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CEB lucra, apagões ficam

Balanço da empresa confirma que acionistas dividirão R$ 9,2 milhões do saldo positivo em 2009, mas diretores admitem que cortes de energia continuarão

A holding Companhia Energética de Brasília (CEB), composta por oito empresas, fechou 2009 com lucro de R$ 39 milhões. Foi o primeiro superavit desde 2006. O balanço comercial, divulgado ontem, prevê para este ano investimentos de R$ 75 milhões na modernização e construção de subestações e linhas de energia, valor inferior ao de 2009, que somou R$ 97,7 milhões. Até 2012, a companhia planeja aplicar mais R$ 400 milhões na infraestrutura de distribuição e resolver os problemas de fornecimentos que irritam a população.

O saldo positivo da holding quebrou um jejum de nove anos de partilha de lucros entre os acionistas da empresa mista. Como determinado pela Lei n; 6.404, que rege as sociedades anônimas, os donos da CEB receberão R$ 9,2 milhões de dividendos, equivalentes a 25% do lucro total obtido no ano passado ; conforme o Correio antecipou ontem. O Governo do Distrito Federal abocanha a maior parte do valor, uma vez que é dono de 70% dos papéis da CEB. Os outros R$ 3 milhões serão repartidos entre acionistas da iniciativa privada.

A CEB afirma que as contas da companhia só saíram do vermelho ; em 2006, a dívida chegou a R$ 197 milhões ; porque houve mudança na gestão e alienação de patrimônio inutilizado. ;A partir de 2007, houve reversão no quadro financeiro. O resultado da sequência desse trabalho está permitindo a distribuição dos dividendos por parte da holding;, explica o diretor de relações com investidores, Fernando Fonseca.

Além dos financiamentos de bancos estatais, o grupo vendeu imóveis ociosos para capitalizar as empresas. Em 2007, um terreno no Setor de Autarquias Norte foi vendido para a Terracap; em 2008, a Eletronorte comprou o prédio da antiga sede, na 904 Sul, totalizando R$ 89 milhões. A venda de quatro terrenos em Águas Claras rendeu mais R$16 milhões aos cofres da CEB ano passado. A expectativa é que o terreno do Setor Noroeste seja arrematado em licitação por R$ 247 milhões.

Prioridade
Os proventos deverão ser aplicados na melhoria da distribuição de energia. Em 2006, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) entendeu que a CEB investiu de forma desproporcional na geração de energia, superando em R$ 142 milhões o gasto destinado a melhorias na distribuição. A Aneel determinou a suspensão dos investimentos em geração e a aplicação dos recursos na revitalização do sistema de linhas de transmissão e subestações, responsável pela chegada da eletricidade às 830 mil unidades consumidoras do DF. Em janeiro, foram inauguradas as subestações do Mangueiral, em São Sebastião, e do Vale do Amanhecer, em Planaltina.

Carlos Leal, diretor de comercialização da CEB, admitiu que a estrutura da capital está obsoleta e não suporta o crescimento exponencial do consumo. ;O sistema está vulnerável em relação à capacidade necessária para suprir a demanda. Temos obras prioritárias de subestações e linhas de transmissão para construir caminhos alternativos de suprimento para restabelecer a energia;, afirmou. Segundo ele, estão em andamento 35 obras emergenciais, incluindo três subestações (Riacho Fundo, Setor Hípico e Samambaia). Leal garante que melhorias já podem ser observadas, mas que a qualidade ideal só deve ser palpável em 2012.

Quanto às ameaças de novos apagões, Leal argumentou que em dias de chuvas intensas ;é inevitável haver algum desligamento;, mas que a CEB está trabalhando para ;dotar o sistema para que os desligamentos tenham a mínima duração possível;. O descumprimento de metas de qualidade já fez com que a CEB recebesse 17 multas da Aneel entre 2002 e 2009, totalizando R$ 42,1 milhões. A holding recorreu de todas elas.




Para saber mais
Divisão forçada
Até 2006, a CEB centralizava em uma empresa todos os serviços que oferece. Por determinação da Aneel, órgão regulador de energia elétrica, a empresa foi desmembrada em oito empresas controladas por um centro financeiro, a CEB Holding. Compõem o grupo: CEB Distribuidora, CEB Geradora, CEB Participações, CEB Gás, CEB Lajeado, BSB Energética, Corumbá Concessões e Energética Corumbá III. A Distribuidora é a principal fonte capitalizadora. A holding concentra o lucro e vem dela a partilha de dividendos entre os acionistas. (AS)