Naira Trindade
postado em 24/04/2010 07:00
A dúvida que envolve as identidades das seis ossadas encontradas na Fazenda Buracão, em Luziânia (GO), deve ser solucionada até a próxima sexta-feira, quando a Polícia Federal conclui o laudo de análise do DNA. À espera por respostas, as mães dos adolescentes vivem sentimentos de apreensão, desespero e incertezas. ;Pode ser um fim ou um recomeço;, analisou a dona de casa Sirlene Gomes, 42 anos, uma das três mães a não reconhecer nenhum material do filho, George dos Santos, 17, entre os pertences recolhidos no quarto de Ademar Jesus da Silva, 40, no Parque Estrela Dalva 4, onde o pedreiro morava com uma irmã. Ele é acusado de assassinar os seis jovens e enterrar os corpos na Fazenda Buracão.Peritos da Polícia Federal trabalham na análise de fragmentos dos ossos há 14 dias, mas argumentam que precisam de mais tempo para a exatidão do resultado. Caso o exame confirme que os restos mortais são dos seis jovens que desapareceram entre 30 de dezembro de 2009 e 22 de janeiro deste ano do bairro Parque Estrela Dalva, do município goiano, as mães farão um sepultamento coletivo, com caixões fechados, fotos dos adolescentes e um exemplar da Bíblia.
A dor de esperar pelos trâmites das investigações policiais também é vivida pela auxiliar de produção Benildes dos Santos, 34, que há 35 dias sofre com a ausência do filho Eric dos Santos, 15. Em letrinhas recortadas de páginas de revistas na aula de arte em palavras, da Escola Estadual Professora Maria Luiza da Silva, o menino montou a frase: ;Mais vale um covarde morto, que um valente vivo;.
As palavras traduzem um sentimento misto de tristeza e incômodo que o adolescente carregava dois dias antes de desaparecer. A dor e o sofrimento não foram percebidos anteriormente por ninguém da família nem do colégio onde era considerado um adolescente comportado, estudioso e sem sinais de rebeldia. O Correio entrevistou a professora de artes do colégio, Reginiana Barbosa Bispo, e a diretora Adriana Gome de Paiva, que descreveram o perfil calado e sério do menino.
Educação
Eric sempre estudou no mesmo prédio, onde abriga, durante a manhã, a Escola Municipal Santa Fé e, durante a noite, recebe alunos da rede estadual Professora Maria Luiza da Silva. Nunca reprovou e tinhas notas boas em todas as disciplinas. Com perfil comportado, sério e calado, ele nunca se envolveu em confusões no colégio e até o dia que desapareceu passeava pelo pátio com uma namorada, uma menina do mesmo bairro onde a família mora, no Parque Santa Fé. A diretora nunca percebeu nenhum envolvimento do menino com drogas que, segundo ela, provocaria mudanças no comportamento dele, que de tão exemplar, o colocou entre os monitores que recebiam auxílios financeiros para dar atividades extracurriculares na escola. Ele dava aula de hip-hop.
Desejo
A vontade de parar de estudar e sair de casa havia sido mencionada durante o fim do ano passado pelo estudante aos professores. Considerada rebeldia natural de adolescente, o desejo de abandonar o lar era revertido com conversas francas com os professores. O episódio que mais chamou a atenção foi durante uma aula de artes, quando o menino destacou a frase inigmática (Mais vale um covarde morto que um valente vivo). Surpresa, a professora Reginiana Bispo quis saber do problema que o angustiava, mas o garoto teria se limitado a dizer que se saísse da escola teria 50% dos problemas resolvidos. Não voltou mais.
Família
Os professores percebiam uma convivência familiar tranquila de Eric. A mãe dele nunca precisou ser chamada à escola por bagunça ou confusão. O padrasto, Airtol Carvalho, praticamente criou o menino, pois foi morar com Benildes dos Santos há 15 anos, quando Eric ainda era bebê. Alguns desencontros de informações, no entanto, intrigam a direção da escola. ;A mãe disse que ele não tinha celular, mas aqui na escola ele usava um; pontuou a professora. A namorada de Eric abandonou os estudos após o sumiço do menino. Ninguém sabe explicar o motivo.