postado em 01/05/2010 07:35
Desgastada após a divulgação do laudo do Instituto de Criminalística (IC), que colocou em xeque a investigação do triplo assassinato na 113 Sul, iniciada por ela, a delegada Martha Vargas pediu licença da Polícia Civil pela primeira vez em 20 anos de carreira. Ontem, ela havia sido exonerada da chefia da 1; Delegacia (Asa Sul) para garantir a isenção nas diligências abertas pela Corregedoria da corporação, que apura indícios de falsidade na suposta principal prova material do crime que levou à prisão três homens. Todos foram soltos após o caso mudar de unidade policial.O diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Pedro Cardoso, não impôs dificuldades ao pedido de Martha para ficar 30 dias fora da corporação. Novamente, Cardoso lamentou o fato de a chave apreendida no quarto de Alex Peterson Soares, 23 anos, preso em novembro passado, ser a mesma recolhida por agentes na noite em que descobriram o crime. Os corpos do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva, 58, foram encontrados em 31 de agosto de 2009 no apartamento dos Villela, o 601/602 do Bloco C da SQS 113. Os três haviam sido esfaqueados três dias antes. Peritos do IC fotografaram o objeto no cenário da tragédia, há oito meses, e comprovaram a falha por meio de comparações. O Correio divulgou com exclusividade que a chave havia sido desmontada como prova. ;É uma pena que uma profissional como ela (Martha) tenha sua biografia manchada dessa forma;, disse Cardoso.
O diretor revelou que a intenção da ex-delegada da 1; DP não é ficar os 30 dias de folga. ;Ela disse que deve voltar antes.; Martha Vargas e alguns agentes que participaram dos primeiros três meses de investigações do crime na 113 Sul devem prestar depoimento na Corregedoria da Polícia Civil quando a delegada retornar da licença. Desde dezembro, o caso está sob a responsabilidade da Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida), unidade especializada em homicídios.
Agressões
A Corregedoria também deverá apurar as denúncias de dois homens, que foram presos pela equipe da 1; DP, em novembro passado, por suspeita de envolvimento no crime. Depois de Alex Peterson afirmar ao Correio ter sido torturado por agentes da unidade chefiada por Martha Vargas, agora é vez do ex-vizinho dele Cláudio José de Azevedo Brandão(1), 38, acusar os policiais de o agredirem na ocasião em que ficou detido. ;Os 12 anos que passei na cadeia, por conta de um homicídio, nem se comparam aos 20 dias em que fiquei preso no Departamento de Polícia Especializada (DPE);, disse Cláudio.
Cláudio contou que sofreu diversas agressões. ;No dia em que fui preso (13 de novembro), apanhei;. A violência também teria sido psicológica, segundo ele: ;Eles me tiraram às 6h da cela e só me devolviam às 4h da madrugada do dia seguinte. Ficavam me obrigando a confessar, pois sabiam que era eu o assassino. A própria delegada (Martha Vargas) falava isso;, afirmou.
[SAIBAMAIS]Para Cláudio, a exoneração de Martha Vargas não é suficiente: ;Eu quero que os agentes dela também recebam punição;. ;Os agentes falaram que, se eu não confessasse, iriam empurrar (imputar) outros crimes para mim: homicídio, estupro. Eu falei: ;Pode fazer. Vou chegar na cadeia e vou logo morrer, pois estuprador os caras (detentos) matam na hora. Mas eu não confessarei esse crime;;, afirmou. O homem reiterou que já pagou pelo que fez, referindo-se ao homicídio que cometeu e, por ele, ficou preso por 12 anos.
Desempregado e pai de quatro filhos ; de 7, 9, 15 e 17 anos ;, Cláudio passa por dificuldade financeira. Ele acusa a prisão pelo crime da 113 Sul como a principal causa para não arranjar emprego. ;A dona da casa onde moro de aluguel pediu o imóvel de volta;, lamentou. O homem garante que não voltará a cometer crimes. Da época em que ficou preso, ele mantém o hábito de ler a Bíblia: ;Gosto de todos os salmos;.
1 - Depoimento
Cláudio José acabou preso porque, em depoimento prestado a Martha Vargas, dois homens detidos anteriormente o acusaram de ser o dono da suposta chave que abria uma das portas de serviço do apartamento do casal assassinado. A partir do 13 de novembro, época da prisão, a polícia começou a tratá-lo como o principal suspeito do triplo homicídio.
Sem resposta
Os Villela e a empregada deles foram assassinados há 246 dias
As vítimas levaram, ao todo, 73 facadas