Cidades

Parentes que abrigaram Ademar de Jesus agora vivem exilados

Adriana Bernardes
postado em 21/04/2010 08:30
Medo, vergonha, espanto e uma tristeza profunda. Os parentes que abrigaram o assassino dos seis jovens de Luziânia, agora vivem exilados. A tragédia que abalou as famílias dos meninos mortos também mudou o destino da irmã, do cunhado e dos dois sobrinhos com quem o pedreiro Ademar de Jesus Silva, 40 anos, vivia desde que deixou a cadeia em 23 de dezembro passado, no Parque Estrela Dalva 4.

Após a polícia prender Ademar e ele ter confessado ser o responsável pelas mortes dos garotos, a família dele se viu obrigada a abandonar a casa simples no bairro. Lá se foram 12 anos de trabalho. Deixaram para trás também seus empregos, os vizinhos de quem conquistaram o respeito pela vida discreta e honesta que levavam. Saíram da cidade às pressas levando na bagagem apenas o que coube na carroceria do caminhão de mudança. ;Não era mais seguro. Ameaçavam até botar fogo na casa da gente;, lamenta Pedro*, 50 anos, casado com a irmã de Ademar.

Na tarde de ontem, Pedro conversou com a reportagem pela primeira vez. Disse que a mulher está muito abatida. ;É muita tristeza. Quando uma mãe perde um filho é uma dor que não passa nunca. A gente fica pensando: e se fosse com a gente?;. O pedreiro conta que, desde a prisão de Ademar, a família nunca mais teve paz. Ele torce para que tudo se acalme um pouco após o enterro das vítimas e do próprio pedreiro. Mas nem assim a família tem planos de voltar para casa.

Pedro tem a certeza de que a vida em Luziânia jamais seria a mesma. ;O povo vai ficar olhando a gente diferente. Todo mundo confiava muito em mim, no meu serviço. Não tenho cara de voltar, não;, diz. Pedro explica que não tinha como a família desconfiar de Ademar. ;Ele era muito tranquilo. Falava pouquinho, não dava para a gente notar nada;.

A polícia ainda não falou quando vai liberar o corpo de Ademar. Pedro também não sabe onde o cunhado será sepultado, se em Luziânia ou na Bahia(1). Passados 10 dias da prisão e três da notícia do suicídio de Ademar de Jesus, Pedro, que também é pedreiro, ainda não consegue imaginar como será o futuro dele, da mulher, dos dois filhos e dos netos. Por enquanto, todos vivem de favor na casa de parentes, sem emprego e com um fio de esperança de que um dia todo esse sofrimento vai passar.

1 - Santana
O Correio conseguiu contato ontem, por telefone, com o motoboy Domingos de Jesus Silva, 30 anos, um dos irmãos de Ademar que vive em Santana (BA). Ele disse que não vai mais comentar a morte do irmão. ;Não tenho mais sossego;, desabafou Domingos, que não quis dar informações sobre o enterro nem mesmo confirmar se ele seria realizado no oeste baiano. ;Não posso falar mais nada;, finalizou, segundo ele, sob orientação de um advogado, cujo nome não também foi revelado.

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