postado em 27/04/2010 08:01
Os contêineres e latas de lixo de algumas regiões do Distrito Federal amanheceram abarrotados ontem. Os sacos plásticos à vista e a grande quantidade de entulho despejada nos cantos chegaram a incomodar moradores e frequentadores das áreas onde o acúmulo foi percebido. Foi assim no Sudoeste e no Guará, cujos contêineres transbordavam dejetos, até o fim da tarde de ontem. O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) garante que não há anormalidade, mas a coleta, antes feita por quatro empresas, passou a ser comandada por apenas duas, desde a última sexta-feira. Depois de uma pendência judicial que se arrastou desde 2007, o Judiciário decidiu, no início deste mês, que as empresas Qualix e Valor Ambiental seriam as responsáveis pela limpeza urbana no Distrito Federal. Até então, elas dividiam a responsabilidade com a Artec e a Delta.
Dono de um restaurante no Sudoeste, Pablo Henrique Pereira, 29 anos, creditava o excesso de lixo ao fim de semana, mas admitiu que a cena é incomum. ;Nunca vi isso por aqui. Eles costumam passar até as 10h30 e não vieram até o meio da tarde. É estranho;, avalia. Nas proximidades da Feira do Guará, as latas de lixo não foram suficientes para conter os restos deixados pelos moradores. Muitas sacolas plásticas ficaram acumuladas, em pequenos montes, ao longo da calçada. ;Tenho visto muito lixo jogado na rua. Isso não deveria acontecer aqui no Guará, uma cidade com infraestrutura tão boa;, afirmou a cabeleireira Sebastiana da Silva, 51 anos. Ela estava de passagem pelo local e afirma não ter notado a mesma quantidade de dejetos na cidade em que vive, Taguatinga.Em outro ponto do Guará, o funcionário de um supermercado, Calebe Monteiro, 19 anos, notou que o volume de lixo aumentou desde quinta-feira. ;Até já levamos multa por um lixo que não é nosso;, protesta. Ele acrescentou ainda que, durante o fim de semana, ficou impressionado com a quantidade de sacolas de lixo depositadas no chão. Até o meio da tarde, era possível ver muitos sacos de dejetos na Metropolitana, nas proximidades do Núcleo Bandeirante. Em Taguatinga e Ceilândia, os moradores abordados pelo Correio não notaram nenhuma anormalidade.
Demanda aumentada
Segundo o superintendente de Operação do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Divino Santana, como não há coleta de lixo no domingo, é normal que a quantidade de material a ser recolhido na segunda-feira seja maior. Nesse dia, até os caminhões-reserva são mandados para a rua, para dar conta de uma demanda de lixo 40% maior do que nos outros dias. ;Com mais objetos descartados, os caminhões ficam cheios mais rápido e têm de fazer mais viagens ao depósito. Isso atrasa em até três horas o processo;, explica Santana. Em um dia normal, cerca de 2.200 toneladas de lixo são recolhidas no DF.
Ele afirma que o lixo acumulado nessas regiões não tem a ver com falhas na prestação de serviço, e sim com o já conhecido aumento da demanda às segundas-feiras. ;A coleta está normal. Não estamos tendo problema nenhum;, garante. Ele assegura ainda que as empresas não ficarão sobrecarregadas, já que apresentaram documentação que comprova capacidade técnica para assumir novas áreas de coleta. Santana admite que, devido ao pouco tempo das empresas nas novas áreas, ainda não foi possível perceber falhas na atuação. ;Uma delas já apresentou 14 caminhões novos para fazer o trabalho;, comemora. Santana acrescentou ainda que a Qualix teria feito um mutirão durante o fim de semana em regiões como Núcleo Bandeirante e Sudoeste. Mas bastou circular pelas cidades para ver que o esforço não havia sido o bastante para deixá-las limpas.
Fique atento
Como funciona a coleta:
; O recolhimento diário de lixo vai das 7h30 às 16h30. Em seguida, os caminhões passam por processo de higienização e voltam às ruas para a coleta noturna, que vai de 19h30 até 2h30. O trabalho é feito pelas empresas Qualix e Valor Ambiental, que, juntas, dispõem de 90 caminhões e cerca de 600 funcionários para fazer o serviço. A equipe do SLU concentra-se na coleta seletiva e conta com 11 caminhões e 86 funcionários.
Distribuição do serviço
Lote I (Qualix)
; Itapoã, Paranoá, Região dos Lagos, Condomínios Contagem, Sobradinho, Sobradinho II, Fercal, Lago Oeste, Mestre D;Armas, Arapoanga, Vale do Amanhecer, Planaltina, Nova Colina, Alto da Boa Vista, Condomínios do Grande Colorado, Brazlândia, Park Way, Núcleo Bandeirante, Guará I, Guará II, Candangolândia, Colônia Agrícola Águas Claras, Setor Militar, Cruzeiro, Asa Sul, Sudoeste/Octogonal, Asa Norte, Lago Sul, Lago Norte, Varjão, Taquari, Mansões do Lago Norte, Granja do Torto, Condomínios do São Bartolomeu, Condomínios do Jardim Botânico, São Sebastião, Setor Residencial Tororó, Setor Habitacional Dom Bosco, Vila Planalto
Lote II ( Valor Ambiental)
; Ceilândia, Taguatinga, Riacho Fundo I, Vicente Pires, Águas Claras, Arniqueira, Vila Estrutural, Park Way II, Parque Sol Nascente
Lote III (Valor Ambiental)
; Samambaia, Recanto das Emas, Riacho Fundo II (2; etapa), Riacho Fundo II (3; Etapa), Gama, Santa Maria, Meireles e Água Quente
Crateras no meio do asfalto
Além do lixo acumulado, outro problema que ainda causa incômodo são os buracos no asfalto. Um deles surgiu na última sexta-feira, na Quadra CCSW 01 do Sudoeste, em uma região por onde passam cabos de telefonia, e sua profundidade já beira os dois metros. Os moradores colocaram um galho de árvore no local, mas o porteiro de um prédio próximo, Raimundo Nonato, 29 anos, trocou a sinalização por uma tábua de madeira. ;Na hora do almoço dá até congestionamento por aqui. Tem carro que só passa se colocar as rodas em cima do meio-fio;, revela. O empresário Eurico Ribeiro, 35 anos, teve dificuldades para entrar na via. Precisou dar marcha a ré para desviar da cratera. ;Este buraco é indecente;, protestou. Moradores da quadra já acionaram a administração local.
Outra cidade que sofre com as falhas na pista é Ceilândia. ;Todas as entrequadras estão esburacadas. Passam apenas uma massinha superficial;, relata Márcio Rodrigues, 32 anos, dono de uma oficina localizada em frente a um buraco na Quadra 22 de Ceilândia Sul. Segundo o mecânico Geraldo dos Santos, 45 anos, as crateras causam muitos problemas. ;Cerca de 70% dos meus clientes chegam aqui reclamando de buracos;, afirma. A Novacap, responsável pela manutenção das vias do Plano Piloto, conta com 24 equipes para fazer o serviço de tapa-buracos. Hoje, o trabalho será feito em Ceilândia, para reforçar a atuação da Coordenadoria das Cidades. De janeiro até agora, a estatal já usou 15 milhões de toneladas de massa asfáltica para melhorar as vias do DF. (MM)