guardada em músicas. A cidade tem o poder de inspirar artistas daqui e de várias cidades a musicarem suas impressões sobre a capital. O céu inconfundível, o Planalto Central e o Parque da Cidade, entre muitos outros cenários, aparecem em composições de Renato Russo e Oswaldo Montenegro, por exemplo. Com a chegada do cinquentenário, professores do Centro de Educação Profissional Escola de Música(1) de Brasília encontraram um jeito especial de homenagear a cidade: optaram por apresentar as canções que falam daqui para gente muito pequena.
Com idade entre 8 e 13 anos, a geração dos alunos do coral e da musicalização infantil não viveu o auge da Legião Urbana e não viu gente como Zélia Duncan (nascida no Rio de Janeiro) desenvolver carreira em Brasília e tomar projeção nacional. Desde o início do semestre, os educadores apresentam a 180 estudantes o universo musical envolvendo nomes que viveram ; ou ainda vivem ; muito próximos de onde as crianças se encontram agora.
A intenção é apresentar um espetáculo com sete músicas, em junho, fim do primeiro semestre letivo. Na manhã de ontem, esmerado, um grupo de 30 meninos e meninas soltou a voz, em uma prévia da apresentação. Três canções compõem o repertório dos pequenos: Leo e Bia, de Oswaldo Montenegro; Brasília, poema de amor, de Paulo Burgos e Maria Valéria; e Brasília, cidade céu, de Cid Magalhães.
Durante as aulas, eles pesquisam a histórias por trás de músicas de compositores e grupos da cidade, como Paralamas do Sucesso, Renato Vasconcelos e Liga Tripa. Os professores incluíram no repertório canções que consideraram importantes para Brasília, como Catedral, composta por Tanita Tikaran e interpretada por Zélia Duncan. Peixe vivo, gravada por Milton Nascimento, não poderia faltar, por ser uma das preferidas de Juscelino Kubitschek.
Temas preferidos
As crianças parecem cada vez mais envolvidas com o desafio de conhecer a rica cultura musical da cidade onde nasceram. ;Eles são daqui e essas músicas retratam a verdadeira Brasília, com suas belas paisagens, belezas, pessoas, largas avenidas e história;, ressalta a professora Idelvânia Oliveira. Foram feitos novos arranjos, adaptados às vozes infantis. A responsável pela adequação é a professora Ester Leal. ;O semestre girou ao redor desse tema: o aniversário de Brasília. Pedimos sugestões deles para músicas e muitos pediram para incluir, por exemplo, (trabalhos de) Renato Russo. Nós respeitamos as preferências deles. A maioria nasceu aqui, mas conhecia pouco dos compositores locais e que fizeram carreira na cidade;, disse Idelvânia.
Nicolas Lucas Genuíno, 9 anos, morador de Samambaia, era um dos mais empolgados na apresentação de ontem: ;Acho a cidade toda bonita. Não sabia que tanta gente achava isso também e fazia música para dizer. Gostei de descobrir isso na aula. Eu canto desde pequeno e quero ser cantor quando crescer;. A preferida de Amarintia Rezende, 9 anos, moradora do Gama, é Leo e Bia. ;Fala de amor. Escuto desde muito pequena e só descobri agora que fala também de Brasília. Me sinto bem cantando e aprendendo todas essas coisas;, afirmou a menina.
1 - Talentos sob mira
O Centro de Educação Profissional Escola de Música de Brasília é uma instituição de ensino básico e técnico mantida pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Promove a educação profissional, buscando o desenvolvimento de competências e habilidades musicais de crianças, jovens e adultos, tendo em vista a formação para a cidadania e o mundo do trabalho.
Para saber mais
Tons locais
O sociólogo Eladio Palencia estuda desde 1997 as canções que falam da capital. O tema foi tratado por ele no mestrado em sociologia na Universidade de Brasília (UnB) e abordado em novas pesquisas durante seu doutorado. Nos estudos, ele identificou três gêneros de composição musical sobre a cidade: Brasília mítica, Brasília épica e Brasília sem aura.
O primeiro deles remete aos anos em que a cidade estava sendo projetada e começava a sair do papel. A canção símbolo dessa época seria Brasília ; Sinfonia da Alvorada, poema sinfônico de Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim criado a pedido de Juscelino Kubitschek. O segundo remete aos primeiros anos da cidade, cheios de esperança. E o último é referente à época de composições de protesto, como as da Legião Urbana e da Plebe Rude.