Ana Maria Campos
postado em 28/04/2010 08:18
O poder da Polícia Civil do Distrito Federal é evidente no governo de Rogério Rosso. O novo governador nomeou policiais em cargos de grande visibilidade e destaque. Cotado para comandar a instituição, o delegado Antônio Coelho perdeu a indicação para o colega Pedro Cardoso, que já estava no cargo desde fevereiro. Mas ganhou uma das pastas mais visadas na estrutura do Executivo, tão importante que, no formato da gestão anterior, foi delegada ao vice-governador Paulo Octávio: a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Outro delegado, Geraldo Nugoli, vai dirigir o Departamento de Trânsito (Detran-DF), tirando das mãos de policiais militares o comando da área.A distribuição de cargos estratégicos entre policiais civis de diferentes grupos pacifica as forças políticas na instituição. Cardoso era o nome da preferência do ex-diretor-geral da Polícia Civil, hoje deputado federal Laerte Bessa (PMDB-DF); do presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF), Wellington Luís; e do presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil (Sindepo), Mauro Cézar Lima. De grupo antagônico, o deputado distrital Alírio Neto (PPS), que apoiou a campanha de Rogério Rosso nas eleições indiretas, queria mudanças no comando da Polícia Civil.
Indicação
Nos três anos do governo de José Roberto Arruda, Alírio teve no diretor-geral da Polícia Civil um amigo e coordenador de campanha, o delegado, agora aposentado, Cleber Monteiro. Ele saiu por desentendimentos com Arruda no auge da crise da Caixa de Pandora. Mas Alírio recebeu agora uma compensação. Ex-diretor do Departamento de Atividades Especiais (Depate), órgão que reúne todas as divisões estratégicas na estrutura policial, o delegado Geraldo Nugoli é uma indicação dele.
A escolha de Nugoli para o Detran-DF foi decidida na última sexta-feira em reunião entre Rosso e Alírio, da qual participou também o deputado federal Alberto Fraga (DEM). Com a indicação, o governador quebra uma sequência de nomes de policiais militares para o comando do Detran-DF, que teve como últimos diretores os coronéis da reserva Jair Tedeschi e Cezar Caldas.
A escolha de Coelho para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico é um capítulo à parte. Ex-delegado titular da 2; DP (Asa Norte), Antônio Coelho chegou a ser cotado para a direção-geral da Polícia Civil três vezes desde 2007. Com muitas conexões políticas, Coelho, que ajudou na campanha de Arruda e também na de Rosso, chegou a ser confirmado para o cargo quando Cleber Monteiro deixou a função. Querido por muitos agentes, ele sofre resistência de parte dos delegados por ser ligado politicamente a Marcelo Toledo, agente da Polícia Civil aposentado, investigado na Operação Caixa de Pandora. Coelho é apoiado pelo deputado distrital Benício Tavares (PMDB) e pelo ex-chefe de gabinete de Arruda, Fábio Simão. ;Policiais desfrutam de grande credibilidade pelo trabalho que desempenham. É normal serem chamados para funções estratégicas;, analisa Pedro Cardoso.
AGUIAR NOMEADO
; O vice-presidente do PDT no DF, Marcelo Aguiar, foi nomeado secretário de Educação. Apesar da vinculação com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), Aguiar divulgou nota em que justifica a entrada no governo de Rosso, como um convite pessoal feito por um amigo.
;O PDT ainda não discutiu internamente a participação ou não no Governo;, explicou.
Servidores ficam insatisfeitos
>> Adriana Bernardes
A nomeação de um policial civil para comandar o Departamento de Trânsito (Detran) provocou um descontentamento geral entre os servidores do órgão. No Diário Oficial do DF, divulgado na noite de segunda-feira, o governador Rogério Rosso (PMDB) entregou a diretoria do Departamento aos cuidados de Geraldo Nugoli, ex-diretor do Departamento de Atividades Especiais (Depate) da Polícia Civil. A decisão contrariaria um acordo de bastidores em que Rosso teria se comprometido, por meio do deputado Rôney Nemer (PMDB), a ouvir a categoria antes de escolher o chefe do órgão.
Pegos de surpresa, os servidores ameaçam decretar uma greve geral na assembleia da próxima sexta-feira. Além disso, discutem a possibilidade de todos os servidores de carreira entregarem seus cargos. Geraldo Nugoli tomará posse hoje como o quinto(1) diretor do Detran em três anos e três meses de governo. ;Vamos amanhecer em peso no Detran. Não temos nada pessoal contra o delegado. Mas quando é que a Polícia Civil aceitaria ser comandada por um agente de trânsito? O que um delegado entende de trânsito?;, questiona o presidente do Sindicato dos Servidores do órgão (Sindetran), Eider Marcos Almeida.
Em carta aberta entregue a Rosso e aos deputados distritais, o sindicato pede o fim das nomeações políticas (veja íntegra da carta no site www.sindetran.com.br). Mas, segundo José Alves Bezerra, secretário-geral do Sindetran, o órgão mais uma vez entrou na cota das negociações políticas. ;O Alírio (deputado distrital Alírio Neto) exigiu que Nugoli ocupasse o cargo de diretor do Detran em troca do voto para eleger o Rogério Rosso. Mas não tem porque uma pessoa sem qualquer conhecimento de trânsito, assumir o comando do órgão;, criticou.
Procurado pelo Correio, a assessoria de Alírio Neto informou que ele está de atestado médico. Já os assessores do deputado Rôney Nemer disseram que e mãe dele está hospitalizada e, por isso, ele não poderia falar. Por meio da assessoria de imprensa, Rosso informou que o Nugoli será mantido no cargo. Sua missão é promover uma integração entre a Secretaria de Segurança Pública e o Detran. Ainda de acordo com a assessoria, o governador determinou a Nugoli que, qualquer decisão à frente do órgão, deve ser tomada em consônacia com o que os servidores defendem.
Reforço
O governo nomeou 28 servidores da Carreira Atividade de Trânsito. São auxiliares, psicólogos, pedagogos e médicos que deverão tomar posse nos próximos dias. A expectativa é que a convocação dos concursados (confira lista no site correiobraziliense.com.br)aprovados em 2009 melhore o atendimento dos serviços prestados pelo Departamento de Trânsito do DF.
Contudo, segundo o Sindetran, o quadro do órgão está longe de ser preenchido. ;Vamos cobrar do governo de transição o acordo firmado com o então governador interino deputado Wilson Lima, no qual ficou acertada a contratação de, no mínimo, mais 25 novos servidores para julho ou agosto deste ano;, antecipou Eider Marcos.
1- Rotatividade
O primeiro diretor-geral do Detran foi Délio Cardoso, ex-diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Com a saída dele, em 28 de abril de 2008, o posto foi assumido pelo coronel da Polícia Militar, Jair Tedeschi. Depois dele, o coronel Cezar Caldas, ex-chefe da Casa Militar de Joaquim Roriz, foi nomeado para o cargo. Caldas acabou demitido e, em 8 de março passado, assumiu José Antônio de Araújo. A partir de hoje, quem responde pelo órgão é Geraldo Nugoli.
Comitê cuidará das obras
No mandato-tampão, a decisão sobre a continuidade e a contratação de obras não ficará restrita ao crivo do secretário de Obras. Um comitê presidido pela vice-governadora Ivelise Longhi, arquiteta de carreira do Governo do Distrito Federal, vai cuidar do assunto. A decisão foi tomada ontem pelo governador Rogério Rosso (PMDB) que deverá editar um decreto com os nomes dos membros da comissão. Os secretários de Planejamento, Governo, Fazenda, Transportes e o de Obras participarão da discussão. A palavra final será do próprio governador.
Rosso confirmou na secretaria de Obras a indicação do presidente regional do PMDB, Tadeu Filippelli. Sai Jaime Alarcão, que ficou no cargo durante a gestão de Wilson Lima (PR), a pedido do ex-titular da pasta Márcio Machado, e entra Davi Matos, que foi adjunto de Filippelli na Agência de Infraestrutura e Obras no governo de Joaquim Roriz, hoje no PSC. Matos também foi presidente da Agência Reguladora de Águas e Saneamento (Adasa), por indicação de Filippelli. Na Novacap, braço operacional das obras, Rosso deve manter a diretoria que já havia sido sugerida pelo peemedebista no governo de José Roberto Arruda.
Com a criação do comitê de gerenciamento, os principais assessores de Rosso na área financeira, gestão e de infraestrutura terão poder para decidir prioridades na contratação de novas obras, na deflagração de processos de licitação e na suspensão de eventuais projetos, caso haja algum problema. Estão em curso cerca de 2 mil obras, iniciadas por Arruda, principalmente no sistema viário. Entre os grandes projetos herdados por Rosso estão a conclusão da Linha Verde, uma reforma na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), cuja licitação para o projeto básico está sob investigação no Ministério Público do DF. (AMC)