Cidades

Espera sofrida nos hospitais

Falta de especialistas e de material básico é um problema encontrados por quem procura atendimento nas unidades do DF, além da demora. Governo promete medidas para melhorar a situação nas próximas semanas

Juliana Boechat
postado em 24/04/2010 07:00

A rede pública de saúde do Distrito Federal precisa de ajuda. A carência de profissionais e equipamentos para o atendimento básico da população se reflete diariamente na rotina dos hospitais regionais e dos grandes centros de saúde de Brasília dia após dia. As salas de emergência estão constantemente tomadas por longas filas. Algumas pessoas deitam nos bancos ou sentam no chão para amenizar os sintomas da doença. E a falta de informação faz o tempo passar mais devagar. O desespero, algumas vezes, transforma-se em lágrimas. E termina com a desistência do paciente antes mesmo de ficar cara a cara com o médico. Ciente das constantes reclamações, a Secretaria de Saúde se comprometeu a abastecer a rede com profissionais especializados, com materiais de trabalho e medicamentos nas próximas semanas.

Serafim de Sousa saiu de Planaltina de Goiás para buscar atendimento nos hospitais do DFe ficou mais de 10 horas à espera de um médicoO atendimento dos funcionários dos hospitais lidera a lista das reclamações de pacientes inconformados. Seja internação ou consulta rápida, o problema é o mesmo: mau humor e a falta de paciência para realizar os exames. A radiografia do Hospital de Base do Distrito Federal é campeã de críticas. As denúncias também se referem à demora no atendimento e à falta de materiais como seringas, esparadrapos e até mesmo medicação. Cirurgias são canceladas por falta de médico anestesista e em grande parte das vezes apenas um especialista fica responsável por dezenas de atendimentos. Essas pendências obrigam os pacientes a peregrinar de hospital em hospital atrás de um ortopedista ou otorrinolaringologista, por exemplo.

O pedreiro Serafim Eloi de Sousa, 51 anos, chegou ao Hospital de Base ontem por volta das 7h, em busca de tratamento para pressão alta ; a medição constatou 18 por 11, quando o ideal é 12 por 8. Sem clínico geral, foi aconselhado a ir até o Hospital Regional da Asa Norte. Para não gastar dinheiro, ele andou todo o percurso. Antes das 8h, deu entrada no prontuário do Hran. Às 16h, ainda não havia sido atendido. Cansado, em pé, estava prestes a desistir do atendimento. ;Não aguento mais;, reclamou o morador de Planaltina de Goiás.

Dor de ouvido
A dona de casa Ana Paula Bezerra Brito, 27 anos, tentou resolver a dor de ouvido em casa. Mas, depois de alguns dias, a automedicação parou de fazer efeito. Ela procurou, então, o posto de saúde de São Sebastião, onde mora. Mas a falta de médico especializado obrigou Ana Paula ir até o HBDF. Depois de duas horas de espera, ela chorava e pedia ajuda. ;É uma dor insuportável, não é uma dor qualquer;, disse. Ela foi informada, depois de muita insistência, que havia apenas um otorrino de plantão e que ele estava em cirurgia. ;Às vezes, a gente prefere tomar remédio por conta própria para evitar as filas constantes dos hospitais;. Os pacientes que chegam ao Hospital de Base passam por uma triagem que identifica se o caso é urgente ou não. Só então eles são encaminhados aos médicos especializados. A demora para ser atendido em cada etapa durava, na tarde de ontem, cerca de uma hora.

A estudante Ana Luiza Feitosa de Almeida, 13 anos, chegou ao hospital com dores no pé por volta das 10h. Às 16h30, ela entrou no carro com ajuda do pai e da mãe. ;Não me senti confortável em momento nenhum no hospital. Não tinha lugar para sentar, a demora foi grande e o atendimento, ruim;, reclamou. Ela sentiu falta da cadeira de rodas para se locomover pelos corredores. A técnica em enfermagem Zilda Alves Patrício, 42 anos, acompanhou a internação da mãe, Cecília, e confirmou a denúncia: ;Tem apenas uma cadeira de rodas no setor de internação. As camas são sujas e os colchões, velhos;, disse. ;Eu prefiro pagar consultas na rede particular. Aqui você é obrigado a comprar materiais. Se eu tiver que comprar qualquer coisa para garantir a saúde da minha família, vou comprar;.

