Cidades

Pente-fino nos contratos no primeiro dia do novo governo

A primeira edição do Diário Oficial do DF na atual administração do Executivo traz dois decretos que abrem investigações em todos os acordos firmados e suspende a concessão de lotes pelo Pró-DF e pela Codhab

postado em 21/04/2010 08:24
Os dois primeiros decretos de Rogério Rosso (PMDB) como governador do DF tem propósito policial. Um deles determina auditoria em todas os contratos da administração. O outro manda suspender por 30 dias a concessão de terrenos do Pró-DF e de lotes da Companhia Habitacional do DF (Codhab). O objetivo é apurar as denúncias reveladas pelo Ministério Público e pela Polícia Civil na Operação João de Barro, que investiga indícios de corrupção na doação de áreas por meio da Codhab.

Em função dos dois decretos, o Diário Oficial do DF que deveria ter circulado ontem demorou mais para ser rodado. Até o início da noite, a equipe de juristas do novo governo aprontava os últimos detalhes do texto informando o início das auditorias nos contratos e a blitz na Codhab. A publicação oficial que circulará hoje com a data de ontem informará as áreas responsáveis por conduzir o pente-fino pedido pelo governador.

Ao impor investigação como primeira medida de governo, Rogério Rosso tenta marcar uma postura moralizadora. É a chance que tem para causar um impacto positivo sobre sua gestão. E Rosso não tem tempo a perder. Está pressionado pelo calendário eleitoral, o da Justiça, que ainda vai julgar o processo de intervenção e o do próprio mandato, com data para terminar em 31 de dezembro.

Os contratos, especialmente os ligados à informática, foram a base do escândalo revelado pela Caixa de Pandora. Segundo as denúncias que deram início ao Inquérito n; 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), deputados e integrantes do governo negociavam propinas com os empresas prestadoras de serviço para o GDF.

Na última quinta-feira, o Ministério Público e a Polícia Civil prenderam um servidor da Codhab, Lester Sebastião, indicado pelo deputado Paulo Roriz, acusado de cobrar propina para fraudar a lista de lotes destinados a policiais e bombeiros militares. Um corretor de imóveis, Fábio Neri, também foi preso e admitiu ter negociado o dinheiro. Há suspeitas da participação de mais pessoas ligadas a outros deputados na Operação João de Barro.

Convênio renovado
Um dos últimos atos de Wilson Lima (PR) como governador interino do DF foi renovar o contrato com a Linknet, empresa de informática citada no inquérito da Operação Caixa de Pandora como uma das supostas fornecedoras de propina para a cúpula do governo local em troca de benefícios em convênios. A prestação de serviço de locação de microcomputadores, notebooks e estabilizadores de tensão foi estendida por 12 meses. A assessoria de imprensa do governador Rogério Rosso informou que a prorrogação decorria de uma licitação antiga e foi suspensa ontem.

O dono da empresa, Gilberto Lucena, é investigado pela Polícia Federal e pela CPI da Codeplan, da Câmara Legislativa. No último dia 6, ele ficou calado ao depor na comissão sobre as supostas irregularidades nos contratos com o GDF. Lucena foi filmado pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa negociando o pagamento de dinheiro ilícito em troca de favores em contratos. Na gravação, o empresário cita o percentual entregue a autoridades como o ex-vice-governador Paulo Octavio e o ex-secretário de Planejamento, Ricardo Penna. Em fevereiro, o então governador Wilson Lima suspendeu o pagamento dos contratos das empresas citadas na Caixa de Pandora. (LM)

Técnicos no alto escalão
O governador Rogério Rosso iniciou ontem as nomeações para o seu governo. Os primeiros nomes escolhidos pelo novo chefe do Executivo têm caráter técnico. Ele indicou Geraldo Lourenço de Almeida para a Secretaria de Governo. Para a pasta de Planejamento, Orçamento e Gestão, foi escolhido José Itamar Feitosa. Os dois são auditores de controle interno do GDF e não têm filiação partidária.

O chefe de gabinete de Rosso será Luiz Fernando da Costa e Silva. Ele é bacharel em letras pela Universidade de Brasília (UnB). Era gerente de projetos do Centro Administrativo e trata-se de um amigo pessoal de Rogério Rosso. Na Secretaria de Fazenda permanecerá André Clemente.

A Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) ; alvo da Operação João de Barro que investiga um esquema de corrupção instalado no setor ; será comandada por uma delegada de polícia: Adryani Fernandes Lobo. A Gerência de Regularização de Condomínios será entregue a Guilherme Abdala e a Secretaria de Desenvolvimento Econômica ficará temporariamente a cargo do chefe de gabinete Luiz Fernando.

As primeiras demissões do governo Rosso desencadearam reações revoltosas dos distritais que não fazem parte da base de apoio na Câmara Legislativa. Ontem, eles criticaram em plenário a rapidez com que o novo governador eliminou alguns nomes dos cargos de confiança. O deputado Paulo Roriz (DEM), que votou na chapa encabeçada por Wilson Lima(PR) nas eleições indiretas, considerou política a mudança na presidência da Codhab.

