Cidades

Dia Internacional da Dança será comemorado hoje

Em Brasília, dia será lembrado com um grande espetáculo aberto no Teatro Nacional. Representantes de academias especializadas em diversos ritmos estarão presentes no evento, numa prova de que a cidade, cada vez mais, tem criado espaços para dançar

postado em 29/04/2010 07:00

Os passos do balé clássico são fortes bases para quem quer aprender a dançarNão importa se os movimentos são desajeitados ou perfeitos, se a música é rápida ou lenta, se há inúmeros olhos curiosos na plateia ou apenas o espelho do banheiro como testemunha. O importante é dançar. ;É uma atividade física, sem impacto, prazerosa, que permite a interação entre as pessoas;, afirma Alessandra Avelino, proprietária de uma escola que ensina variados ritmos. Hoje é o Dia Internacional da Dança(1), uma boa data para escolher um estilo e arriscar os primeiros passos. Quem dança e quem ensina garantem que só há efeitos benéficos na atividade.

Cada vez mais brasilienses parecem seguir esse caminho. Para o professor de dança Marcelo Amorim, as aulas de todas as modalidades têm sido cada vez mais procuradas, e por pessoas de idade svariadas. Segundo ele, o estigma de ritmos se perdeu. ;Antes, senhoras idosas dançavam tango e bolero e os mais jovens dançavam salsa e forró. Hoje, todos se encontram nas aulas.; São inúmeros os motivos para tamanha animação: alguns chegam por recomendação médica e terapêutica, outros em busca de companhia, alívio do estresse e até de um novo relacionamento.

;Dançar proporciona alegria e conhecer as pessoas. Libera serotonina, que é o hormônio da felicidade, além de queimar calorias e mexer com toda a musculatura;, destaca a professora Alessandra. Além disso, mover-se ao inebriante som de uma música, qualquer que seja, trabalha a espontaneidade, a expressão corporal, o condicionamento físico e estimula uma respiração mais compassada e profunda. ;Para se manter sociável, a pessoa tem que saber pelo menos alguns passos de dança;, defende o também professor de dança Kleiberton Gonçalves.

O aposentado João Lima, 72 anos, é prova viva do poder de transformação desses movimentos. Cardíaco, sofreu infarto, câncer de próstata, submeteu-se a cirurgias e quase perdeu uma perna. Chegou às aulas de dança por recomendação médica. ;Hoje estou bonzinho, porque a cabeça está melhor;, garante. Enquanto imita passos de frevo, ele assegura que jamais teve recaídas em sua saúde.

Forró
Há uma unanimidade: todos afirmam que as aulas mais procuradas são as de forró. Alessandra Avelino afirma que é possível manter turmas abertas o ano todo, sem faltar gente interessada. ;O forró é o resgate da história dos nordestinos. E todo mundo por aqui cresceu ouvindo Luiz Gonzaga e dançando quadrilha;, acredita. ;Muitas casas noturnas da cidade oferecem o ritmo;, emenda Marcelo Amorim.

E o que tem surpreendido os professores? Segundo Kleiberton Gonçalves, o público em busca de danças como zouk e salsa aumenta bastante. Um exemplo é um encontro de dançarinos de zouk realizado recentemente em Brasília , que reuniu cerca de 2 mil alunos e os melhores professores da modalidade. Ele acrescenta que o hip-hop tem sido usado pelas escolas para aumentar a socialização entre adolescentes.

Outro ritmo outrora considerado fora de moda que vem ganhando fôlego entre os pés de valsa é o tango. ;Dou aulas desde 1983 e nunca vi tanta procura em relação ao tango;, comenta Kleiberton. Marcelo Amorim diz que as aulas desse ritmo não costumavam ser tão cheias, já que havia uma visão geral de que era impossível aprender os passos. Esse temor, entretanto, caiu por terra. ;Hoje, muitos já perceberam que é uma dança executada por pessoas normais. As turmas chegam a 50 alunos;, comemora Amorim.

Domínio do corpo Individualmente, em pares ou em grupos maiores, dançar tem despertado interesse
Os vários ritmos de dança de salão podem estar no topo da preferências da maioria, mas há estilos que jamais perderão seu reinado. ;O balé clássico é o fundamento de tudo. Permite conhecer e dominar o corpo, para depois (o aluno) dançar tudo o que quiser;, assegura Maria do Carmo Boggi, dona de um estúdio de dança clássica. Uma de suas alunas, Déborah Bicca, 16 anos, é exemplo desse fascínio que a modalidade ainda desperta nos praticantes. Afinal, ela calçou as sapatilhas aos quatro anos de idade e nunca mais parou de dançar. Ao falar da arte que pratica diariamente, na ponta dos pés, sente os olhos marejados. ;A hora em que danço é a hora em que mais me lembro de mim;, resume.

Segundo João Carlos Corrêa, integrante do Fórum de Dança do Distrito Federal e Entorno, há cerca de 4 mil instituições e artistas associados. ;Hoje Brasília é polo de dança. Há grupos de fora procurando palco para se apresentar aqui e artistas locais se consagrando em palcos do Brasil.; No entanto, ainda é preciso um longo caminho para que a dança seja uma constante na vida cultural. Corrêa anseia pela criação de uma faculdade de dança, a regulamentação da profissão de forma mais clara e salas de espetáculos que não cobrem preços proibitivos aos bolsos dos artistas locais.

