postado em 23/04/2010 08:15
O choro do bebê era aguardado para antes da meia-noite do 21 de abril. No cinquentenário de Brasília, os holofotes estavam voltados para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), onde dezenas de jornalistas se aglomeraram do lado de fora na expectativa do nascimento de Davi Emanoel Prudêncio Ferreira. Mas a pequena celebridade tratou de fugir dos flashes e não se apressou para dar boas-vindas ao mundo. Não nasceu no aniversário da capital, mas veio ao mundo no dia do descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral, às 3h38 de ontem. O parto foi normal. Mamou, dormiu, mamou de novo e só depois posou para a primeira foto, às 17h. Lá estava ele, de olhos fechados, aconchegado ao peito da mãe, a dona de casa Odília Ferreira da Silva, 22 anos. Minutos depois, abriu um berreiro (o primeiro depois de nascido) e, ao acordar, revelou o seu maior segredo: os olhos azuis.Mas os olhos da cor do mar não são o diferencial de Davi. O bebê de pele branquinha e cabelos pretos é sobrinho de Brasiliano Pereira da Silva, 50 anos, afilhado de Juscelino Kubitschek e da primeira-dama Sarah Kubitschek. Brasiliano, ou ;Brasil;, como é conhecido, foi a primeira criança a nascer no Planalto Central em 21 de abril de 1960 e batizada por Juscelino (veja memória). Ontem, ele conheceu o mais novo ilustre brasiliense e se emocionou ao pegar a criança no colo.
;Olha só! Ele parece um leitezinho de tão branquinho. Meu apelido é Brasil e o dele vai ser Brasilzinho;, brincou o tio coruja. Davi nasceu com 3.080 kg, mas o único trabalho que deu, por enquanto, foi para chegar. As contrações de Odília começaram por volta das 20h30 da quarta-feira, mas o danadinho não deu sossego e só resolveu deixar o ventre da mãe quase oito horas depois. ;Foi muito sofrido. Meu marido assistiu ao parto e disse que, depois dessa, vai me tratar como princesa;, disse Odília, entre risos.
Expectativas
Se a mãe é a princesa, Brasilzinho promete ser o príncipe. Se depender da história do tio e dos olhos claros, ele pode se considerar eleito. Todos da família só estão curiosos para saber como Davi será daqui a 50 anos. ;É uma nova geração que se inicia. Vou ensinar que ele tem que estudar tudo o que eu sei sobre a história de Brasília para ser alguém na vida. Vai ser um bom brasiliense, com certeza;, aposta o pai da criança e irmão de Brasiliano, o consultor técnico Moisés Prudêncio da Silva, 32 anos.
Para Brasiliano, o sobrinho vai crescer prestigiando a cidade e o país em que vive. ;Eu amo Brasília e tenho certeza de que ele vai amar e ter orgulho desta cidade;, acredita. O afilhado de Juscelino Kubitschek lembra ainda quando o pai, o operário Justo José da Silva, o levava para passear pela Esplanada dos Ministérios. ;Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, ia de ônibus com meu pai para a Rodoviária do Plano Piloto para lanchar e ficar observando os prédios da Esplanada de cima da plataforma superior. Meu pai dizia que o Congresso Nacional tinha dois braços. O braço virado para baixo era o do pobre e o virado para cima era o do rico;, brincou.
Davi deve receber alta hoje do hospital. Tios, primos e todos os parentes e vizinhos estão ansiosos para a chegada do pequeno príncipe à casa. Um churrasco está marcado amanhã para comemorar os aniversários. Afinal, não era de se esperar que Brasilzinho nascesse praticamente no mesmo dia que o tio. ;Não nasceu no aniversário de Brasília, mas nasceu no aniversário do Brasil. Temos de festejar;, comentou Brasil. Daqui a 50 anos, Brasiliano fará 100 anos junto com a capital. ;Quero estar vivo para ver meu sobrinho na idade que tenho hoje. Vai ser muito legal. Acho que Brasília vai crescer muito e ficará ainda mais bonita;, imaginou.
"Vou ensinar que ele tem que estudar tudo o que eu sei sobre a história de Brasília para ser alguém na vida. Vai ser um bom brasiliense, com certeza"
Moisés Prudêncio da Silva, pai de Davi
Moisés Prudêncio da Silva, pai de Davi
Memória
Parto e foguetes
Em 21 de abril de 1960, Brasília estava em festa: inaugurava-se a tão sonhada capital. Juscelino prometeu que batizaria o primeiro bebê nascido na cidade e assim o fez. A lavadeira Nita Pereira da Silva, hoje com 77 anos, viúva do operário Justo José da Silva (hoje, ele teria 89), recebeu no dia seguinte a visita ilustre em sua humilde casa, que ficava no antigo acampamento da Vila Iapi, no Núcleo Bandeirante, montado para abrigar os trabalhadores da construção. ;Ele (Juscelino) veio com muita alegria dizendo que seria padrinho do meu filho e que ele se chamaria Brasiliano. Fiquei muito feliz e concordei na hora com o nome;, contou a pioneira em entrevista ao Correio.
Brasiliano nasceu em casa, pelas mãos da vizinha parteira, Luiza. Antes, dona Nita tinha colocado um vestido longo para acompanhar os festejos na Esplanada. Chegou a entrar no ônibus, que de tão cheio mal lhe permitia dar alguns passos. Preocupado, o marido achou melhor que Nita não espremesse a barriga de nove meses na multidão. ;Assim que os fogos de artifício começaram a estourar, minha mãe entrou em trabalho de parto. Deu para ver tudo de casa;, contou Brasiliano, retomando detalhes das histórias relatadas pelo falecido pai.
O fato de ser afilhado de um ex-presidente não fez de Brasiliano uma pessoa rica. Ele mora em uma casa simples no Recanto das Emas e mantém a humildade dos pais, naturais da cidade de Morro do Chapéu, na Bahia. É casado com Antônia Cristina Pessoa, 37 anos, e pai de cinco filhos: Érica Adalla, 27; Thainy Genes, 16; Heloísa da Conceição, 7; Kleiton Guilherme, 14; e Cristian Gabriel, de apenas 11 meses.