Naira Trindade
postado em 22/04/2010 08:25
;É uma grande falta de respeito com o sentimento da família;. A frase do aposentado Raimundo José dos Santos, 82 anos, traduz a dor e a indignação dos parentes de Eric dos Santos, 15 anos, desaparecido desde 20 de março de Luziânia, município goiano localizado a 66km de Brasília. A família não se conforma com o fato de a polícia ter aberto inquérito somente 30 dias depois do sumiço do adolescente. Apesar da abertura da investigação na última terça-feira, os policiais civis ainda não procuraram pelos familiares de Eric para colher depoimentos sobre o dia em que o menino saiu de casa pela última vez. Ontem, devido ao feriado nacional de Tiradentes, a 5; Delegacia Regional de Luziânia, que apura o caso, estava fechada.A auxiliar de produção Benildes dos Santos, 50 anos, mãe de Eric, não pôde abandonar o trabalho para lutar para que o desaparecimento do filho ganhasse o mesmo empenho nas investigações policiais que os outros seis adolescentes de Luziânia. Mãe de outras cinco crianças, Benildes precisa colocar comida em casa, dar roupas, calçados e ainda material escolar aos filhos. Casada novamente, ela conta com o apoio do padrasto dos meninos, Airton de Carvalho, mas diz não receber nenhum centavo de pensão alimentícia do ex-marido e pais dos filhos dela.
Rotina puxada
A dura jornada de trabalho obriga Benildes a passar mais de 11 horas diárias longe das crianças. No período da manhã, faz o papel de dona de casa. Arruma os filhos para a escola, organiza a casa e prepara o almoço. Sai ao meio-dia. Volta às 23h, quando parte deles já está na cama. Benildes dos Santos relata que tinha uma convivência tranquila com Eric. ;Ele é muito calado, sério e nunca me deu trabalho. Tinha boas notas na escola e sequer discutia em casa;, lembra a mãe.
No dia do misterioso sumiço, o estudante havia saído de casa, no bairro Santa Fé, que fica no Parque Industrial Mingone de Luziânia, para dar aulas de dança numa escola no mesmo bairro. Era cerca de 11h30, horário das aulas aos sábados. O menino chegou até a porta da escola. Não foi mais visto. Usava bermuda, camisa e chinelos. Não levara roupas nem documentos. Voltaria em poucos minutos, mas não retornou. Preocupada com a ausência, a mãe percorreu o trajeto. Ouviu burburinhos de que o menino queria sair de casa. Estranhou. ;Disseram que ele havia anunciado a um professor que não iria mais estudar. Mas ele não levou nada e não tinha nenhuma razão para querer sair de casa;, ressaltou.
O avô de Eric busca sozinho pelo neto nas ruas de Luziânia. Na última terça-feira, Raimundo percorreu toda a Vila Guará, bairro que fica em frente ao Santa Fé, do outro lado da BR-040. Ele levou uma foto e perguntou nas casas se alguém havia visto o menino. ;Se tivesse alguma mudança, gente nova por lá, as pessoas saberiam;, contou. ;Mesmo vendo nosso desespero, nos passam informações erradas. Disseram que meu neto estava lá, mas isto é impossível, pois percorri todas as ruas e ninguém o viu;, completou. O titular da regional de Luziânia, José Luiz Martins Araújo, garantiu, na última terça-feira, dia da abertura do inquérito, que agentes da Polícia Civil de Goiás iriam procurar os familiares para dar início às investigações sobre o desaparecimento do adolescente.
À espera do laudo
A definição da data para o sepultamento dos seis adolescentes de Luziânia deve ocorrer após a divulgação do resultado do DNA dos corpos. Apenas três mães reconheceram os objetos encontrados na casa do pedreiro Ademar de Jesus Silva, 40 anos, no dia de sua prisão. A dona de casa Maria Lúcia Lopes Souza, 54, mãe de Márcio Luiz Lopes Souza, identificou a bicicleta que o filho usava no dia do sumiço. Ela estava pintada de vermelho, mas ainda tinha um adesivo do Batmam colado na coroa. A servidora pública Sônia Vieira de Azevedo Lima, 45, mãe de Paulo Victor de Azevedo Lima, 16, identificou o celular e o MP5 que o filho havia comprado 15 dias antes de sumir e Valdirene Cunha, mãe do Flávio Augusto, também reconheceu a bicicleta prata que o filho havia levado à oficina para consertar antes de desaparecer. As outras mães não identificaram nenhum objeto ou roupas como sendo dos filhos e preferem esperar o DNA para terem certeza que os corpos são deles.