Para celebrar o dia, o Centro de Dança preparou uma festa com mais de 30 apresentações, hoje, no Teatro Nacional. Quem quiser comemorar dançando, pode fazer uma aula experimental na academia Body Factory, no Hotel Kingstown, no centro de Taguatinga, e chegar mais aquecido ao teatro.

A data
O Dia Internacional da Dança é comemorado em 29 de abril porque neste dia, em 1727, nasceu o bailarino e professor de dança Jean Georges Noverre, considerado o pai do balé moderno. Ele deixou uma série de cartas com leis e teorias sobre o ritmo. Em suas palavras, a dança era uma arte nobre, destinada à expressão e ao desenvolvimento de um tema. Noverre defendia mais simplicidade nos movimentos, além de trajes mais cômodos para os bailarinos. Outra inovação foi estudar os movimentos dos cidadãos mais simples, em vez de reproduzir apenas o gestual dos nobres.

Estilos variados

Preparo físico é essencial e se adquire com prática

Forró
Não há consenso sobre a origem da dança, mas o Nordeste absorveu esse ritmo, que hoje é umas das mais genuínas manifestações brasileiras. Luiz Gonzaga, seu ícone máximo, espalhou as canções pelo Sul do Brasil ainda na década de 1940. A sonoridade se caracteriza pelo som da zabumba do triângulo e da sanfona, em uma pegada agitada e contagiante. Hoje, novos sons foram agregados pelo forró e os passos não se resumem mais ao ;dois para um lado, dois para o outro, um no meio.; Os forrozeiros podem exibir desde os mais suaves rodopios às mais ousadas acrobacias.

Salsa
O ritmo nasceu da sensualidade dos habitantes de Cuba e sofreu influência dos colonizadores franceses que chegaram ao país. Eles reduziram a movimentação da pélvis e deram mais suavidade aos passos. Salsa , ou mistura de temperos, é uma dança divertida e sensual, que já virou sinônimo de latinidade nos países mais formais. A dança incorporou muitas voltas e evolui lateralmente, sempre sem passos fluidos, que não seguem marcações rígidas.

Samba
O nome de um dos mais cultuados ritmos nacionais foi trazido pelos escravos africanos para a Bahia. Anteriormente associado aos rituais africanos, foi sofrendo mudanças até ganhar os salões da Corte. O samba como se conhece hoje nasceu nos morros cariocas e dividiu-se em muitos estilos, como o samba no pé, dança frenética que invade as avenidas do samba durante o carnaval; e o samba de gafieira, dançado a dois. Os movimentos exploram a malandragem, a elegância e o ritmo, que se concentra nos quadris.

Zouk
No dialeto creole, quer dizer festa. Tem origem caribenha e, no Brasil, ganhou novas influências e nova roupagem. Por aqui, os movimentos, feitos a dois, ficaram mais suaves e sensuais. Há quem diga que o zouk é semelhante à lambada, e agradou em cheio aos brasileiros quando esse ritmo entrou em decadência.

Bolero
Embora sua origem seja confusa, a maioria dos historiadores acredita que o bolero tenha migrado dos países europeus para Cuba, antes de ganhar o mundo. Hoje, é considerado avô de outros ritmos, como cha cha cha, salsa e mambo. Ao chegar ao Brasil, o ritmo sofreu influências do tango e agregou giros, caminhadas e cruzadas de perna. Mas o que importa mesmo é dançar bem juntinho.

Tango
O trágico ritmo argentino traz agressividade, drama, paixão e é considerado ;duro;, por não ter os requebros nos quadris tradicionais nas manifestações brasileiras. A dupla percorre a pista com passos sincopados, que se alternam com rápidos movimentos de pernas e fazem desenhos no ar com a ponta dos pés. As coreografias aproximam e afastam o casal continuamente, em movimentos lânguidos e melancólicos.

Balé
Originário da Itália, o ritmo é considerado o princípio de todas as danças. Baseia-se na postura ereta, rotação dos membros inferiores, verticalidade do corpo, disciplina, leveza, simetria e harmonia. Os movimentos são precisos, delicados e incluem piruetas e pontas de pé.

Dança contemporânea
Surgiu como oposição à dança clássica, como o balé. As sapatilhas e a magreza deixaram de ser essenciais aos bailarinos e a estética foi subvertida. O que importa nessa modalidade não é uma rigidez coreográfica, mas a expressão de sentimentos, ideias e conceitos. Improvisos passaram a ser permitidos durante os espetáculos e os movimentos possíveis começaram a ser objeto de pesquisa.


Programação
Espetáculos a partir de 19h30, na Sala Villa-Lobos, do Teatro Nacional Claudio Santoro ; Eixo Monunemtal/W3 Norte, telefone 3325-6105. A entrada é franca, mediante entrega de 1kg de alimento não perecível. Classificação indicativa livre.
Hotel Kingstown ; Setor Hoteleiro, Projeção H, Taguatinga. Telefone: 2107-0202.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação