Guilherme Goulart
postado em 21/04/2010 08:27
Enquanto a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) da Polícia Civil do DF aprofunda a linha de investigação baseada na suspeita de envolvimento de familiares no triplo homicídio ocorrido na 113 Sul, outra vertente levantada ainda na primeira parte da investigação perde força. Após quatro meses de apuração, os investigadores praticamente descartaram a participação no crime dos três suspeitos presos por conta de um dos principais caminhos seguidos pela 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul. O trio ganhou a liberdade no início de dezembro de 2009 por falta de provas.Ontem, uma fonte da Polícia Civil disse ter ouvido a informação de que a Corvida já tem dois suspeitos e reúne provas para indiciar um suposto mandante do crime. O diretor-geral da Polícia Civil, Pedro Cardoso, negou, à noite, que tenham sido expedidos mandados de prisão nesse caso.
O delegado Luiz Julião Ribeiro, coordenador da unidade policial especializada em investigação de assassinatos, disse ao Correio que ainda não se encontraram elementos capazes de vincular Alex Peterson Carvalho Soares, 23 anos, Rami Jalau Kaloult, 28, e Cláudio José de Azevedo Brandão, 38, ao triplo assassinato praticado em 28 de agosto do ano passado. ;Essa é uma versão que está se diluindo cada vez mais;, afirmou. No crime, foram mortos a facadas os advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69; e a governanta da família, Francisca Nascimento da Silva, 58.
Os suspeitos ficaram em poder da polícia por um mês. Eles viviam em Vicente Pires, em um conjunto de barracos. Alex e Rami acabaram presos em 3 de novembro. Cláudio, 10 dias depois. Desde as detenções, os investigadores da 1; DP sustentaram que eles tinham vínculos com os assassinatos ocorridos no Bloco C da 113 Sul. Os agentes divulgaram na época a descoberta de uma chave no local das prisões, que abriria a porta de serviço e a despensa do apartamento 601/602 dos Villela. O objeto seria a prova material do envolvimento deles com o triplo homicídio.
Fora da prisão, os três sempre negaram qualquer participação. Cláudio disse ao Correio que não ficaria em Brasília se tivesse roubado dinheiro e joias das vítimas. ;Se a gente estivesse com US$ 700 mil e joias, faria um churrasco numa favela? Ia para o Havaí;, afirmou ele em 5 de dezembro. Ainda assim, Alex relatou um diálogo em que Cláudio lhe pedira para guardar a tal chave localizada pela polícia. Estava preso e permitiu a gravação do depoimento. Os indícios recolhidos, porém, não se mostraram suficientes para a Justiça mantê-los presos. Logo em seguida, a Corvida assumiu o caso.
Família
Por enquanto, a Corvida se mantém direcionada a amadurecer a linha de investigação voltada para os parentes dos Villela. Como publicou com exclusividade o Correio no último domingo, algumas equipes da delegacia cumpriram pelo menos três mandados de busca e apreensão em casas de familiares de José Guilherme e Maria Carvalho (1) no último sábado. Todas as ordens foram cumpridas com autorização judicial. Uma das ações ocorreu, por exemplo, na residência da filha do casal assassinado, Adriana Villela, no Lago Sul.
Ela também prestou depoimento no mesmo dia na condição de suspeita, como confirmou à reportagem o delegado Luiz Julião. Foi a primeira vez que a polícia admitiu a apuração do envolvimento de familiares no triplo homicídio desde o início das investigações. Adriana compareceu ao Departamento de Polícia Especializada (DPE) acompanhada de um advogado. E deu declarações formais à delegada responsável pelo inquérito, Mabel Faria. O conteúdo, no entanto, é mantido em sigilo porque o caso segue sob segredo de Justiça.
Para conseguir os mandados de busca e apreensão na Justiça, a Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal apresentaram dois argumentos para convencer a Justiça brasiliense a expedir as ordens. Citaram falta de colaboração por parte dos familiares e uma suposta conduta incompatível deles para quem perdeu os pais. O ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Pedro Gordilho, amigo e assessor jurídico dos Villela, enviou uma carta ao Correio na última segunda-feira em que estranha as alegações policiais. ;(Adriana e Augusto, filhos do casal) viveram e sofreram o imenso trauma da tragédia;, escreveu. Segundo Julião, a Corvida segue linhas de investigação ;genéricas;.
1 - Crueldade
Relatório do Instituto de Medicina Legal (IML) revelou que as vítimas levaram, ao todo, 73 facadas. A governanta Francisca recebeu 23 golpes. O corpo estava em corredor próximo à cozinha, ao lado do de Villela, atacado com 38 facadas. O cadáver de Maria foi localizado na entrada do closet, com 12 perfurações no tórax.
"Essa (partipação dos suspeitos presos) é uma versão que está se diluindo"
Luiz Julião Ribeiro, coordenador da Corvida
Luiz Julião Ribeiro, coordenador da Corvida