;Não fui procurado e nem comunicado sobre as exonerações de hoje. É de se estranhar um governo que prega a união entre os partidos exonerar sumariamente servidores, ainda mais por uma assessor que nem foi nomeado no gabinete do governador;, ironizou Paulo Roriz. Ele era o secretário de Habitação e tinha ingerência sobre a Codhab, tendo indicado vários dos servidores da Companhia de Habitação.

A nova titular da companhia é a delegada Adryane Fernandes Lobo, ligada ao distrital Benício Tavares (PMDB). A indicação desagradou o deputado Batista das Cooperativas (PRP), que contava em colocar um nome de confiança dele no cargo. O distrital foi um dos que mudou o voto nas eleições indiretas de última hora para poder eleger Rogério Rosso. Até então, ele sinalizava apoiar Wilson Lima.

Movimento
O mesmo ocorreu com Benedito Domingos (PP), um dos principais articuladores de Lima na Casa. Ele chegou a oferecer encontros em sua casa para viabilizar a campanha do atual presidente da Câmara ao Palácio do Buriti. Quando percebeu que a presença de Joaquim Roriz (PSC) estava inerente a candidatura do PR, Domingos caiu fora da torcida e ainda ajudou na articulação em prol de Rosso.

Filha de Joaquim Roriz, uma das mais prejudicadas com a eleição de Rogério Rosso, Jaqueline Roriz (PMN) lidera um movimento que tenta reagir ao que considera uma traição. A distrital tenta criar um novo bloco político no Casa que fará oposição ao governo Rosso. PMN, PR, DEM e PSDB já conversam sobre a formalização da nova correlação de forças.;São pessoas que acreditam que Wilson Lima poderia ter dado continuidade ao trabalho começado;, justificou a deputada.

Entre os três distritais do DEM, pelo menos dois deverão fazer parte do provável bloco: Paulo Roriz e Eliana Pedrosa, que apesar de ter votado na chapa do PT nas eleições indiretas, não deverá se ligar ao novo governo. (LT)


Nomeados
Secretaria de Governo
Geraldo Lourenço de Almeida

Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão
José Itamar Feitosa

Chefia de gabinete
Luiz Fernando da Costa e Silva

Secretaria de Desenvolvimento Econômico
Luiz Fernando da Costa e Silva (interino)

Companhia de Desenvolvimento Habitacional
Adryani Fernandes Lobo

Gerente de Regularização de Condomínios
Guilherme Abdala

Secretaria de Fazenda
André Clemente (permanece)


Opinião do internauta
Leia comentários feitos pelos leitores do Correio no site do jornal a respeito do novo governo e do apoio de distritais petistas à gestão do PMDB no Executivo local:

Christian Flávio
;Acredito ser importante dar apoio ao novo governador, é a última chance antes da intervenção.;

Karinne Veiga
;A melhor coisa que Rogério Rosso fez foi fazer aliança dos partidos PMDB e PT. Ele vai ter um bom apoio enquanto estiver governando Brasília. Enquanto um ajuda daqui, o outro ajuda de lá. É lá e cá.;

Ueslei Lima
;Malandragem do PT ter lançado candidato ao GDF. Se o Wilson tivesse ganhado, o PT estaria dizendo que só votou contra porque o partido lançou candidato próprio. É o que estão fazendo com o Rosso, dizendo que o apoiam. Na verdade, ficam do lado de qualquer um que seja eleito.;

Verônica Silva
;Quero realmente saber: o Rosso vai enxugar 50% da máquina ou vai exonerar meio mundo de pessoas, que não têm nada a ver com a corrupção do políticos do GDF, para colocar os fiéis trabalhadores dele?;

Magno Soares de Oliveira
;Será que uma intervenção federal poderia mesmo sanar as mazelas do governo anterior? Não conheço esse Rogério Rosso, mas procurei bastante e não achei nada que fosse contra ele. Acho que a população em geral deveria dar a ele um voto de confiança.;

Honório Rocha
;(Esse governador) não apresenta gostar da população mais carente. Desativar o Buritinga será um prejuízo grande para a população, afinal, segundo relatam, foram R$ 4 milhões.;

Reinaldo Córdova
;Cadê a CPI para investigar atos de corrupção? Os deputados Benedito Domingos, Naves, Eurides Brito, Rogério Ulysses, Rôney Nemer, Benício Tavares e outros. Isso não pode ser esquecido.;

Agnaldo Nunes
;Quem diria, PT e PMDB no DF de mãos dadas. Por onde andam aqueles que cuspiam no PMDB? Por onde andam aqueles que repudiavam tudo e todos desse partido? O que vemos é que o poder vira a cabeça de muita gente; ideologia, isso não existe; o importante é poder, com quem quer que seja.;

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