postado em 21/04/2010 08:31
No último sábado, a pequena Maria Eduarda comemorava 7 anos no salão térreo da Loja Maçônica Alvorada n; 1, no Núcleo Bandeirante, com direito a festa regada a muito doce e balões cor-de-rosa. Coisas que fazem o encanto de toda criança. Ela mal sabia que ali, naquele terreno e nos seus arredores, foi delineada não só uma nova cidade, mas também a maçonaria de Brasília.Em 21 de abril de 1960, pioneiros maçons que vieram de várias partes do país para construir a capital reuniram-se para começar uma outra história: a criação da Loja Alvorada. A fundação foi modesta. As primeiras reuniões se realizavam em barracos de madeira da Cidade Livre, antes mesmo que os prédios monumentais de Oscar Niemeyer fossem erguidos na Esplanada e nas superquadras. Alguns desses encontros ocorreram na sede da Loja do Grande Oriente, que, juntamente com a Grande Loja, fazem parte desta instituição de história milenar, que remonta aos cavaleiros templários. Ambas respondem à Grande Loja de Londres, fundada em 1771 por pedreiros (1) que construíam catedrais.
O prédio atual, que mistura mármore, granito e ferro e se espreme entre inúmeros templos na 3; Avenida do Núcleo Bandeirante, foi erguido graças ao esforço de Ênio Gomes de Lima, 70 anos, um dos membros mais antigos da loja. O pioneiro veio para Brasília como militar e aqui estudou engenharia. Lembra que ergueu mais de 400 prédios na cidade, incluindo a Loja Alvorada. ;Aquilo tudo saiu do meu bolso;, recorda.
Quem comenta façanhas de Ênio e de outros veneráveis ; presidentes da loja eleitos a cada dois anos ; é Carmelindo Pedro de Jesus Vieira, 78, anos que já passou por todas as etapas que um maçon pode galgar. Ele é guardião da história da loja por pura paixão. Desde os primeiros encontros até os últimos acontecimentos, Carmelindo não deixa passar nada e anota cada detalhe incansavelmente.
Tempos da fundação
Quando chegou aqui, em 1957, Ênio fez de tudo pela cidade ; inclusive traçou as ruas do Núcleo Bandeirante, nos tempos de Bernardo Sayão. Mas só tornou-se maçon aos 51 anos, quando foi convidado. Ele explica que, antes da iniciação, a pessoa passa a ser vigiada e só é chamada se vier a comprovar-se íntegra e de caráter exemplar. Claro que, segundo Carmelindo, os membros são humanos, e por isso há falhas. ;É só ver o que aconteceu nos últimos meses;, comenta, citando como exemplo da falibilidade humana a crise política no Palácio do Buriti.
Outra exigência para se tornar um maçon: acreditar em Deus. Mas tal condição não extingue certo preconceito a que os praticantes dessa filosofia estão expostos. Alguns dizem que isso se deve ao fato de serem guardados segredos sobre o significado dos mantos, das estrelas no teto e outras práticas e peculiaridades da maçonaria. Segundo Carmelindo, essa percepção é errônea. ;A maçonaria é somente discreta;, explica.
Para celebrar o cinquentenário da maçonaria (2)em Brasília, foi realizada uma reunião ontem, na Grande Loja de Brasília, próxima ao UniCeub, seguida de um jantar. Cassiano Morais, atual venerável, adianta que um campeonato de futebol em agosto e a inauguração de uma biblioteca em dezembro fazem parte das comemorações.
1 - Pedra polida
Maçon significa pedreiro. Daí foram criados alguns símbolos da maçonaria, como o esquadro e o compasso. A ideia filosófica é de que o homem é uma pedra bruta que deve ser polida.
2 - Liberdade e justiça
Maçonaria, segundo definição do site www.livrariamaconica.com.br, é ;uma ordem universal constituída por homens de todas as raças e nacionalidades, acolhidos por iniciação e congregados em Lojas, nas quais, auxiliados por símbolos e alegorias, estudam e trabalham para o aperfeiçoamento da sociedade humana. É fundada no amor fraternal e na esperança de que, com amor a Deus, à pátria, à família e ao próximo, com tolerância e sabedoria, com a constante e livre investigação da verdade;.