postado em 30/04/2010 09:29
Os moradores do Distrito Federal que tiram seu sustento da informalidade trilham um caminho árduo e solitário. Além de ficarem à margem do aparato de tributação e concessão de benefícios sociais do Estado, eles estão por conta própria no dia a dia para tomar decisões e enfrentar as dificuldades de tocar um negócio. Também dependeram da própria iniciativa para aprender o ofício a que se dedicam. As conclusões estão na pesquisa Empreendedores individuais no Distrito Federal, realizada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Instituto Fecomércio, ligado à Federação do Comércio do DF (Fecomércio-DF), que foi antecipada pelo Correio na edição de terça-feira última.O levantamento, que ouviu 5.119 empreendedores informais em 18 regiões administrativas do Distrito Federal, revelou que 95,9% deles não estão ligados a qualquer associação ou cooperativa que ofereça orientação e apoio. Além disso, questionados sobre a maneira pela qual se deu a aprendizagem da profissão, 46,2% entrevistados declararam ter observado o trabalho de outros empreendedores. Perguntados se tinham qualificação formal, 41,6% admitiram não ter nenhuma. Os dois percentuais podem ser considerados correlatos.
Outro dado que chamou a atenção é que, mesmo enfrentando adversidades, os autônomos do DF têm muitos anos de estrada. O estudo do Sebrae e do Instituto Fecomércio revelou que o tempo médio de atividade desses trabalhadores é de 15 anos e 10 meses.
;Os números mostram que o nosso grande desafio é levar a cultura da cooperação;, afirmou José Antônio Ramalho, consultor técnico do Sebrae e um dos responsáveis pela pesquisa. ;Estamos diante de pessoas que, mesmo trabalhando com dificuldades, têm experiência acumulada, que não podemos desprezar. Será preciso pensar bem em como será o atendimento a essa clientela;, acrescentou Ramalho, lembrando que o objetivo do Sebrae e da Fecomércio é formular políticas públicas a partir dos dados revelados pelo levantamento.
No olho
José Antônio Ramalho destacou que, apesar de 46% dos trabalhadores ouvidos terem afirmado que aprenderam a exercer a profissão observando o trabalho de outros, o percentual de trabalhadores que declarou ter recorrido a cursos e treinamentos para o aprendizado também foi alto, de 28,1%. ;Isso deve ser visto como um dado positivo;, disse. Os demais respondedores disseram ter se qualificado em empregos anteriores (14,8%) ou ensinados por familiares (11%).
Dentre as atividades dos empreendedores que têm qualificação profissional destacam-se a de cabelereiro ou barbeiro (11,4%), vendedor (7,5%) e técnico em informática (6,9%). Juntas, as três categorias representam 25,8% das profissões identificadas entre os empreendedores autônomos.
A primeira etapa da pesquisa foi aplicada em Ceilândia, Samambaia, Taguatinga, Recanto das Emas, Gama, Sobradinho I, Sobradinho II, São Sebastião, Santa Maria, Paranoá, Guará, Núcleo Bandeirante, Brazlândia, Cruzeiro, Riacho Fundo I, Riacho Fundo II e Planaltina. Ainda no primeiro semestre deste ano, os pesquisadores devem visitar também o Plano Piloto, o Lago Sul, o Lago Norte, o Sudoeste, a Octogonal, o Park Way, a Candangolândia, o Jardim Botânico, o SIA, a Estrutural e o Itapoã.
Memória
Mulheres são maioria
Os primeiros números divulgados apontam que 52,4% dos empreendedores informais do DF são mulheres. Além disso, 36% têm menos de 30 anos e 45,3 % são nordestinos. Quanto à área de atuação, a maioria, 48,4%, concentra sua atividade no setor de serviços. Um total de 31,3% tem renda entre dois e três salários mínimos, ou seja, de R$ 1.020. A maioria, 83,3%, exerce a atividade profissional fora do ambiente doméstico.
Entre as dificuldades enfrentadas por quem trabalha informalmente, a mais lembrada pelos entrevistados foi a dificuldade de obter empréstimo, citada por 20,5% deles. Questionados sobre que tipo de curso gostariam de fazer para auxiliá-los no trabalho, 18,2% disseram estar interessados em aprender sobre capacitação de gestão em pequenos negócios. Por fim, a pesquisa evidenciou que mais de 90% dos entrevistados têm interesse em se formalizar, dado considerado positivo pelo Sebrae e pelo Instituto Fecomércio.