Três grupos de voluntários trabalham no HBDF. As mulheres ajudam a cuidar dos pacientes com doenças degenerativas, como o câncer. Muitas vezes, elas realizam bazares para arrecadar fundos ou tiram o dinheiro do próprio bolso para comprar remédios, lençóis, chinelos e suprir as necessidades básicas dos pacientes. A servidora pública Akimi Watanabe ajuda o Serviço Auxiliar de Voluntários (SAV) do hospital. ;Sempre que faço uma ação, tento alertar às pessoas que estamos trabalhando para ocupar um vácuo deixado pelo governo;, disse.

1 - Solidariedade
A Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília organizará, no próximo dia 10, o 18; Bazar Elefante Rosa. Toda a renda obtida na venda de roupas, calçados, eletrônicos, discos, livros, brinquedos etc será revertida aos paciente de câncer. O bazar funcionará de manhã e à tarde, no estacionamento do Hospital de Base. Qualquer doação antecipada pode ser feita pelo 3315-1221.

Para saber mais
Verba devolvida no ano passado

Todos os anos, o GDF recebe cerca de R$ 500 milhões de recursos do Ministério da Saúde. Os valores são destinados a áreas específicas, como campanhas de prevenção de doenças, investimento em aparelhos, compra de medicamentos, funcionários e na manutenção das condições básicas do atendimento à população. Cada subsecretaria de saúde possui uma comissão que cuida do repasse mensal. Em 2009, a Secretaria de Saúde recebeu um total de R$ 522.468.126,46 ao fim do ano. O valor foi 70% maior que o repasse realizado em 2008, de

R$ 305.328.000,65. Mas, segundo o secretário de Saúde, Joaquim Barros, parte deste valor não foi utilizado. O dinheiro retorna, então, este ano para ser investido nas áreas previstas. Em 2010, a secretaria teve à disposição até agora, segundo o Fundo Nacional de Saúde, órgão ligado ao Ministério da Saúde, R$ 169.555.187,75. O secretário garante que estes valores serão totalmente investidos na saúde local.


Mais médicos para mutirões

O secretário de Saúde, Joaquim Barros, reconhece os problemas existentes hoje na rede de saúde pública do Distrito Federal. Mas ele garante que, aos poucos, as pendências estão sendo quitadas. As seringas, por exemplo, chegarão ao longo dos próximos dias a todos os hospitais do Distrito Federal. A compra de medicamento está em fase de licitação. ;Temos dificuldades com as licitações. Toda a burocracia demora e, em alguns casos, temos que lidar com os atrasos das empresas vencedoras na hora de entregar os produtos comprados;, explicou o secretário. Os dois elevadores do Hospital de Base, que estavam sem funcionar há alguns meses, estão sendo reformados.

Mas o maior desafio da secretaria é acabar com o deficit de médicos anestesistas no sistema de saúde pública do DF. Com a carência dessa especialização no mercado, cirurgias traumáticas e eletivas ; que não têm urgência, mas o paciente sofre com os sintomas ; são canceladas ou adiadas. ;Já tentamos a mudança de carga horária e o pagamento de hora extra desses profissionais. A última tentativa foi realizar o concurso para contratar novos anestesistas;, disse Barros. No próximo mês, os novos médicos devem tomar posse em vários pontos do DF. Segundo o secretário, o problema seria resolvido com a contratação de 200 anestesistas. Apenas 120 se inscreveram para a prova e apenas uma parte desses se classificaram.

A partir da nomeação dos servidores da saúde, o governo deverá organizar um mutirão de cirurgias eletivas em todos os hospitais da rede. Dessa forma, o secretário acredita que as filas de emergência diminuirão de forma significativa. ;Vamos favorecer o paciente e o médico, que hoje está desestimulado por não poder trabalhar de forma plena;, finalizou. Ele ainda disse que novos equipamentos chegarão em breve aos hospitais e que mais de mil profissionais foram contratados para auxiliar no tratamento diário e no combate à dengue. (JB)

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