postado em 03/05/2010 08:06
Domingo é dia de praticar exercício no Eixão do Lazer. Para todo lado, tem gente correndo, crianças brincando e pessoas andando de bicicleta. Mas na Asa Norte, há uma movimentação econômica paralela à diversão. Com a grande quantidade de gente que circula por lá, alguns comerciantes resolveram se aproveitar dos atletas de fim de semana para ganhar um trocado. A oferta de produtos é variada: coco gelado, isotônicos para esportistas, água mineral, castanhas, caldo de cana e até apartamentos.O carro-chefe dos vendedores são as bebidas refrescantes. É quase impossível encontrar comida rápida, como sanduíches e petiscos. Mas é possível achar, em alguns pontos, produtos típicos das feiras da cidade. Depois da série de exercícios, muitos moradores passam nas barracas montadas debaixo das árvores para comprar granola, xarope de cana, castanhas e outros produtos naturais. ;Todo domingo, depois da minha caminhada, não abro mão de comprar melaço para curtir o resto do meu final de semana;, conta o engenheiro Ailton Marques, 54 anos.
Os ambulantes são bem vistos pelos frequentadores(1). ;A organização desse tipo de comércio é ótima. Tem vendedores isolados e eles oferecem apenas itens para melhorar o desempenho dos atletas, como água. Seria um problema se vendessem churrasquinho e cerveja;, argumentou o administrador de empresas Basilio Rezende, 58 anos, que frequenta o Eixão todos os domingos.
O atendente de lanchonete Pedro Rodrigues, 28 anos, afirma que não existe demanda para esse tipo de comércio. Por lá, só passam atletas e famílias e o movimento tem o seu pico entre 8h e 13h. Há 12 anos, ele fica parado no mesmo ponto, na altura da 107 Norte, para fazer um dinheiro extra. Como um bom conhecedor da clientela local, revela que vende cerca de 140 cocos, 25 garrafinhas de água mineral e ainda alguns isotônicos para clientes fiéis. Mas ele já aprendeu que, para atrair mais consumidores, é preciso oferecer cadeiras e mesas de plástico.
Afinal, alguns moradores da região gostam de curtir o Eixão do Lazer sentados nas calçadas e debaixo das árvores, observando os que passam. Mas ninguém fica parado muito tempo. Os frequentadores gostam dos pontos comerciais para conversar com outros esportistas. Na barraquinha de castanhas de Cristiane de Andrade, 35 anos, por exemplo, o assunto em debate era a criação de uma pista exclusiva para os usuários de bicicleta. Todo mundo tinha uma opinião e diversas questões foram sugeridas para resolver esse e outros problemas que incomodam os usuários do Eixão Norte.
Outro grande ponto de discórdia são as barracas de corretores de imóveis, que se espalham pela Asa Norte a cada domingo. No Eixão, são cerca de sete pontos, explorados por diferentes imobiliárias. A maior parte das ofertas, entretanto, é voltada para o Setor Noroeste. O vendedor Gustavo Monteiro afirma que os negócios não são fechados no Eixão. Mas esse é um bom lugar para fazer contatos e para cadastrar possíveis interessados em comprar os apartamentos. ;Os moradores do Plano Piloto são o principal alvo para os corretores. Aos domingos, as pessoas estão com mais tempo para conversar;, justifica Gustavo. Apesar de não ter interesse em comprar imóveis no Noroeste, a professora Auxiliadora Bezerra, 62 anos, acha as barraquinhas e os panfletos das imobiliárias interessantes para ficar por dentro do mercado de apartamentos de Brasília. ;Se não estiver sujando o meio ambiente, tudo é valido;, justifica.
O agente de segurança Raphael de Sousa, 25 anos, passou a madrugada de domingo em uma festa de música eletrônica na Universidade de Brasília e só saiu de lá às 9h. Depois da curtição, resolveu passear pelo Eixão para tomar uma água de coco e para aproveitar o início do dia com quem praticava esporte. ;O clima é agradável para curar a ressaca da noite virada;, brinca Raphael.
1 - História
A movimentação de pessoas no Eixão do Lazer começou em novembro de 1980. Em março do ano seguinte, o projeto começou a ser realizado uma vez por mês, com o apoio da população. No início, as atividades esportivas eram organizadas pelos professores do Defer ; atual Secretaria de Esportes. O objetivo principal era fazer com que as pessoas descessem dos blocos e realizassem atividades físicas. Aos poucos, os professores foram encerrando as atividades e a população construiu o hábito de praticar esportes na rua. O Eixão do Lazer funcionou mensalmente por 10 anos, até que passou a ser realizado no formato atual, toda semana, a partir de 1991.