Jornal Correio Braziliense

Cidades

Região do Lago Sul ensurdecida pelos aviões

Movimento intenso no Aeroporto Internacional JK, superado apenas pelo de Guarulhos (SP), acarreta transtorno aos moradores de uma das áreas mais nobres de Brasília. E o pior é que não existe, nem em médio prazo, uma solução

O barulho de turbinas irrompe a tranquilidade do Lago Sul antes de 6h. Os aviões que trafegam diariamente pelo Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek (1) insistem em tirar o sossego dos moradores da área nobre. O problema, que ocorre há décadas e já provocou reuniões e debates calorosos entre o comando do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I), a Infraero e moradores, voltou a ser debatido por causa do novo procedimento de decolagens.

Segundo recomendação da Organização Internacional da Aviação Civil (cuja sigla em inglês é Icao), as aeronaves que partem de Brasília devem fazer uma subida mais íngreme na mesma direção da cabeceira da pista até atingir 6 mil pés de altitude (aproximadamente 1,8 mil metros) em relação ao nível do mar para se afastar da zona residencial o mais rápido possível. Só após atingir a altura recomendada, o piloto pode manobrar em direção ao destino do voo. O brigadeiro Maurício Gonçalves, comandante do Cindacta I, explica que a medida visa a uma economia maior de combustível das aeronaves e a diminuir o tempo em solo. ;Foram feitas simulações por mais de um ano até colocarmos em prática;, diz.

Acordo celebrado entre Cindacta I, Infraero e moradores há três anos determinava que a pista antiga, próxima às casas, seria utilizada apenas para pousos. A nova deverá servir apenas para decolagens, justamente por estar situada mais distante da área residencial. Após atingir determinada altitude, os aviões teriam de manobrar à direita.

Os aeroportos de Brasília e de Recife são os primeiros a passar pela experiência no país. Ainda neste ano, a Aeronáutica prevê que Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte também adiram ao procedimento. De acordo com a avaliação dos moradores da QI 17, porém, a mudança só trouxe dores de cabeça. A nova trajetória das aeronaves teria aumentado a incidência do ruído das turbinas nas proximidades da pista de decolagem.

É o que constatou o aposentado Cesar Palvarini, morador da QI 17. ;O barulho sempre existiu, mas estávamos em paz até a quarta-feira da semana passada, quando os aviões voltaram a sobrevoar e fazer barulho barulho sobre nossas cabeças;, reclama, citando o dia em que o Cindacta autorizou a nova operação de partida dos aviões no Aeroporto Internacional JK.

Interferências
A professora Heloísa Doyle, moradora do Setor de Mansões Dom Bosco, também percebeu a diferença. ;Se estamos vendo TV, temos que aumentar o volume; se estamos ao telefone, temos de parar de conversar até que o avião passe.; O aposentado Joelson Monte Alto defende que o Cindacta volte a orientar os pilotos a manobrar à direita. ;Não é possível que a Icao sugira procedimentos que prejudiquem a qualidade de vida das pessoas que moram próximas aos aeroportos;, salienta.

O coronel da Aeronáutica Almir dos Santos, chefe da Divisão de Operações do Cindacta, defende que o ruído é inerente ao tráfego intenso do aeroporto da capital. ;É o caso de quem mora ao lado de uma indústria e paga o preço da poluição e do barulho. Quem mora perto de aeroporto acaba tendo que conviver com o barulho;, simplifica.

O brigadeiro Gonçalves explica, também, que apenas as aeronaves que fazem transporte de carga são as mais ruidosas e que somente dois modelos trafegam na cidade. ;Em Brasília só circulam os modelos 737-200 e 707, os mais antigos e mais barulhentos, sempre no horário da madrugada, e decolam na pista nova, distante das casas.;

Os parâmetros de ruído variam de acordo com os aviões. Os modelos recentes emitem som cada vez mais baixo, mas, em contrapartida, o tráfego em Brasília só aumenta. ;O movimento no Aeroporto JK está tão agressivo que a cadência do som dá a impressão de que é constante, mas o nível do ruído está dentro do permitido;, assegura, lembrando que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é a responsável pela fiscalização. Ele também dá uma notícia desagradável aos moradores do Lago Sul: ;Com o passar do tempo e a intensificação do fluxo, não poderemos mais determinar uma pista somente para decolagens e outra para pouso. Isso deve ocorrer em 2011 ou no ano seguinte;.

1 - Movimento intenso
O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek oscila entre a segunda e a terceira posições no ranking dos mais movimentados do país. Com 700 operações diariamente, tem média de 38 pousos e/ou decolagens por hora. Está atrás apenas do Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro, em Guarulhos (SP), e do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Se excluído o tráfego de aviões de carga, o terminal de Brasília supera o carioca.