postado em 01/05/2010 07:31
Em dezembro do ano passado, na Bahia, a história de um garoto de dois anos que teve introduzidas no corpo mais de 50 agulhas durante rituais de magia negra chocou o Brasil (leia Memória). No Distrito Federal, a Polícia Civil pode estar diante de um caso semelhante. Uma jovem de 21 anos está internada, desde o último dia 27 de janeiro, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), com diversos objetos pelo corpo, que sugerem ser agulhas, grampos e alfinetes. As investigações estão a cargo da 12; DP (Taguatinga Centro) e a mãe da paciente é a principal suspeita.
Os exames foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML), mas o laudo só deve sair em 30 dias. Somente com o resultado será possível constatar se Nildna era vítima de agressões, e também qual é o grau de sua deficiência. Por enquanto, sabe-se apenas que ela apresenta deficit cognitivo e auditivo e que chegou ao hospital com sinais de desnutrição. Nesses três meses de internação, Nildna engordou quase 10kg e a mãe Valdetina Pereira dos Santos, 47 anos, visitou a menina poucas vezes.
Maus-tratos
De acordo com a delegada-chefe da 12;DP (Taguatinga), Vera Lúcia da Silva, alguns indícios levam a crer que Valdetina esteja envolvida no caso. ;Por todo o corpo da Nildna há cicatrizes e marcas de maus tratos. Em depoimento, a mãe mostrou-se indiferente e nem um pouco surpresa com a descoberta de que a filha têm objetos no corpo;, explica.
Um laudo do Hospital de Taguatinga reforça as suspeitas da delegada. Nele, consta que Nildna, além de apresentar várias marcas de agressões pelo corpo, demonstra medo e se recusa a falar sobre o assunto. Além disso, foi revelado que a suspeita é alcoólatra e que, das poucas vezes que teria visitado a filha no hospital, estava sempre embrigada. Entretanto, para a delegada, ainda é cedo para apontar culpados, se é que existe algum. ;Ainda estamos investigando o por que e como ela foi perfurada;, afirma. Em princípio, o acusado será indiciado por maus tratos. Nesse caso, a prisão varia de dois meses a um ano.
[SAIBAMAIS]Nildna estuda no Centro de Ensino Especial da cidade, que recebe apenas alunos com deficiência. Alguns familiares da vítima foram ouvidos pela polícia na tarde de ontem. Segundo a delegada, eles afirmaram que Nildna, devido distúrbios mentais, é negligenciada e maltratada em casa.
Agressões antigas
Não é a primeira vez que a polícia investiga uma violência contra a jovem O Correio apurou que, em novembro de 2000, o avô da jovem Manoel Pereira dos Reis foi preso por abusar sexualmente dela. Na época, uma denúncia anônima foi feita ao SOS Criança, que, ao constatar a procedência das agressões, acionou a polícia. Ao chegarem à residência da vítima, os agentes constaram que ela estava com um ferimento na vagina. Hoje, o avô mora na Estrutural.
Na casa onde Nildna reside com outras 24 pessoas, sendo oito irmãos, ninguém quis comentar as acusações contra Manoel. Eles também desconsideraram as suspeitas de que a mãe teria introduzido os fragmentos metálicos na garota. Para a tia Ivonilde Pereira da Silva, 37 anos, a sobrinha se automutilou. ;Eu já presenciei Nildna cortando a perna com uma faca e dizia que estava apenas brincando. Ninguém aqui na casa, muito menos a mãe dela, seria capaz de fazer uma crueldade dessas;, disse.
Já Valmir Pereira, 37 anos, também tio da vítima, recorreu a exemplos de acontecimentos anteriores para defender a irmã. ;Alguém que come carne crua e tudo o que vê pela frente pode fazer qualquer coisa, até mesmo engolir agulhas. Não podem acusar minha irmã;.
Para o secretário de saúde do DF, Joaquim Carlos Barros, é improvável que a paciente seja a responsável pelos ferimentos. ;Os objetos não foram introduzidos por via oral e nada sugere que a jovem tenha se automutilado. Porém, cabe a polícia saber o que realmente ocorria com essa moça;, afirmou Barros.
O chefe da pasta da saúde destacou, ainda, que os vários tipos de infecções identificadas pela equipe médica reforçam a ideia que Nildna vivia em um ambiente inadequado. ;Ela já foi internada mais de cinco vezes, todas pelo mesmo motivo (infecção). Mesmo se ela não tivesse com as agulhas no corpo, o quadro de infecção seria o mesmo. Pode ser reflexo da má alimentação, da precária higiene, entre outros fatores. Por enquanto, esses objetos não representam risco, haja visto que eles não estão próximos a nenhum órgão nobre. O mais importante agora é debelar todas essas infecções antes de pensar em retirar esses corpos estranhos;, complementou o secretário.
Memória
País chocado
Em dezembro do ano passado, a história de um menino de apenas 2 anos internado com mais de 50 agulhas espalhadas pelo corpo chocou o Brasil. O caso aconteceu em Ibotirama (BA) e ganhou repercussão nacional depois que a mãe do garoto o levou a um hospital no município de Barreiras em virtude das frequentes queixas do filho, que dizia ter fortes dores na barriga. Depois de fazer uma radiografia, os médicos constaram que o sistema digestivo da criança estava tomado por agulhas.
A polícia abriu uma investigação para apurar o caso e, dias depois, prendeu o padrasto do garoto, que confessou ter inserido os objetos no corpo do menino como parte de um ritual religioso. Ele contou com a ajuda de uma mulher, apontada como sua amante, para cometer o crim. Diante da gravidade do quadro da criança, ela acabou transferida para Salvador, onde passou por três cirurgias para retirar as agulhas. O casal responde agora a um processo por tentativa de homicídio qualificado.