Cidades

Lixo invade as ruas da capital

Luiz Calcagno, Naira Trindade
postado em 29/04/2010 08:03
A greve dos servidores terceirizados responsáveis pela coleta do lixo mergulhou Brasília em um caos em apenas dois dias de paralisação. Escolas, postos de saúde e hospitais que dependem do trabalho de faxineiras, serventes, copeiros, secretários e porteiros, por exemplo, estão com os serviços comprometidos. Cerca de 4,8 mil servidores filiados ao Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Conservação, Trabalho Temporário, Prestação de Serviços Tercerizáveis do Distrito Federal (Sindiserviços) e ao Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub) estão de braços cruzados. A categoria reivindica aumento de 53% no piso salarial, que é de R$ 502, valor abaixo do salário mínimo nacional, de R$ 510.

Apesar de ter sido limpa pelo SLU na terça-feira, a Rodoviária do Plano Piloto já sofria novamente com o acúmulo de sujeira na tarde de ontemOs servidores também pedem reajuste do tíquete-alimentação de R$ 8 para R$ 15. Os efeitos da greve são mais visíveis na área de limpeza, uma vez que a sujeira acumulada nos locais de maior circulação, como a Rodoviária do Plano Piloto, é grande. Ontem, alguns passageiros chegavam até a afastar, com os pés, os sacos de lixo jogados nas escadas. O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) limpou a Rodoviária do Plano Piloto na noite de terça-feira. Ainda assim, ontem à tarde, o local voltou a ser tomado pela sujeira e pelo mau cheiro. A operação-tampão provocou ainda um tumulto entre os filiados do Sindiserviços e os servidores do SLU. Os grevistas tentaram impedir o trabalho realizado em caráter emergencial. A Polícia Militar foi chamada para garantir que o serviço fosse concluído.

O administrador da Rodoviária, Julio Cezar Figueira, relatou que os trabalhadores sindicalizados chegaram a reclamar inclusive dos comerciantes que limparam a frente de suas lojas. ;O Sindicato tem que ser mais negociador. Eles não podem argumentar em cima do mal-estar da população. A greve é legal, mas é errado fazer isso;, reclamou. Na Rodoferroviária de Brasília, o lixo também estava espalhado pelo chão e transbordando das lixeiras. Embaixo dos assentos se acumulavam embalagens plásticas, papéis e restos de comida.

Efetivo mínimo
O administrador do terminal, Wellington de Morais, se queixou da ausência total de funcionários. Para ele, o efetivo mínimo de 30% deveria trabalhar. ;A greve é um direito, mas a lei deve ser cumprida. Concordo que o salário é baixo e deve até haver superfaturamento nessa história, mas a sociedade não deve ser penalizada;, disse. A população se divide entre o apoio ao movimento grevista e o descontentamento. O juiz arbitral Moacir Fagundes, 52 anos, foi à Rodoferroviária e teve que esperar o ônibus em meio à sujeira. ;Em todos os lugares do DF está assim. Mas acho que todo trabalhador tem o direito de reivindicar;, avaliou. A autônoma Rita Pereira passa todos os dias pela Rodoviária. Para ela, a sensação é de descaso das autoridades. ;O salário deles não dá nem para uma cesta básica. O governo devia ouvir o pessoal da limpeza;, ponderou.

Nos colégios públicos, salvaram-se apenas aqueles que têm pelo menos parte dos servidores de limpeza contratados pelo Governo do Distrito Federal. O Centro de Ensino Médio da Asa Norte (Ceam) teve um dia normal de atividades, mas no Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb), os estudantes tiveram de dividir o espaço com o lixo. Na Universidade de Brasília, os efeitos não foram sentidos porque a instituição passa por uma paralisação dos professores e servidores e, com isso, o número de alunos em circulação é muito inferior ao habitual.

O serviço de saúde do DF também sentiu os danos da greve. No Hospital Regional da Asa Norte (Hran), apenas 20 dos 80 servidores cumpriam a escala. As 20 salas do centro cirúrgico, por exemplo, contavam apenas com um profissional para toda a limpeza. De acordo com a presidente do Sindiserviços, Maria Isabel Caetano dos Reis, os servidores devem se reunir hoje, às 16h, para uma nova rodada de negociações no Ministério Público do Trabalho. O Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação, Trabalho Temporário e Serviços Terceirizáveis do Distrito Federal (Seac) contesta na Justiça a legalidade do movimento. ;A greve não foi anunciada com antecedência, como deveria;, argumenta o presidente Luiz Cláudio La Rocca. Caso a audiência de hoje não traga resultados, uma outra já está marcada para amanhã, mas será realizada no Tribunal Regional do Trabalho.

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