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Transtornos enfrentados no metrô têm levado usuários a trocar trem por ônibus

Atraso, superlotação, panes

Juliana Boechat
postado em 29/04/2010 07:00

Atraso, superlotação, panesA estudante Ellen Torres, 22 anos, sempre usou o metrô como principal meio de transporte. Nas últimas três semanas, no entanto, decidiu repensar a rotina. Os constantes atrasos dos trens e a superlotação do sistema fizeram com que a moradora de Águas Claras optasse pelo ônibus. ;Eu tenho que acordar mais cedo, mas ainda vale a pena. O metrô está imprevisível;, justificou. Quando decidiu dar a última chance ao metrô, na última sexta-feira, Ellen se arrependeu. O vagão ficou parado na estação do Guará e as portas abriam e fechavam sem parar. A pane no sistema causou confusão entre os passageiros, que, ao fim da manhã, receberam de volta o dinheiro gasto na passagem. ;Sempre aguentei os problemas com paciência. Mas chega um ponto em que nos prejudica. Enquanto não houver melhora no sistema, não vou voltar a usar o metrô;, afirmou.

Ellen não é a única usuária a reclamar do serviço metroviário do Distrito Federal(1). As críticas abrangem desde a inoperância de escadas rolantes nas estações até a falta de manutenção nos vagões ou nos trilhos. Eventuais panes no sistema obrigam a interrupção dos trabalhos em toda a linha ; verde ou laranja ;, não importa a hora. Dessa forma, os vagões ficam parados mais tempo que o normal em cada estação, andam em velocidade baixa ou ainda param no meio do caminho. Outro problema envolve a pequena quantidade de trens para atender 150 mil pessoas diariamente, o que resulta na superlotação diária. Apesar da insatisfação, o metrô ainda é a primeira opção de transporte cômodo para grande parte dos brasilienses.

Atraso, superlotação, panesDesenvolvida pela estatal brasileira Marfesa ; que hoje pertence à francesa Alstom, responsável pela construção de trens no Brasil ;, a tecnologia utilizada nos trens do DF está ultrapassada. O primeiro vagão chegou à capital federal em 23 de março de 1994, ano em que deveria ter sido concluída a obra da linha metroviária. Com o atraso nos trabalhos, porém, os usuários de transporte público só puderam usufruir do sistema a partir de 2001. Antes, o vagão era usado no metrô de São Paulo, que, na época, resolveu modernizar o seu sistema. Dessa forma, o produto já chegou a Brasília defasado. Os trens daqui, por exemplo, não têm sistema computadorizado para dar avisos aos passageiros, como ocorre nas grandes capitais. Com tecnologia desenvolvida nos anos 1980, é difícil até mesmo encontrar peças em casos de pane. Com manutenção frequente, os trens deveriam durar de 80 a 100 anos.

Rotina alterada
Qualquer problema de gestão ou falta de manutenção influencia diretamente a rotina dos usuários. Só nos primeiros quatro meses deste ano, os passageiros enfrentaram 12 dias de paralisação quase total dos serviços do metrô, passaram pelo susto do descarrilamento de um vagão, em Ceilândia, e lidam com as consequências das suspeitas de fraude(2) na direção do órgão. De acordo com a assessoria de imprensa da Companhia do Metropolitano (Metrô-DF), os vagões são limpos todas as noites e passam por manutenção frequente no Complexo Administrativo e Operacional do Metrô, em Águas Claras ; já que sofrem constante depredação por parte dos usuários.

A aposentada Vera Lúcia Raposo, 66 anos, acredita que os problemas técnicos do sistema metroviário estão cada vez mais constantes. ;Sempre tem um vagão quebrado, os trilhos estão sempre em manutenção e a ida e a volta para casa é sempre cheia. Teve um dia em que o vagão em que eu estava teve de ser evacuado para ser rebocado.; Moradora de Águas Claras, ela conta com o metrô todos os dias para realizar um trabalho social. ;Costuma ser o transporte de fácil acesso, conforto e rapidez. Mas esses dias demorei mais de uma hora para percorrer um caminho que normalmente dura 20 minutos de trem. Está cada dia mais difícil;, reclamou. Para o advogado Simão Szklarowsky, 48 anos, o problema está nas escadas rolantes das estações: ;As escadas da 109 Sul funcionam dia sim, dia não. As da Estação Central nem sequer funcionam, assim como as da 102 Sul. Até quando vai ficar assim?;.

O coordenador-geral do Sindicato dos Metroviários, Solano Teodoro da Trindade, acredita que o transporte sobre trilhos do DF está sucateado e abandonado. ;A direção segue a linha de terceirizar e sucatear o metrô. Eles não têm interesse em melhorar o sistema;, alegou. Solano critica ainda a falta de recursos para o metrô ; que, segundo ele, poderiam ser adquiridos por meio de publicidade nas estações ou nos vagões ;, o sistema de manutenção ultrapassado e o preço alto das passagens. ;O metrô vê hoje o resultado de 10 anos de sucateamento. Cada vez mais pessoas vão usar os trens, e a tendência é que quebrem cada vez mais. Um vagão novo em folha não resolve esse problema.;

150 mil usuários
O sistema metroviário tem 23 estações e 42,3km de linhas que ligam Brasília a Ceilândia e Samambaia, passando por outras cidades. Vinte vagões transportam cerca de 150 mil passageiros todos os dias. Os intervalos dos trens variam de 4min35 a 21min, de acordo com o horário, o dia e o percurso desejado. Grande parte do percurso é feito sobre a terra e não atende a população da parte norte do DF.

Sob suspeita
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagrou a Operação Bagre para apurar possíveis fraudes na licitação no Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ; obra mais cara já contratada pelo DF, orçada em R$ 1,5 bilhão. O VLT é de responsabilidade do Metrô-DF. Logo após as denúncias, o governador Rogério Rosso substituiu a direção do órgão e determinou que os cargos mais altos fossem ocupados por servidores.




Confira a vídeorreportagem sobre a situação do Metrô-DF






Palavra de especialista

Soluções para evitar caos futuro

Os atrasos viraram rotina nas estações: com a demora do intervalo, trens passam superlotados;O serviço de transporte urbano tem que atender a população em dois aspectos principais: estar disponível quando e onde a população precisar. No caso de Brasília, o metrô poderia ficar disponível até mais tarde durante feriados e fins de semana. Além disso, se eu moro perto da única linha que o metrô atende, tudo bem. Mas se moro na Asa Norte, não existe um sistema de integração com os outros meios de locomoção. A confusão de informação e as constantes greves tornam o transporte público menos seguro e menos atrativo. Por isso, as pessoas ainda se sentem muito confortáveis com a independência que o carro proporciona. Se o governo der uma qualidade melhor ao transporte público, faz com que os motoristas troquem o carro pelo metrô. A tecnologia do metrô aqui em Brasília é adequada e suficiente, mas precisa receber investimento e ser tratada pelos moradores como patrimônio da cidade. No futuro próximo, Brasília não vai suportar a quantidade de carros. Precisamos, então, inventar alternativas de transporte. Temos que começar a resolver hoje o problema que enfrentaremos daqui a 20 anos.;
Luis Claudio Santana Montenegro é professor da Universidade Católica de Brasília (UCB)e especialista em transporte

Melhorias em estudo

A direção do Metrô reconhece os constantes problemas enfrentados pelos usuários do transporte sobre trilhos. Por meio de nota, a assessoria de imprensa do órgão explicou que um estudo detalhado das interrupções do serviço está sendo realizado. Dessa forma, será possível adotar medidas para melhorar a rotina de operação e de manutenção dos trens, além de identificar a necessidade de investimentos no sistema.

A nota ainda informa que a manutenção do sistema é compatível com as normas técnicas e os índices de qualidade exigidos. E que, por isso, o sistema sobre trilhos pode ser considerado em boas condições. A assessoria de imprensa informou ainda que foram comprados 12 novos trens para compor a atual frota de 20 vagões. E explica que a modernização de todo o metrô deverá ser concluída em 2011.

Em relação ao descarrilamento do trem no trecho de Ceilândia, em 12 de abril, os técnicos realizaram testes em todos os equipamentos e afasta qualquer possibilidade de novos acidentes. (JB)


Povo fala

O que você acha do serviço do metrô no Distrito Federal?
Fotos: Joel Figueiredo Thé/Esp. CB/D.A Press


Janiny Almeida Vargas
O descarrilamento de um vagão, este mês, assustou os passageiros;O metrô ainda tem a vantagem de ser rápido, em relação ao ônibus, por exemplo. Mas, assim como qualquer outro veículo, também quebra, desliga e causa transtornos para a população. O metrô ainda é a melhor forma de transporte na cidade. Com ele, gastamos menos tempo e, teoricamente, temos mais conforto. Ultimamente, anda muito cheio. O governo precisa comprar mais vagões;
Janiny Almeida Vargas, 20 anos, auxiliar administrativa,moradora de Ceilândia


Izabelle Nunes
Com vagões antigos e tecnologia ultrapassada, a necessidade de tirar o trem de circulação para conserto tem se tornado uma constanteAndo todos os dias de metrô e está cada dia mais cheio. Falta organização por parte dos diretores da empresa e respeito por parte da população. As pessoas empurram e esmagam as crianças. Somos tratados como animais. Além dos constantes atrasos que eu convivo por causa de pane, greve etc. Ainda assim, é a melhor opção. Passa pouco ônibus em Águas Claras e eles também estão sempre cheios e quebrados
Izabelle Nunes, 14 anos, estudante, moradora de Águas Claras

Bruno Lopes Carvalho
Atraso, superlotação, panes;O metrô tem vários problemas. Parece que a cada dia rodam menos vagões, pois está cada dia mais cheio. E ninguém faz nada para resolver. Quando dá alguma pane, o motorista só informa que é falha no sistema e nada mais. Pelo menos uma vez por semana temos problema para ir ao trabalho ou para casa. Ou os vagões param totalmente ou andam abaixo da velocidade. Mas pelo menos não pegamos engarrafamentos;
Bruno Lopes Carvalho, 27 anos, atendente de loja,morador de Samambaia

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