postado em 02/05/2010 08:07
A Corregedoria da Polícia Civil vai investigar a denúncia de tortura feita por Alex Peterson Soares, 23 anos, e Cláudio José de Azevedo Brandão, 38. Em novembro do ano passado, eles foram presos pela suposta participação no triplo homicídio da 113 Sul, mas acabaram soltos por falta de provas. Procurados pela reportagem do Correio, eles disseram que foram obrigados a admitir a autoria do crime após apanharem de policiais da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul). Na época, a unidade era chefiada pela delegada Martha Vargas, exonerada (1)na última sexta-feira. Amanhã, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados vai acionar o Ministério Público Federal para incluir Cláudio e Alex no programa de proteção a testemunhas.Além da dupla, a Corregedoria pretende ouvir também os agentes acusados de praticar a suposta tortura, bem como a delegada Martha, que atualmente está licenciada. Foi ela que anunciou ter encontrado na casa de Alex e Cláudio a mesma chave que abria uma das portas de serviço do apartamento onde viviam o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, a mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e a empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva, 58.
Os três foram encontrados mortos em 31 de agosto de 2009, no apartamentos 601/602 do Bloco C da SQS 113. Essas chaves, no entanto, são as mesmas recolhidas pela polícia no dia em que os corpos foram descobertos. A Corregedoria vai apurar se a prova foi ;plantada; na casa dos acusados para incriminá-los ou se houve erro grosseiro no curso das investigações.
Os depoimentos, entretanto, ainda não têm data para serem tomados. A prioridade dos investigadores é correr atrás de provas que materializem as suspeitas. Nos últimos dias, os policiais da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) estiveram na casa de Adriana Villela, filha do casal assassinado e principal suspeita até então. Além de documentos, eles recolheram objetos pessoais para serem analisados.
Os agentes encontraram ainda um diário e algumas cartas de Maria Villela endereçadas a Adriana, com relatos que podem ajudar na apuração do homicídio. A atitude de Adriana nos meses subsequentes ao crime também teria levado os investigadores a colocá-la no rol de suspeitos, dizem fontes da Polícia Civil. ;Foram cumpridos mandados de busca nas residências, mas o conteúdo das apreensões é reservado. Estamos trabalhando para produzir provas que demonstrem a autoria, mas o inquérito está tramitando em sigilo e não tenho muito o que acrescentar neste momento;, limitou-se a dizer o diretor-geral da instituição, Pedro Cardoso.
Novo titular
A exoneração de Martha Vargas já foi publicada no Diário Oficial do DF. A 1; DP agora é chefiada pelo delegado Watson Warmling. Ele deixou a 33; DP, onde havia passado cerca de um ano. Antes disso, esteve à frente da Delegacia de Repressão a Roubos (DRR).
Surpresas no caso
Em abril, as investigações do crime da 113 Sul deram uma reviravolta. Confira os principais acontecimentos do mês passado:
17 de abril:
; A Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) cumpre mandado de busca e apreensão na casa de Adriana Villela, filha do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69. Ela também presta depoimento no Departamento de Polícia Especializada (DPE), pela primeira vez na condição de suspeita de envolvimento no triplo homicídio. A participação de familiares no crime apareceu como uma das linhas de apuração dos investigadores desde que o caso chegou à Corvida, em dezembro do ano passado.
29 de abril:
; O Correio divulga com exclusividade o resultado de uma perícia que abalou a Polícia Civil do Distrito Federal. Um exame do Instituto de Criminalística da Polícia Civil comprovou que a chave que teria sido apreendida no lote onde viviam Cláudio José de Azevedo Brandão, 38 anos, Alex Peterson Soares, 23, e Rami Jalau Kaloult, 28, é a mesma recolhida pela própria polícia no apartamento do casal Villela, no dia em que os corpos foram descobertos. Em novembro do ano passado, os três foram acusados de participação no crime da 113 Sul. A polícia usou o objeto para mantê-los detidos por um mês como suspeitos do triplo homicídio. Agora, a Corregedoria da Polícia Civil vai investigar se houve erro grosseiro de investigação ou má-fé.
29 de abril:
; Responsável pelo início das investigações do crime da 113 Sul e pela apreensão da chave na casa dos suspeitos, a delegada-chefe da 1; Delegacia de Polícia, Martha Vargas, é exonerada do cargo. O diretor-geral da Polícia Civil, delegado Pedro Cardoso, concede entrevista em que reconhece os erros cometidos na investigação e promete rigor nas apurações. O delegado Watson Warmling assume a chefia da 1 ; DP.
30 de abril:
; A delegada Martha Vargas pede afastamento da Polícia Civil por um prazo de 30 dias. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e a Ordem dos Advogados do Brasil pedem rigor nas apurações e divulgam nota em que demonstram preocupação com o laudo da Polícia Civil e a possibilidade de os suspeitos terem sido torturados para confessar o crime.